Estrelinhas das virtudes
Texto adaptado do Livro: Contos e Lendas Orientais – Malba Tahan
Capítulo - I -Conversa informal com Deus
Capítulo - II - Visitas inesperadas
Capítulo - III - A verdade em sala de aula
Capítulo - I V- A alegria está presente também
Capítulo - V - A fraternidade presencia uma campanha
Capítulo - VI -Triste realidade
Capítulo - VII- Chamada ao céu
Epílogo – Encontro com a esperança
Capítulo - I -Conversa informal com Deus
Num belo anoitecer, lá estava Deus rodeado de estrelinhas. Algumas delas curiosas por saber algo mais sobre a vida na Terra.
Dotado de uma paciência que só ele tem, Deus explicava como havia criado o nosso planeta e com quais objetivos. E assim ele dizia:
_Criei tudo o que existe no Universo, inclusive o planeta Terra.
_E o que existe de bom por lá? Perguntou-lhe uma das estrelinhas.
_A Terra é um verdadeiro paraíso! A natureza nela trabalha com muito esmero e carinho.
Na época da primavera, os jardins são verdadeiros arco-íris.existem flores de todas as cores, isso sem contar com a variedade de animais que lá existem. Dentre eles, os pássaros são os meus preferidos, pois, além da beleza de suas plumagens, têm o seu canto maravilhoso!
_ Deve ser muito interessante mesmo a vida na Terra! Disse uma delas.
_Mas o que é primavera, perguntou outra mais curiosa ainda?
Interrompendo o raciocínio, Deus foi explicar o que era a primavera, bem como as outras estações climáticas que caracterizam o clima no planeta, como o verão, outono e inverno. Explicou ainda, que as mesmas acontecem em forma de ciclos periódicos, durante os trezentos e sessenta e cinco dias. Período que compreende o ano, no calendário cristão, e o tempo necessário que a Terra demora para completar a volta em torno do sol.
Voltando as explicações primeiras...
Para vocês terem uma ideia, disse Deus: _Existem desde seres microscópicos até os imensos elefantes que são animais que pesam toneladas. E tem mais, na Terra, já existiram uma série de outros animais gigantescos, denominados de dinossauros. Alguns deles eram carnívoros, ou seja, alimentavam-se apenas de carne. Outros, eram herbívoros, só comiam vegetais, no entanto, assustavam do mesmo jeito, devido ao tamanho exagerado, e a aparência grosseira da pele.
_Esquisito, disse uma estrelinha, olho tanto lá para a Terra e não consigo ver nada disso que o senhor nos conta!
_Sim, é porque vocês estão muito distante dela para enxergar!
_Conte mais Senhor, pediu uma estrelinha muito atenta às novidades.
_Bem... Na Terra existe o “homem”, o ser mais importante que lá reside.
Homem ? _perguntou uma estrelinha. Isso é animal ou planta?
_ Animal, disse Deus. Mas a ele eu dei a consciência, por isso ele é diferente dos demais.
_ Como assim? _ perguntou-lhe outra curiosa.
_ Os animais dos quais lhes falava há pouco, agem pelo instinto, enquanto o homem, dotado de uma mente consciente, é capaz de pensar antes de agir, ou seja, o homem sabe que existe e porque que existe.!
_ E porque ele é tão especial? Perguntou outra estrelinha.
_ Ah! _ disse Deus, ele é especial porque em seu interior abriga a parte mais pura da sua estrutura, o seu lado espiritual. Sim, eu havia esquecido de lhes revelar algo muito importante! O homem é dual, ou seja, ele é formado por duas partes: uma, material, e outra, espiritual. A primeira é como uma casa, que embora receba todos os cuidados de reparos e pinturas, um dia ela se acaba. A segunda, o seu lado espiritual, essa é infinita! Posso até dizer, que é um pedacinho de mim que está em cada um deles.
Quer dizer, disse uma delas, que até mesmo lá na Terra, que nos parece tão distante, o senhor está presente?
_Sim. Estou presente em tudo o que existe no Universo. Mas como eu ia dizendo...Criei o homem, e a ele dei essa consciência para que fizesse bom uso dela, vivendo em harmonia e respeitando o seu meio ambiente e tudo o que nele estivesse, mas infelizmente isso não acontece! Muitas vezes ele faz coisas erradas que me entristece!
_Mas todos eles são assim ruins?
_Não. Ainda bem que não! Existem uns poucos que usam a inteligência para o bem da humanidade, e isso me deixa mais tranquilo e esperançoso, de que um dia todos serão bons ao ponto de viverem fraternalmente e em paz.
