FLORESTA ENCANTADA
Era uma manhã de outono. A estação em que o vento sopra, com mais intensidade, fazendo com que, na floresta, as folhas das árvores bailem no ar; quando estas mudam o seu verde, ficando amareladas, até que caem, a secarem, para dar lugar às novas, em, constante e quase infinita, renovação...
Nesta floresta, a paz é uma constante; e a bicharada descansa, sobre a relva, aproveitando a magia das noites de luar. Dizem que Fadas e Elphos habitam neste lugar, que é de um encantamento único, mágico (Sabe-se que as Fadas são os seres mágicos, femininos, porquanto delicados; e os Elphos são, como se, as mesmas criaturas, pelo lado masculino), e há, também, os Duendes, mais levadinhos, mas só em brincadeiras sem maldade. Os animais, habitantes daqui, são unidos... compartilhando as tarefas diárias, em uma comunidade organizada, onde todos vivem em total harmonia. O ambiente é pacífico e bastante acolhedor, não existe diferença entre grandes e pequenos, pois que todos convivem, em igualdade, na solidariedade, estando o Amor, em cada coração... e é este o maior encantamento deste lugar, que o diferencia dos demais.
Um certo dia... um forasteiro, Guaxinim, que estava, de passagem, por aquelas bandas, à procura de seu filhote desaparecido, resolveu pedir abrigo naquela floresta. Ele precisava descansar, pois fazia tempo que não dormia; estava muito preocupado, sabia que seu filhote se encontrava, com fome, frio e sozinho. Logo, ficou pensativo, pois desconhecia a quem devia procurar por lá... foi quando avistou de longe, um velho coelho que cochilava debaixo de uma árvore frondosa: um Jacarandá-da-Bahia. Ele aproveitava seu sono à sombra daquela espécie centenária, pois a mesma pode viver até 500 anos ou mais. O coelho, tinha um semblante tranquilo, parecia até sorrir, pois sonhava que estava se refrescando em uma enorme cachoeira, onde a água caia devagar, formando cristais coloridos, como se fosse um arco-íris, cintilando no céu, com suas diferentes cores: violeta, anil, azul, verde, amarelo, laranja e vermelho. O Guaxinim se aproximou do Coelho e, foi logo gritando:
- Ei Coelho, acorde!
O Coelho, apavorado pelo susto que levou e ainda atordoado pelo sono, falou, compassadamente:
- O senhor não tem educação, eu estava dormindo profundamente e, sonhava que me banhava em uma bela cachoeira, ouvindo o tamborilar dos pingos d’água nas pedras que ficam à margem... com o susto, eu quase me afoguei!
O Guaxinim nem prestava atenção no que o Coelho dizia; continuava gritando desesperadamente, sem parar:
- Preciso de abrigo, para pernoitar aqui. Com quem devo falar para pedir autorização?
- Primeiramente, bom dia amigo! A floresta não é propriedade de ninguém, pertence à Mãe Natureza. Aqui todos podem autorizar, não existe um único governante, pois somos uma comunidade unida e organizada, onde todos somam e se ajudam. Disse-lhe o coelho.
- Esquisito! Na floresta onde habito, com minha família, não é assim. Lá existe um único governante, o senhor Leão, os demais moradores são súditos e, precisam trabalhar para pagar a estadia. Respondeu-lhe o Guaxinim, meio chateado com a situação formada.
Naquele momento o velho Coelho, até chorava, suas lágrimas emaranhavam sua visão, dificultando-o de olhar firmemente para o amigo à frente.
- Por que choras Coelho? Perguntou-lhe o Guaxinim.
- Eu choro de tristeza, tenho pena dos animais habitantes da floresta onde o senhor mora. Respondendo-lhe o Coelho.
O experiente Coelho, continuava falando suavemente. Ele tinha o semblante acometido pelo sentimento de pena. Emitia palavras suaves, uma lição de vida para o Guaxinim.
- Amigo Guaxinim, aqui na terra somos todos iguais, perante nosso Deus, sem distinção de raça ou cor. É assim que funciona aqui na floresta, “um local de amigos para amigos”. E perguntou ao Guaxinim:
- Afinal, o que o trazes aqui?
