Os dias iam passando, lindos e quentinhos, como a Borboleta gosta, pois enquanto dorme arrefece, fica à mesma temperatura do ar, é um Dom para nunca sentir frio.
Na sua barriga sentia urgência de poisar num ramo seguro, fazer um ninho de seda e nele por os ovinhos que a Natureza lhe dera, para que na próxima Primavera nascessem novas borboletas semelhantes a ela.
Assim fez.
Nesse dia não lhe apeteceu estender as lindas asas até que o calor do sol as aquecesse para voar.
Um ventinho frio fazia-a sentir-se sonolenta, tinha menos fome… ainda bem, porque havia menos flores!
Numa manhã cinzenta em que nem o Sol veio cumprimentar a Lua, a Borboleta vestiu o seu casaco mais quente, enrolou-se muito bem e prendeu-se num ramo para que o vento não a deitasse ao chão.
Aconchegadinha, deleitou-se num longo sono, esquecida de tudo, apenas sonhando.
… Sonhava com os dias de verão, com o brilho do sol, com as flores coloridas, cheias de néctar, com amigas de todas cores a dançar felizes em campos sem fim…
Sonhava também que, dentro do ninho, algo se movimentava e crescia: Os seus filhos.
O Instinto ensinou-lhe que os seus filhinhos não surgiriam prontos, com asas lançadas no vento!
Seriam pequeninos mas cresceriam muito depressa.
Para poupar energia não teriam asas, nem patas. O seu corpo roliço só queria comer folhas sem parar, até que ficasse pronto para a grande etapa da sua vida:
Ficariam dias e noites quietos, embrulhados em impermeáveis, enquanto dentro deles muitas coisas maravilhosas aconteciam, sem que ninguém visse
… Iam-se formando as patinhas, os olhinhos com que veriam as flores, a tromba que era como uma palhinha por onde sugariam o néctar, as grandes asas amachucada até que houvesse calor suficiente para fazer desabrochar as flores.
Então, despiria o pesado casaco de inverno, estenderia as asas húmidas que, muito devagarinho, se iriam desenrolando e secando até se elevarem no céu, buscando amavelmente as flores à sua espera.
E não é que o sonho da Borboleta aconteceu?!