Muito entusiasmada, uma estrelinha disse:
_Que tal se fôssemos visitar a Terra para vermos de perto tudo o que acabamos de ouvir?
_Não! Disse Deus. É impossível! Quando criei o Universo coloquei cada coisa no seu devido lugar, e o de vocês é aqui em cima, brilhando sempre no infinito!
_Mas Senhor! Deixa-nos pelo menos por alguns instantes, ou uns dias...um só bastava!
_Não! Eu já disse que não podem. Onde já se viu estrelas circulando entre os homens?
Mas foram tantos os pedidos e o chororô, que Deus acabou cedendo.
_Está bem, mas que seja por pouco tempo. Não demorou muito, e lá estavam elas de malas prontas.
Capítulo - II Visitas inesperadas
Com o consentimento de Deus, cinco estrelinhas se atreveram e resolveram nos visitar. Deus decidiu transformá-las em lindas garotas, para que não chamassem tanto a atenção e pudessem transitar a vontade aqui na terra. A transformação aconteceria no momento que aqui chegassem. Nessa noite, cinco estrelinhas cadentes desceram ao nosso planeta. Assim sendo, as estrelinhas da Bondade, Alegria, Fraternidade, Verdade e Esperança se fizeram presentes entre nós por algum tempo.
Quando aqui chegaram cada qual ”desceu” num lugar.
A primeira de que tivemos notícias, foi a Estrelinha da Bondade. Caiu num pequeno bosque, onde a natureza era tal e qual a descrita por Deus. Maravilhada não se cansava de admirar e tocar nas flores dizendo:
_Que colorido!
_Que perfume!
_Quanta beleza num só lugar!
Assim nesse estado de êxtase e cansada, fechou os olhos e adormeceu. Mas pareceu que foi pouco o tempo, pois ouviu um canto triste que a despertou imediatamente. Ao abrir os olhos se deparou com um garotinho, carregando em uma das mãos uma gaiola. Nela estava aprisionado um passarinho, dono daquele canto triste que ouvira há pouco. Na outra mão, trazia ele uma arapuca, uma espécie de armadilha para pegar principalmente pássaros.
Sem ao menos se importar com a presença da Estrelinha da Bondade, colocou os objetos que carregava no chão e tratou logo de armar a arapuca. Com todo cuidado, colocou a gaiola bem próxima da armação para servir de isca para os próximos prisioneiros. Escondeu-se por trás de um arbusto e ficou na espreita. Por ironia do destino, meia hora se passou e nenhum passarinho se aproximava.
Aborrecido, tirou do bolso traseiro um estilingue, ou baladeira, assim como é denominado em algumas regiões, e começou a fazer mira num pintassilgo que acabara de pousar num galho da árvore.
Indignada com tudo o que via, mas consciente de que não podia interferir na situação, ficou de longe observando. Mas agora ele já estava passando dos limites, atirava pequenas pedras em qualquer pássaro que voava por perto. Ia lhe chamar a atenção, quando viu surgir um garoto.
O recém - chegado, observando a cena do garoto malvado foi logo perguntando:
_Qual é o seu nome?
_Cláudio, respondeu-lhe o menino, já meio enfezado.
Quem é você?
_Meu nome é Kempes, e sou novato aqui no bairro. Para ser mais preciso, mudei-me ontem a tarde, e cá estou a passear para conhecer a vizinhança!
_Logo vi, disse Cláudio, nunca o tinha visto mais gordo, mas agora chega, vá saindo do “pedaço” que está me atrapalhando e voltando-se para a árvore, continuou a mirar o passarinho, até que novamente foi interrompido por Kempes:
_O que você está fazendo?
_Não percebe que quero acertar naquele passarinho?
_Mas isso é errado, Cláudio!
_Errado é você me perturbar. Saia já daqui. Se você espantar o passarinho, eu acerto é em você!
_Precisa me escutar, disse Kempes. Isso não se faz! Esse animalzinho tem o mesmo direito de viver que você!
Cláudio nem se virou, parecia estar sozinho, mas o garoto continuou com o seu discurso:
_Deus criou a natureza e tudo quanto existe nela, e com certeza ele não gosta que maltratem a sua criação.
_Kempes desesperado, procurava novos argumentos, quando de repente Cláudio se virou e disse:
_É, sabe que você tem razão? Eu nunca tinha pensado assim, e olha que eu caço passarinho já faz um tempão!
Já mais tranquilo, Kempes convidou o mais novo amigo para sentar-se no chão enquanto dizia:
_Então amigo, é preciso saber que, “Aquilo que não gostamos que nos façam, jamais devemos fazer aos outros”.
_Agora estou entendendo melhor, disse Cláudio.
