Certificado de Premiação
Há muito tempo eu me conheço.
Conheço-me, dançando na chuva,
Pisando na lama, ainda criança, mas muito danada.
Me lembro colhendo flores no campo, pegando na enxada.
Comendo que vejo, chupando laranjas com bagaço e tudo.
Me lembro das birras querendo pão de coco, vindo da padaria do
Seu Raje; de tão gostoso que era só ficava os farelos que apenas
Sobravam. Nem meus outros irmãos se quer comiam. Eu
Era travessa nas ruas, junto aos meninos que muitos gritavam.
Na escola espalhava respostas que vinha do Norte de minha garganta
Que logo soava o castigo no sol, de joelhos dobrados escrevendo
A, E, I, O, U,
Cinquenta vezes.
Mas, nem assim eu não quis aprender que os professores ensinavam.
Me lembro que brincava com bonecos de sabugos de milhos, que da fazenda que papai plantava.
Me lembro das comidinhas de areias que muitas meninas eu ensinava com as panelinhas feitas de barro que o sol de verão castigava.
Me lembro que olhava o vento que soprava na minha cidade, derrubando telhados, e enchentes levava.
Me lembro da minha primeira comunhão já grandinha, mas nunca entendia o que significava para tanto ouvido o povo exclamavam:
É hora de festa, é hora de hóstia, é hora de começar o começo de uma história menino Jesus!
Me lembro que meu pai me olhava, com seus olhos que logo eu desconfiava.
Me lembro das brincadeiras na sala jogando papel com beijos para meninos que tinha minha idade.
Eu sempre sorria e escrevia, poesia inventada para que todos rissem de minhas palhaçadas. Já gostava de escrever minhas poesias que todos da sala invejavam.
Assim fui crescendo e me conhecendo, aprendendo todos os dias uma nova personagem.
Nessa nova estrada que só vai terminar quando Deus quiser. E ele quer...
Quando findava o ano, o certificado de premiação que eu tanto esperava, me reprovava.
Angelly Negreiros
Há muito tempo eu me conheço.
Conheço-me, dançando na chuva,
Pisando na lama, ainda criança, mas muito danada.
Me lembro colhendo flores no campo, pegando na enxada.
Comendo que vejo, chupando laranjas com bagaço e tudo.
Me lembro das birras querendo pão de coco, vindo da padaria do
Seu Raje; de tão gostoso que era só ficava os farelos que apenas
Sobravam. Nem meus outros irmãos se quer comiam. Eu
Era travessa nas ruas, junto aos meninos que muitos gritavam.
Na escola espalhava respostas que vinha do Norte de minha garganta
Que logo soava o castigo no sol, de joelhos dobrados escrevendo
A, E, I, O, U,
Cinquenta vezes.
Mas, nem assim eu não quis aprender que os professores ensinavam.
Me lembro que brincava com bonecos de sabugos de milhos, que da fazenda que papai plantava.
Me lembro das comidinhas de areias que muitas meninas eu ensinava com as panelinhas feitas de barro que o sol de verão castigava.
Me lembro que olhava o vento que soprava na minha cidade, derrubando telhados, e enchentes levava.
Me lembro da minha primeira comunhão já grandinha, mas nunca entendia o que significava para tanto ouvido o povo exclamavam:
É hora de festa, é hora de hóstia, é hora de começar o começo de uma história menino Jesus!
Me lembro que meu pai me olhava, com seus olhos que logo eu desconfiava.
Me lembro das brincadeiras na sala jogando papel com beijos para meninos que tinha minha idade.
Eu sempre sorria e escrevia, poesia inventada para que todos rissem de minhas palhaçadas. Já gostava de escrever minhas poesias que todos da sala invejavam.
Assim fui crescendo e me conhecendo, aprendendo todos os dias uma nova personagem.
Nessa nova estrada que só vai terminar quando Deus quiser. E ele quer...
Quando findava o ano, o certificado de premiação que eu tanto esperava, me reprovava.
Angelly Negreiros