O CIRCO

Clarinha morava, com o pai, em um casebre de madeira na periferia de uma pequena cidade. Apesar de muito pobre era amada, pois nascera com uma doença congênita, Paraplegia Espástica Infantil, que surgiu devido lesões celebrais na hora do parto... Ela vivia presa à cadeira de rodas, que era seu único meio possível de locomoção. Apesar de ser muito bonita, estava sempre malvestida, por falta de recursos financeiros do pai...

A Mãe da garotinha morrera, por causa de complicações na hora parto e o pai era sua única família. Ele trabalhava como servente de pedreiro e, nem sempre tinha dinheiro para ajudar no vestuário, alimentação, tratamento e remédios para Clarinha. A menininha dificilmente sorria, pois onde morava não havia muita diversão. Ela gostava de ficar, na única janelinha da casa, com o seu olhar fixo em algum ponto da imensidão, a sonhar soltando pipas coloridas, que enfeitavam o céu, sem saber a simbologia do sonho...

Um certo dia, a garotinha estava na janela, como de costume, quando viu surgindo na estrada de barro, uma velha Kombi bem colorida, que anunciava um espetáculo de circo: “Atenção criançada, sou o palhaço Pimpão, domingo é dia de circo! Venham participar do grande espetáculo às 17h00 horas, quando o sol se pôr no horizonte.” A garotinha olha para o velho palhaço, com o rosto pintado e uma grande flor no chapéu e, logo ficou fascinada... Já era muito tarde quando seu pai chegou, mas a jovenzinha estava ainda acordada. Senhor Pedro, pai de Clarinha, foi logo perguntando:

- Minha filha, o que você faz acordada até altas horas? – Deixei leite e pão no fogão, você comeu?

Clarinha olha para o pai e carinhosamente vai falando:

- Papai, domingo é dia de circo! Eu queria ver o espetáculo.

- Minha menina, você sabe das nossas dificuldades, tanto financeira como de locomoção; você presa a esta cadeira de rodas. Vá dormir agora! Disse-lhe o Pai, com muita tristeza.

Senhor Pedro acomodou a garotinha na cama e, vai dormir no velho sofá, único local disponível da casa. Clarinha passou a noite quase toda chorando bem baixinho para o Pai não a ouvir. O sol já havia nascido quando Clarinha desperta e, vai tomar seu café da manhã. Na mesa tem um bilhete do Pai: “Minha filha, hoje é sábado! Eu chegarei mais tarde!” À noitinha ao chegar em casa muito cansado, o pai da garota beija a face da filha e vai logo falando:

- Minha menininha, eu trabalhei o dia todo no circo e, como pagamento, ganhei duas entradas para o espetáculo deste domingo. Clarinha não sabia o que dizer. Olha fixamente para o Pai, sabe que não pode se levantar da cadeira de rodas, mas estendeu seus bracinhos; ele a envolveu em um longo abraço e, choraram juntos...

- Chegou o domingo, o dia do grande espetáculo no circo. Clarinha pediu para seu Pai vesti-la com o melhor vestido. O Senhor Pedro foi empurrando a cadeira de rodas, pela estrada esburacada de barro, até onde o circo estava armado. Era um circo antigo, as lonas estavam velhas e desgastadas pela ação do tempo, tinha poucos animais e pouca gente trabalhando. Na entrada estava um garoto de Pernas de Pau, recepcionando os convidados e recebendo os ingressos. Para Clarinha tudo aquilo era fantástico. Ela olha para o alto e contempla o crepúsculo que tinge de vermelho a linha do horizonte... O Senhor Pedro deixa sua filha bem acomodada em frente ao picadeiro, já que a menina não podia se sentar na arquibancada. O olhar da garotinha era de fascinação, seguia cada passo dos vendedores de amendoim, pipoca, pirulito, picolé. O colorido vibrante do ambiente era só magia. Em poucos segundos, o velho palhaço entra no picadeiro, a criançada vai ao delírio e, a euforia é quebrada pelos gritos do palhaço:

- E o palhaço quem é?

E a garotada repetia em coro:

- É ladrão de mulher!

O senhor Pedro percebeu que a filha estava gritando e sorrindo. O momento era de pura animação. Neste clima, o picadeiro foi invadido por animais e pessoas: Um cavalo malabarista, dois cachorros com roupas de gente, um mágico que tirava um coelho da cartola, uma bailarina que andava na corda bamba, um trapezista suspenso no ar. Clarinha chorava de tanta alegria. O mais emocionante foi quando surge o leão, magro e velho, rugindo bem devagar. Mas ninguém percebeu, todos gritavam animados sem parar:

- O leão é o rei dos animais... ele é amigo da gente!

Um vendedor de balões coloridos, que parecia até um buquê suspenso no ar, ficou em frente da menina e deu-lhe de presente, um balão vermelho. Ela agradeceu e começou a chorar de emoção. A felicidade era tanta, que Clarinha parecia flutuar...

Já era noite, quando as cortinas se fecharam, as luzes se apagaram e o show terminou.

Os tempos se passaram... nunca mais a garota deixou de sorrir. Ela percebe nas pequenas coisas a grandiosidade que é viver e, o significado de sonhar soltando pipas coloridas. Clarinha, agora, sabe que é hora de tomar o controle da direção de sua vida, deixar os bons ventos soprarem em busca de mudanças.

Clarinha é exemplo de felicidade e superação.

Elisabete Leite – 29/05/2018

Elisabete Leite
Enviado por Elisabete Leite em 03/06/2018
Reeditado em 03/06/2018
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