_Se entendeu de verdade, deve começar por soltar este pobre animalzinho que trazes preso nessa gaiola! Os pássaros foram criados para viverem soltos e enfeitar a natureza e nos presentear com o seu canto maravilhoso!
_Eu entendi muito bem o que você me ensinou, só tem um porém, vou soltá-lo lá do outro lado do riacho, foi lá que eu o capturei.
Com receio de uma recaída, Kempes sugeriu que o soltasse logo. Com certeza, o pássaro acharia o caminho de volta.
Antes de ir embora, Cláudio abraçou o mais novo amigo e prometeu no dia seguinte, apresentá-lo aos garotos do bairro.
Kempes em silêncio, agradecia a Deus por ter conseguido mostrar ao amigo o
_caminho certo a seguir, quando percebeu uma linda criatura que o observava e encaminhava-se na sua direção. Assim que se aproximou lhe estendeu a mão dizendo:
_Parabéns!, você conseguiu fazer com que a bondade reinasse no coração daquele garoto!
_Quem é você? Perguntou Kempes com os olhos arregalados!
_Eu sou a Estrelinha Bondade!
_Estrela na terra?
_Sei que é estranho, mas estou aqui por concessão de Deus.
_Explique-se melhor. Não estou entendendo nada!
Estava Deus a nos falar sobre a terra, quando eu e outras amigas estrelinhas, imploramos para vir aqui, e ver de perto a sua criação neste planeta. E aqui estou!
_ É no mínimo estranho, mas me diga, o que está achando?
_Diante de tudo o que presenciei, acredito que o Planeta Terra, está melhor do que Deus imagina. O que você fez foi muito bonito! Continues assim, fazendo com que a luz da bondade ilumine sempre o caminho do homem na Terra!
De braços dados, saíram a confabular sobre essa virtude tão necessária a nossa vida.
Mas e as outras estrelinhas, como terão se saído?
Capítulo - III - A verdade em sala de aula
Num dia comum como outro qualquer, Dona Felícia corrigia os deveres de casa dos seus alunos, e pelo semblante as coisas não iam muito bem. O motivo é que até aquele momento, nenhum aluno havia acertado as atividades passadas. Meio desanimada continuou a sua tarefa corretiva, já sabendo da necessidade de reforçar aquele conteúdo. De repente se alegrou...Larissa, uma de suas alunas tinha acertado tudo. Deu-lhe os parabéns e mostrou o seu caderno como exemplo para toda a classe:
_Fiquei feliz Larissa, que você tenha aprendido a lição, mas como os seus coleguinhas não se saíram muito bem, vou revisar o conteúdo todo.
Assim dizendo, voltou-se para o quadro e deu início à revisão. Pouco tempo depois Larissa a interpelou dizendo:
_Professora, tenho um segredo para lhe contar...
_Fale Larissa, estou as ordens.
_Quero lhe falar um segredo, mas tem que ser ao ouvido, disse a menina.
Abaixando-se, a professora escutou com paciência, e após ter conversado com Larissa, pediu a atenção da turma:
_Com o consentimento da Larissa, vou lhes contar o que ela me revelou. Larissa mentiu ao afirmar ter feito o dever de casa sozinha, na verdade, quem o fez foi seu irmão!
A turma não se conteve e começou a ovação. Chamaram-na de mentirosa e pediram punição por tal ação.
A professora imediatamente contestou frisando que, a “verdade não merece castigo”!
Neste momento, surge a Estrelinha da Verdade, que até então observava tudo através da janela da sala de aula.
_Quem é você? A turma toda perguntou em coro.
_Sou a Estrela da Verdade.
_Estrela da verdade? Perguntaram. _E o que está fazendo aqui? Lugar de estrelas não é no céu?
_Eu sei, mas estou aqui em visita, quero ver de perto como é que vocês vivem! Aliás, quero aproveitar o momento para parabenizar a Larissa, pois ela teve a humildade de reconhecer o próprio erro e diante da professora, contou a verdade que agora todos vocês já conhecem! Ela agiu corretamente. Que isso sirva de lição para todos vocês!
“Procurem sempre lembrar que a mentira é como um castelo de areia na praia; quando a onda vem, o desmancha; no entanto, a verdade é como um castelo de rochas, sobrevive a tudo”.
Admirados com os ensinamentos e com a sua beleza, os alunos a rodearam e começaram uma bateria de perguntas:
_Você é mesmo uma estrela?
_Está gostando da Terra?
_O que você gostou mais daqui?
Respondendo a todas as perguntas feitas, a Estrelinha da Verdade satisfez a todos e disse o quanto estava feliz por constatar que havia na Terra pessoas boas, cuja luz da verdade servia de guia para as suas ações!
