Ana e a bruxa

Capítulo 1

Era uma vez numa vila muito muito distante no tempo vivia uma garotinha que atendia pela nome de Ana, a vila onde viviam ela e o seu pai era extremamente pobre, por exemplo a única coisa que Ana tinha de seu era o vestidinho que carregava no corpo, nunca possuiu um brinquedo, aliás, nem sabia o que era um, claro que ela tinha também o seu gato, o Frederico, a onde quer que ia levava-o no seu colo, mas os gatos são seres independentes e não pertencem a ninguém mas isso a pequena Ana ainda não sabia. Frederico tinha um pelo tão amarelinho que quando corria parecia um raio de sol.

Os homens daquele lugar esquecidos de Deus e do mundo, viviam quase que exclusivamente do que a natureza provia, um ou outro mais abastado tinha uma rês de gado. Eles pouco sabiam de como haviam parado ali, uns diziam que os seus antepassados faziam parte de uma Missão que se perdeu, acabaram encontrando e se estabelecendo naquele lugar e talvez por preguiça nunca mais saíram.

Embora a maioria dos homens se dedicasse à caça, naquele lugarejo cada habitante tinha sua função específica, por exemplo, Antônio o pai de Ana era o encarregado de fornecer a lenha para os aldeões. As mulheres da vila por sua vez tinham que tirar água do poço da praça central.

O lugar ficava numa imensa depressão ao sopé de uma colina, não muito longe corria um riacho de formas tortuosas e águas turbulentas.

De longe ninguém perceberia que ali havia um vilarejo, pois era circundada por uma avenida de Álamos, que dava um ar de estranha perpetuidade, como se nunca fossem avançar no tempo.

Há muito tempo passou por aquelas bandas um grupo de ciganos, que causaram verdadeiros transtornos àqueles habitantes, pois quando partiram, aproveitando a penumbra da noite furtaram vários animais, causando muito prejuízo aos já muito pobres aldeões, mas ao menos deixaram uma gata prenhe que fez a alegria da criançada que nunca tinham visto este animal, todas ficaram alvoroçadas querendo levar o felino para casa.

Nessa época a Ana ainda não havia nascido, aliás, por essas coincidências do destino a esposa de Antônio falecera pouco tempo depois do episódio dos ciganos. Quando a gata deu cria, lembraram-se automaticamente da dor do viúvo e trataram de separar um dos seis gatinhos.

-Servirá como companhia a criança quando esta crescer. Disse uma velha.

Nada mais assertivo do que isso, o pai da criança aprovou instantaneamente a ideia. Portanto Ana cresceu junto com seu animalzinho de estimação, era indissociável a figura da criança com a do seu gatinho amarelo.

Quando alguns anos se passaram e Frederico já havia atingido a fase adulta, mas Ana ainda era uma criança, que o gato começou a se ausentar, passava dias fora da vila e quando isso acontecia Ana simplesmente não comia enquanto ele não chegava, quem quer que a visse nesse estado, concordava que era desolador.

-Qualquer dia desses a criança fica doente! Disse uma das muitas vizinhas que ajudava a tomar conta da garota.

-Qualquer dia desses eu dou é um fim nesse bicho! Respondeu Antônio sem muita convicção, até porque também gostava do bichano.

A Ana era uma menina muito esperta e apesar da pouca idade já corria por toda a extensão da pequena vila, até por conta disso o seu pai lhe asseverava, se o gato sumisse outra vez, que ela não ousasse sair dos limites da Vila.

Mas o amor das crianças pelos animais.... Ah, quem pode medir?

Foi então que...

Capítulo 2

Um vento forte soprou repentinamente desarrumando os seus cabelos que ficaram todos emaranhados, com muito custo a garotinha arrumou-os novamente, mas como prendê-los?

Lembrou-se que pela outra trilha havia um capinzal, foi por onde se dirigiu, tirou um talo grande de capim e conseguiu com a casca improvisar uma tira que prendesse o seu cabelo, agora podia voltar a olhar a vila que tinha deixado lá embaixo e perceber que a única coisa que a identificava era uma tripinha de fumaça que saia da chaminé de uma das casas. Nunca havia se distanciado tanto da sua casinha, lembrou-se do seu pai que a aconselhara tanto para que nunca saísse da vila.

Mas ela tinha que achar o seu gatinho, não voltaria enquanto não o encontrasse. Daquele ponto era muito mais fácil gritar por ele, talvez ouvindo o som da sua voz que se propagaria muito mais fácil dali do alto ele viria ao seu encontro.

Foi o que fez, gritou o mais alto que fosse, assoviou, fez de tudo, foi então que apurando um pouco mais o seu ouvido que Ana percebeu um miado muito distante, mais do que depressa ela foi na sua direção, não parecia se importar se fosse ou não se perder ao embrenhar-se tanto pela mata.