- Preciso descansar, estou sem conseguir dormir a vários dias. Viajo à procura de meu filhotinho. Ele sumiu a semana passada, quando vinha da escola. Estou muito preocupado e preciso de ajuda para encontra-lo. Disse-lhe o Guaxinim.
- Mas isso não é problema. O senhor pode ficar, aqui, pelo tempo que precisar: Eu te darei abrigo, comida e uma cama confortável para descansar. Ao amanhecer, iremos, juntos, procurar seu rebento... te ajudarei no que for preciso. Tenho muita Fé, em nosso Deus, que está nos mais alto dos Céus. Vamos encontrar seu filhotinho, pois Deus tarda, mas não falta. Iremos encontrá-lo mais cedo ou mais tarde. Seu rebento pode ter se distraído, se encantado com as fadas e elfos que habitam por aqui. Esta floresta é pura magia! Disse-lhe o experiente Coelho.
E assim aconteceu: O Guaxinim foi acolhido, bem alimentado e dormiu profundamente, estava realmente muito cansado... o sol nem havia resplandecido no horizonte, quando os dois amigos saíram. Eles adentraram pela parte mais densa da floresta, à procura do filhote de Guaxinim. Vasculhavam os quatro cantos daquele lugar, até mesmo aonde o Coelho nunca havia pisado. Perguntavam a quem encontravam se haviam visto um filhote de Guaxinim passar por ali. Eles andavam rápidos e assim, foram soltando pedrinhas pelos caminhos, para demarcar o local de volta para casa.
Já cansados de tanto procurar, sem sucesso algum, resolveram parar para descansar um pouco, pretendiam recuperar as forças e, continuarem a jornada após o descanso. Assim, o Coelho aproveitou o silêncio que predominava... só se ouvia o gorjear das aves, em revoada, em busca de abrigo. Logo pôs-se a pensar: “Meu Deus ajude o filhotinho de Guaxinim, proteja-o de todos os males, conduzindo-o a um local seguro.” E quedou-se por minutos. Olhou em volta e viu o pai Guaxinim dormindo ao seu lado e, também, foi ficando sonolento. De repente, abriu-se, a sua frente, a visão de um portal, que dava passagem a um novo caminho, ele ficou deslumbrado com à cena, como em um passe de mágica, viu uma ponte suspensa no ar, era adornada por flores de diversos tipos e cores: rosas, madressilvas, margaridas e jasmins. Por entre ramos e flores, avistou uma luz incandescente, que ilumina o centro de um belo jardim. Aproximou-se, notou que eram fadinhas que cintilavam sem parar... viu que no centro do jardim estava o filhotinho de Guaxinim dormindo tranquilamente, os pontinhos de luz que iluminavam o lugar, pareciam luzes coloridas em período natalino. O sábio Coelho parou e agradeceu a Deus: Obrigado Senhor! Assim, tomou o filhotinho em seus braços, levando-o, em segurança, para o pai Guaxinim... Subitamente, o portal se fechou e, as luzes se apagaram. Ele despertou e viu o filhotinho em seus braços e viu, que seu amigo Guaxinim estava no mesmo lugar. Assim, disse-lhe suavemente:
- Amigo, acorde por favor! Seu filhotinho está comigo, sã e salvo.
- Um milagre aconteceu! Venha filho querido, vamos para casa, que hoje temos muito para agradecer a Deus e ao senhor Coelho, pela sua infinita benevolência. Disse-lhe o Guaxinim sorrindo.
Assim, pai e filhote, voltaram agradecidos e felizes para casa. Chegando em casa, o pai Guaxinim contou o que acontecera e, que havia pernoitado em uma floresta diferente, encantada, onde todos viviam em total comunhão... logo, os habitantes passaram a conviver em plena união, do mesmo modo da floresta, onde o sábio Coelho morava. Respeitavam-se entre si... e foram felizes para sempre, pois os ensinamentos do mestre Coelho serviram como lição a todos.
Até hoje, o velho coelho sempre conta, aos pequeninos habitantes da Floresta Mágica, a história daquela noite de outono... ele agora tem uma certeza: A floresta é realmente encantada, e ali, tudo podia acontecer... sua Fé foi mais forte que as adversidades.
São lições diárias da Escola da Vida!
Elisabete Leite – 19/03/2018