Nesse momento tocou a sineta avisando a hora do intervalo. E lá se foi a nossa Estrelinha brincar com as crianças e matar a curiosidade que ainda fervilhava, até entre os adultos.
Capítulo - I V- A alegria está presente também
AS
Num Planeta gigante como é a Terra e num país imenso como o Brasil, observa-se inúmeras contradições...Enquanto em algumas Regiões mais pobres alguém passa fome, no Rio – a “Capital do carnaval”, tudo é alegria. Ninguém se preocupa com esse problema. Os foliões esquecem tudo o que de ruim existe no seu dia a dia, e aproveitam para desopilar nos dias da festa. E foi exatamente lá que a Estrelinha da Alegria caiu! Em pleno carnaval, no Sambódromo!
Diante de tanta alegria a pobre estrelinha se sentiu extasiada e nem sabia para que lado olhar, pois a folia era grande!
Entrou no samba mesmo sem querer, pois a música era contagiante! Pulando no meio da multidão aqui acolá fazia perguntas aos foliões, que sem parar de sambar, iam matando a curiosidade dela. E não cansava de perguntar:
_O senhor, o que acha dessa alegria?
_É o máximo, acho que o carnaval tinha que acontecer todos os dias!
_O que é carnaval?
_Você está tirando onda comigo? Perguntou o folião antes de responder:
_Carnaval é isso que você está fazendo...pulando, dançando, cantando...
_Quer dizer que carnaval é alegria?
_Lógico garota! Carnaval sempre foi e será só alegria!
_É, já que não estou entendendo muito bem a situação, vou aproveitar e cair nessa alegria...Para falar a verdade, não pensei que os homens fossem tão alegres! E saiu cantando: Ô jardineira porque estais tão triste...
Capítulo - V - A fraternidade presencia uma campanha
Passado alguns dias, tivemos notícias de outra estrelinha...
Caindo em pleno sertão nordestino, a Estrelinha da Fraternidade se depara com algo curioso que chama sua atenção. No centro da cidade, grupos de pessoas se formavam, uns carregando megafones, outros com cartazes com os seguintes dizeres:
_”S.O.S. aos irmãos que passam fome devido a grande estiagem que enfrentamos”.
Admirada, foi se chegando para ver mais de perto do que se tratava. Em pouco tempo descobriu que o objetivo da Campanha da Fraternidade daquele ano, era “S.O.S. a quem tem fome”, e como a seca estava castigando demais a região, resolveram sair pelos bairros solicitando daqueles que podiam ajudar, algum alimento não perecível para os flagelados da seca!
Muito animada, juntou-se aos grupos. Assim pode presenciar de perto o desenvolvimento dos trabalhos. Observou que durante a coleta de alimentos, que alguns doavam porque viviam na fartura e tinham sobrando, mas outros tantos, repartiam o pouco que tinham no intuito de dar a sua contribuição. Assim foi durante todo o dia. No final da tarde, reunidos na praça central, mesmo cansados da maratona, avaliavam o resultado dos trabalhos. Estavam todos tão envolvidos nessa tarefa, quando alguém percebeu a Estrelinha da Fraternidade, e curioso foi dizendo:
_Não conheço você, em que bairro mora?
_Sou a Estrelinha da Fraternidade e moro lá no infinito.
_Como? Uma estrelinha? E o que faz por aqui? Isso não pode ser? É totalmente impossível...
Pode sim, tanto é que aqui estou, e diga-se de passagem, maravilhada com o trabalho que vocês estão fazendo!
_Mas o que faz por aqui no nordeste?
_Estar aqui no nordeste foi casual, mas o fato é que, eu e outras amigas, pedimos a Deus para vir até a Terra, para vermos de perto como vocês vivem. E aqui estou.
Mas voltando ao assunto... Se todos procurassem dividir o que têm com os que precisam, esse mundo seria bem melhor!
É Dona Fraternidade, um dia chegaremos lá, mas enquanto isso, acho bom irmos para casa descansar, pois amanhã outros bairros teremos que visitar. A senhora vai nos acompanhar?
Não posso, já estamos aqui há alguns dias e temos que voltar para o céu, mas vou feliz por saber que existe fraternidade entre os homens! Assim dizendo se despediu dos grupos.
Capítulo - VI -Triste realidade
Depois de andar muito numa estrada árida, onde o que os olhos enxergavam era apenas garranchos de matos secos, de longe a nossa última estrelinha avistou um vilarejo e na entrada, uma árvore verde. Pensou até que fosse miragem, pois o sol estava escaldante àquela hora do dia e não estava enxergando mais nada a sua frente. Apressou o passo. E assim que se viu na sombra, soltou pesadamente o corpo no chão. Entorpecida pelo cansaço, já estava quase a cochilar quando percebeu uma cena chocante!