A cada passo que dava, o som do seu miado era mais alto, parecia que clamava pelo seu socorro. Mas, eis que ao entrar em uma clareira ela viu a verdadeira fonte dos miados: Um vulto negro de uma velha horrenda com a boca entreaberta, que ao ver a criança deu uma risada estrondosa que fez os cabelos da Ana se eriçar, seu coração enregelou-se.

Capítulo 3

Quando Irene desviou-se da estrada principal a cerca de 1 mês, nunca achou que ao sopé daquela montanha existia uma pequena vila, à noite visitou o vilarejo incógnita, percebeu que havia muitas crianças, queria muito as atrair para si, mas nunca fora agraciada pela beleza.

-Beleza, chama beleza, pensou. Os meus olhos rasgados, meu nariz adunco com uma verruga vermelha cheia de pelos nunca me ajudou...

Agora que estava velha conseguia estar pior ainda do que no passado. Desde criança, passando pela adolescência, sempre teve uma aparência pavorosa, mas achava, depois de ter lido em um certo livro que qualquer pessoa quando chegasse aos vinte e poucos anos estaria no ápice da beleza, portanto ela achava que sua aparência melhoraria nem que fosse um pouco. Mas era mentira, pois, ao chegar nessa faixa de idade a sua aparência física fazia era meter medo a muitos, o que a levou a se isolar cada vez mais das pessoas. Mas isolar-se só veio a agravar a sua situação, o pior ainda estava por vir; ela ganhou a fama de bruxa.

Uma das consequências mais funestas disso, foi o seu casebre ser alvo das inúmeras pedradas desferidas pelos garotos que passavam pela rua a mando dos pais.Tinha constantes pesadelos, onde era morta por uma turba de raivosos.

Foi então que ela tomou uma resolução; iria ganhar o mundo, não tinha familiares, amigos muito menos, nada que a impedisse.

Irene tinha um pavor enorme das histórias de bruxa que a sua mãe contava. Por que o destino é tão irônico? Por que a natureza era tão madrasta consigo? Perguntava-se sempre.

Uma a uma, todas as cidades a expulsava, todas as pessoas a viam como uma bruxa lançadora de feitiços. Apontava-a na rua, jogavam os cavalos sobre ela.

Isto lhe era tão aterrador, que aos poucos ela começou a deixar de aparar as unhas, que cresceram enormes e encaracoladas, o cabelo vivia desgrenhado, mas algo que não existia, mesmo a despeito de todo sofrimento já passado, um ódio inconteste a todo ser humano.

Ela nunca teve poderes de bruxa, mas de uns tempos para cá ela começou a perceber que tinha ganhado certos dons; começou a imitar animais com rara perfeição, primeiro foram os cachorros, logo após começou a imitar o balido das cabras, em seguida toda sorte de trinado de pássaros e agora por último os gatos.

Há muito que não se olhava no espelho, seu aspecto deveria estar de implantar medo no mais corajoso dos homens, pois ao ver...

Capítulo final

Ao ver aquela garotinha com os cabelos eriçados, que não conseguia mover um músculo sequer para fugir como as crianças faziam ultimamente, foi chegando cada vez mais perto foi então que percebeu um fio de xixi escorrer pelas pernas da menina, naquele exato instante ela sentiu uma profunda empatia por ela, por mais que Irene pensasse em se tornar má para devolver todo mal que recebia por onde quer que passasse, a verdade é, que ela não havia sido feita para odiar as pessoas, nesses últimos tempos bem que quis tentar cultivar um ódio pelas pessoas, mas como fazer mal a um serzinho como esse? Disse para si mesma olhando para os olhinhos assustados da criança.

-Eu vou leva-la para os seus pais, pensando bem, eu vou deixar que alguém faça isso por você.

Ao dizer isso foi até onde estava e retirou de dentro de um saco de estopa um gato laranja, que estava ao contrário do que poder-se-ia imaginar, extraordinariamente calmo.

Em seguida depositou o gato nos braços de Ana, ao que disse:

-Vou me embora, nunca mais aparecerei por aqui, não vou me arriscar a ir até sua vila. Você pode achar que está perdida e longe de casa, mas na dúvida minha querida, siga o seu bichano, eles nunca perdem o rumo das suas casas.

Ana ainda ficou um bom tempo com o seu gatinho nos braços enquanto aquela senhora idosa rapidamente sumia na floresta adentro, seus olhos estavam inertes, não querendo acreditar no que havia acontecido, só quando o seu gato miou chamando a sua atenção que ela despertou.

Lembrou-se das palavras da velha, soltou o seu gato que sem titubear pegou uma das várias trilhas que existia ali, rapidamente Ana segui-o, pois, a noite já se avizinhava, em pouco tempo conseguiram chegar sãos e salvos a Vila.

Fim

NÁSSER AVLIS
Enviado por NÁSSER AVLIS em 25/11/2017
Reeditado em 22/10/2018
Código do texto: T6181778
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