UMA GRANDE AVENTURA - IV

Estranhamente, já havia se passado mais de uma hora. Naquele lugar o tempo passava de forma diferente. Até hoje ninguém sabe por quê. Enquanto Kevin queria voltar imediatamente, Pedrinho punha os pés no riacho. Hikita gritou:

__ Não Pedrinho, não entre aí. Essas águas são sagradas e não se pode entrar aí sem pedir permissão aos deuses. São águas consagradas...

Mas antes de Hikita falar e Kevin se tremer todo de medo, Pedro corria por entre as pedras e acabou se escorregando. Bateu a cabeça na ponta de uma delas e deu um grande grito. Kevin gritava por socorro, escandalosamente e pedia que entrassem na água para retirar o amigo. Chamando por Pedro, ele não respondia. Um fio de sangue entre as águas manchou as pedras e caiu cachoeira abaixo. Os gritos, no entanto, eram inúteis. Ninguém os podia ouvir.

***

__ Será que os meninos estão se divertindo? Não os vejo, disse o professor.

Gustavo já os havia perdido de vista e começava a ficar preocupado. Procurou Kauaka:

__ Cacique, dois dos meus meninos sumiram. Não os vejo já a uma hora. Será que estão bem? Pedi tanto para não se afastarem...

__ Fique tranquilo, Hikita e Tituba estão com eles. São obedientes. Devem estar vasculhando abaixo na cachoeira. Lá não tem problema nenhum.

O professor deu um sorriso leve, mas ainda assim se mantinha um ar de preocupação. Os outros alunos estavam se divertindo com os macacos, com as aves, ouvindo histórias de uma velha índia que dava altas gargalhadas e faziam todos se divertirem.

Hikita pôs a mão à cabeça e gritava pelo garoto. Ele estava imóvel, os lábios esbranquiçados, olhos fechados. A menina que não podia entrar nas águas sagradas, estava já sendo empurrada por Tituba, por medo das maldições. Kevin, mesmo assustado, entrou nas geladas águas do riacho, andando devagar por sobre as pedras. Ao avistar de perto o amigo, sacudiu seu corpo. Este, não deu sinal de vida. Kevin começou a chorar porque havia perdido seu melhor amigo.

Hikita corria, acompanhado por Tituba, para avisar a tribo. Sentia muito medo só de pensar em ter que contar a Kauaka que haviam entrado no riacho sem permissão. Assustaram-se ao sair da mata e perceberem que já era noite. O tempo realmente tinha uma maldição na mata, ele enganava os forasteiros para que se perdessem, em caso de tentativa de explorar ou destruir o local. O ritual do tempo só era quebrado com a oração que o pajé fazia antes de entrarem. Hikita descumpriu uma das principais regras da tribo: jamais entrarem na mata ou no riacho sem a permissão.

LUCAS FERREIRA MG
Enviado por LUCAS FERREIRA MG em 28/08/2017
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