Numa casinha bem humilde, próximo de onde ela estava, algumas crianças choramingavam olhando para o final da rua. Isso em pleno sol do meio dia!
Preocupada, resolveu ir até lá para saber o que estava acontecendo. Com a desculpa de pedir um copo de água, chegou mais perto da porta e disse:
_É possível me arrumar um copo de água?
Pois não Dona, a senhora está com sorte, pois isso é tudo o que tenho em casa!
Num instante ela voltou com a água. Enquanto bebia observou a pobreza daquela casa e a situação daquelas crianças que curiosas a olhavam. Assim que sorveu toda água perguntou:
_Por que essas crianças choram?
_Estão com fome, e como eu disse, hoje eu só tenho água para oferecer. Entre, saia do sol.
Aceitando o convite, a Estrelinha da Esperança sentou-se numa cadeira e puxou conversa com a dona da casa...
Enquanto a senhora contava a sua triste história de dificuldades, pois o marido estava desempregado e já não sabiam mais o que fazer para alimentar aos filhos, de repente o choro parou e as crianças saíram correndo para encontrar com um homem que vinha se arrastando no sol quente!
Entrou na casa tão tristonho e para dizer a verdade, pelo semblante, não se sabia qual deles sofria mais!
Entregando meio quilo de feijão à mulher disse:
_Foi tudo o que consegui hoje.
_Amanhã será melhor disse a estrelinha!
_ Assustado perguntou: Quem é você? Se for cobradora, pode voltar outro dia, pois hoje só arrumei esse bocado de feijão em troca da limpeza de uma calçada.
_Calma, não sou cobradora, sou a Estrelinha da Esperança!
_Esperança? Qual é Dona? Diga logo o que veio fazer aqui na minha casa?
Estou aqui em visita. Queria ver de perto como era a vida de vocês.
_Pois é, agora já sabe, aqui as coisas não estão nada bem!
_Estou vendo, mas percebo que o senhor anda meio desesperançado com a vida!
_A senhora espera o que de mim? Felicidade? Só sabe quem passa, Dona! Sabe o que é sair todos os dias durante um mês, batendo de porta em porta, em busca de trabalho, e só receber, ”não”? Pois é!
_Sei que o senhor tem razão, mas tenho comigo uma ideia...Em primeiro lugar, acabe de vez com esses pensamentos negativos.
_Como? Olho ao meu redor e só vejo miséria...
_Vamos fazer um trato, daqui para a frente, mesmo quando a situação estiver feia, o senhor jamais esmorecerá, pensará sempre numa boa solução para o problema.
_Só não sei como fazer isso?
_É fácil, continuará a procurar emprego, mas todas as noites antes de adormecer fará o seguinte:
_De olhos fechados, criará em sua mente a situação desejada, ou seja, se quer um emprego, deve imaginar-se pedindo o mesmo, recebendo um sim, trabalhando satisfeito e ao chegar o final do mês, recebendo o seu salário.
_Mas isso é um sonho!
_É como se fosse mesmo um sonho, mas é assim que vivemos a nossa realidade. Tudo começa na nossa imaginação. É preciso idealizar e ser perseverante!
_Dona menina, já estou feliz só de te ouvir, a senhora é milagreira mesmo!
_Satisfeito da vida, virou-se para a esposa e pediu que colocasse o feijão no fogo, pois com certeza, dias melhores viriam!
_Até a mulher se sentia feliz e abraçando a estrelinha disse:
_A senhora é boa mesmo, fez voltar a esperança aqui em casa, mas seria tão bom que visitasse também outras famílias que estão na mesma situação nossa.
_ Quer dizer que essa história acontece com outras famílias também?
_Ora senão!
Preocupada com a nova situação, a Estrelinha da Esperança resolveu o seguinte:
_Não voltarei ao céu. Ficarei por aqui e ajudarei os que de mim precisarem. Vou precisar da ajuda de vocês!
_ Mas no que podemos ajudá-la?
_Vocês podem levar uma palavra de esperança aos seus irmãos.
_Claro, faremos tudo o que estiver no nosso alcance.
Após despedir-se deles, a Estrelinha da Esperança saiu pelo mundo afora incentivando a esperança, naqueles que não a tinham.
Capítulo - VII- Chamada ao céu
Nem é preciso dizer o quanto eufóricas estavam as estrelinhas ao chegarem no céu. Queriam todas a uma só vez, contar as novidades.
Deus, muito paciente disse:
_Chamarei uma de cada vez para me contar as novidades vividas na Terra.
