PONTOS DE VISTA
Quando criança, Carolina não sabia se cachorros latiam atrás de um automóvel porque relacionavam o motorista ao veículo em movimento ou acreditavam que o automóvel em movimento fosse um ser vivo autônomo roncador. Carolina passou a infância imaginando os pontos de vista dos cães: carros são criaturas luminosas; interagem com homens em seus estômagos; no meio da avenida à noite, os carros tem os olhos vermelhos acesos e quando fogem seus olhos são brancos; os seres humanos são mais simples porque atiram ossos e batem sapatos no chão.
Mas certo dia, Carolina voltava para casa quando uma moto trombou em um carro, o motoqueiro rolou por cima da lataria do automóvel e caiu aos seus pés. O adolescente sem capacete, levantou-se, mirou os olhos de Carolina e perguntou:
- Olha pra mim!! Eu tô inteiro?! Meu corpo tá inteiro?!
Na hora Carolina pensou nos cães ladradores, mais até, sentiu-se um deles. Até quis rir do olhar do corpo ali inteiro. Um verdadeiro cão deveria pensar: “motos sem capacetes não costumam falar”.
DO LIVRO: "TOUROS EM COPACABANA"