_Bondade, conte a todos nós o que você viu lá na Terra.
_Ah Senhor! A Terra é de fato um paraíso como disseste. Tudo é maravilhoso! E o mais interessante é que lá existem pessoas boas. Pude ver de perto que a bondade é uma virtude praticada entre os homens!
Fico feliz em saber disso! Mas e você Verdade, o que tem a nos dizer?
_ Senhor, também presenciei a prática da minha virtude! Foi emocionante a visita à Terra. Descobri que a verdade prevalece à mentira.
_Fraternidade, diga o que sentiu em relação as pessoas do Planeta Terra?
_Assim como as minhas amigas, também observei a fraternidade presente no coração das pessoas. Acompanhei um trabalho que estava sendo realizado, e confesso, achei espetacular. Você acredita que tem inclusive um período do ano que eles trabalham em prol da Fraternidade? Acho até que esse sentimento de irmandade, está quase ao ponto em que almejas meu Senhor! _Isso é deveras animador disse Deus! Mas vamos ouvir a Alegria, pois ela quase não se contém na espera da sua vez!
_É isso aí Deus, realmente estou ansiosa por dizer que vivi momentos de total alegria. Acredita que caí numa alegria chamada “carnaval”? Lá ninguém fica triste, tudo é alegria. Eu aprendi até uma canção nova. Quer ouvir?
Antes mesmo que Deus aceitasse, ela começou a cantar: _ Ô jardineira por que estás tão triste...
_Não Alegria, agora não, talvez mais tarde quem sabe...Vamos ouvir o que a Esperança tem para nos contar.
Mas o silêncio se fez presente. Todas ao mesmo tempo olharam para trás em busca da amiga, mas ela não estava lá. Haviam esquecido a Esperança lá na Terra.
Desapontado com o esquecimento das estrelinhas, Deus sugeriu que elas voltassem à Terra, e a trouxessem o quanto antes.
Lamentando o esquecimento e justificando ao mesmo tempo, lá se foram as estrelinhas...
Epílogo – Encontro com a esperança
De volta à Terra, e sempre juntas para não se perderem uma das outras, elas procuraram pela Esperança, por toda a parte e nada de encontrá-la. Desanimadas e Já cansadas, pois a noite não tardava a chegar, resolveram parar um pouco e pensar de forma mais lógica uma outra solução de busca, quando viram uma multidão e decidiram chegar mais perto. Para a alegria das estrelinhas, lá estava ela discursando animadamente para as pessoas. Empolgada dizia:
_Amigos, a esperança é o verdadeiro impulso da nossa vida! Ai de nós se não a sentíssemos. É ela que nos sustenta nos momentos mais difíceis por que passamos. Ela nos inspira a almejar e trabalhar para um futuro de paz para toda a humanidade!
Nesse meio tempo, surgem as amigas que pedindo licença, foram abrindo atalhos até ela. Quando a alcançaram, emocionadas, se abraçam. Passados os primeiros instantes do reencontro, as amigas a alertam da necessidade de retornarem ao céu, pois Deus reclamava a sua presença.
_Está bem, irei, disse a Esperança, não devia ter ficado sem antes conversar com Deus. E despedindo-se das pessoas, voltou ao céu. Lá chegando Deus lhe perguntou:
_ Por que se atrasou?
_Não me atrasei Senhor! Simplesmente achei que podia ficar por lá. Desculpe a minha falha! Mas agora peço o vosso consentimento.
_Mas isso não é possível, e vocês já sabiam. Cada ser criado por mim, possui um lugar certo no Universo, e o de vocês é aqui!
_Sim, eu sei dos seus propósitos, mas ao chegar por lá, senti também que o meu lugar devia ser lá na Terra, auxiliando aqueles que necessitam de uma palavra de esperança, para seguirem vivendo com dignidade!
_ Como assim? Perguntou uma das estrelinhas! A vida na Terra é perfeita! As outras apenas assentiam com um balançar de cabeça.
_ Não, disse a Esperança, o que vocês viram foi apenas uma amostra!
_Pois não acho que me enganei disse a Alegria. A Terra é maravilhosamente alegre!
Deus que a tudo assistia disse:
_De fato, a Esperança tem razão, a Terra é tão grande que existem por lá milhões e milhões de pessoas, e coisas a serem consertadas. Volto atrás na minha decisão. Se queres de fato voltar, tens o meu consentimento, disse Deus.
Desesperadas as estrelinhas disseram em uníssono:
_Longe de nós ficarás sozinha e sofrerás com a nossa ausência! Deixe que tudo seja como já é!
_Não, não posso, quero voltar à Terra para ajudar as pessoas. Saibam que nunca estarei só. Em noites estreladas é só eu olhar para o céu e verei todas vocês cintilando como brilhantes no infinito.
_Mas nunca a veremos novamente.
_Mero engano, basta olharem para a Terra e me verão brilhando em cada coração!
Assim dizendo, despediu-se das amigas e saudosa, mas confiante, partiu em busca da Terra!
Contam as lendas, que as “estrelas cadentes”, são estrelinhas de virtudes, que de vez em quando vem nos visitar no intuito de ajudarem as pessoas a fortalecerem as suas virtudes..
Por isso, em noites estreladas, quando você vir uma “estrela cadente”, observe qual das suas virtudes deve ser melhorada para que o mundo encontre a paz!
Texto adaptado do Livro: Contos e Lendas Orientais – Malba Tahan
Capítulo - I -Conversa informal com Deus
Capítulo - II - Visitas inesperadas
Capítulo - III - A verdade em sala de aula
Capítulo - I V- A alegria está presente também
Capítulo - V - A fraternidade presencia uma campanha
Capítulo - VI -Triste realidade
Capítulo - VII- Chamada ao céu
Epílogo – Encontro com a esperança
Capítulo - I -Conversa informal com Deus
Num belo anoitecer, lá estava Deus rodeado de estrelinhas. Algumas delas curiosas por saber algo mais sobre a vida na Terra.
Dotado de uma paciência que só ele tem, Deus explicava como havia criado o nosso planeta e com quais objetivos. E assim ele dizia:
_Criei tudo o que existe no Universo, inclusive o planeta Terra.
_E o que existe de bom por lá? Perguntou-lhe uma das estrelinhas.
_A Terra é um verdadeiro paraíso! A natureza nela trabalha com muito esmero e carinho.
Na época da primavera, os jardins são verdadeiros arco-íris.existem flores de todas as cores, isso sem contar com a variedade de animais que lá existem. Dentre eles, os pássaros são os meus preferidos, pois, além da beleza de suas plumagens, têm o seu canto maravilhoso!
_ Deve ser muito interessante mesmo a vida na Terra! Disse uma delas.
_Mas o que é primavera, perguntou outra mais curiosa ainda?
Interrompendo o raciocínio, Deus foi explicar o que era a primavera, bem como as outras estações climáticas que caracterizam o clima no planeta, como o verão, outono e inverno. Explicou ainda, que as mesmas acontecem em forma de ciclos periódicos, durante os trezentos e sessenta e cinco dias. Período que compreende o ano, no calendário cristão, e o tempo necessário que a Terra demora para completar a volta em torno do sol.
Voltando as explicações primeiras...
Para vocês terem uma ideia, disse Deus: _Existem desde seres microscópicos até os imensos elefantes que são animais que pesam toneladas. E tem mais, na Terra, já existiram uma série de outros animais gigantescos, denominados de dinossauros. Alguns deles eram carnívoros, ou seja, alimentavam-se apenas de carne. Outros, eram herbívoros, só comiam vegetais, no entanto, assustavam do mesmo jeito, devido ao tamanho exagerado, e a aparência grosseira da pele.
_Esquisito, disse uma estrelinha, olho tanto lá para a Terra e não consigo ver nada disso que o senhor nos conta!
_Sim, é porque vocês estão muito distante dela para enxergar!
_Conte mais Senhor, pediu uma estrelinha muito atenta às novidades.
_Bem... Na Terra existe o “homem”, o ser mais importante que lá reside.
Homem ? _perguntou uma estrelinha. Isso é animal ou planta?
_ Animal, disse Deus. Mas a ele eu dei a consciência, por isso ele é diferente dos demais.
_ Como assim? _ perguntou-lhe outra curiosa.
_ Os animais dos quais lhes falava há pouco, agem pelo instinto, enquanto o homem, dotado de uma mente consciente, é capaz de pensar antes de agir, ou seja, o homem sabe que existe e porque que existe.!
_ E porque ele é tão especial? Perguntou outra estrelinha.
_ Ah! _ disse Deus, ele é especial porque em seu interior abriga a parte mais pura da sua estrutura, o seu lado espiritual. Sim, eu havia esquecido de lhes revelar algo muito importante! O homem é dual, ou seja, ele é formado por duas partes: uma, material, e outra, espiritual. A primeira é como uma casa, que embora receba todos os cuidados de reparos e pinturas, um dia ela se acaba. A segunda, o seu lado espiritual, essa é infinita! Posso até dizer, que é um pedacinho de mim que está em cada um deles.
Quer dizer, disse uma delas, que até mesmo lá na Terra, que nos parece tão distante, o senhor está presente?
_Sim. Estou presente em tudo o que existe no Universo. Mas como eu ia dizendo...Criei o homem, e a ele dei essa consciência para que fizesse bom uso dela, vivendo em harmonia e respeitando o seu meio ambiente e tudo o que nele estivesse, mas infelizmente isso não acontece! Muitas vezes ele faz coisas erradas que me entristece!
_Mas todos eles são assim ruins?
_Não. Ainda bem que não! Existem uns poucos que usam a inteligência para o bem da humanidade, e isso me deixa mais tranquilo e esperançoso, de que um dia todos serão bons ao ponto de viverem fraternalmente e em paz.
Muito entusiasmada, uma estrelinha disse:
_Que tal se fôssemos visitar a Terra para vermos de perto tudo o que acabamos de ouvir?
_Não! Disse Deus. É impossível! Quando criei o Universo coloquei cada coisa no seu devido lugar, e o de vocês é aqui em cima, brilhando sempre no infinito!
_Mas Senhor! Deixa-nos pelo menos por alguns instantes, ou uns dias...um só bastava!
_Não! Eu já disse que não podem. Onde já se viu estrelas circulando entre os homens?
Mas foram tantos os pedidos e o chororô, que Deus acabou cedendo.
_Está bem, mas que seja por pouco tempo. Não demorou muito, e lá estavam elas de malas prontas.
Capítulo - II Visitas inesperadas
Com o consentimento de Deus, cinco estrelinhas se atreveram e resolveram nos visitar. Deus decidiu transformá-las em lindas garotas, para que não chamassem tanto a atenção e pudessem transitar a vontade aqui na terra. A transformação aconteceria no momento que aqui chegassem. Nessa noite, cinco estrelinhas cadentes desceram ao nosso planeta. Assim sendo, as estrelinhas da Bondade, Alegria, Fraternidade, Verdade e Esperança se fizeram presentes entre nós por algum tempo.
Quando aqui chegaram cada qual ”desceu” num lugar.
A primeira de que tivemos notícias, foi a Estrelinha da Bondade. Caiu num pequeno bosque, onde a natureza era tal e qual a descrita por Deus. Maravilhada não se cansava de admirar e tocar nas flores dizendo:
_Que colorido!
_Que perfume!
_Quanta beleza num só lugar!
Assim nesse estado de êxtase e cansada, fechou os olhos e adormeceu. Mas pareceu que foi pouco o tempo, pois ouviu um canto triste que a despertou imediatamente. Ao abrir os olhos se deparou com um garotinho, carregando em uma das mãos uma gaiola. Nela estava aprisionado um passarinho, dono daquele canto triste que ouvira há pouco. Na outra mão, trazia ele uma arapuca, uma espécie de armadilha para pegar principalmente pássaros.
Sem ao menos se importar com a presença da Estrelinha da Bondade, colocou os objetos que carregava no chão e tratou logo de armar a arapuca. Com todo cuidado, colocou a gaiola bem próxima da armação para servir de isca para os próximos prisioneiros. Escondeu-se por trás de um arbusto e ficou na espreita. Por ironia do destino, meia hora se passou e nenhum passarinho se aproximava.
Aborrecido, tirou do bolso traseiro um estilingue, ou baladeira, assim como é denominado em algumas regiões, e começou a fazer mira num pintassilgo que acabara de pousar num galho da árvore.
Indignada com tudo o que via, mas consciente de que não podia interferir na situação, ficou de longe observando. Mas agora ele já estava passando dos limites, atirava pequenas pedras em qualquer pássaro que voava por perto. Ia lhe chamar a atenção, quando viu surgir um garoto.
O recém - chegado, observando a cena do garoto malvado foi logo perguntando:
_Qual é o seu nome?
_Cláudio, respondeu-lhe o menino, já meio enfezado.
Quem é você?
_Meu nome é Kempes, e sou novato aqui no bairro. Para ser mais preciso, mudei-me ontem a tarde, e cá estou a passear para conhecer a vizinhança!
_Logo vi, disse Cláudio, nunca o tinha visto mais gordo, mas agora chega, vá saindo do “pedaço” que está me atrapalhando e voltando-se para a árvore, continuou a mirar o passarinho, até que novamente foi interrompido por Kempes:
_O que você está fazendo?
_Não percebe que quero acertar naquele passarinho?
_Mas isso é errado, Cláudio!
_Errado é você me perturbar. Saia já daqui. Se você espantar o passarinho, eu acerto é em você!
_Precisa me escutar, disse Kempes. Isso não se faz! Esse animalzinho tem o mesmo direito de viver que você!
Cláudio nem se virou, parecia estar sozinho, mas o garoto continuou com o seu discurso:
_Deus criou a natureza e tudo quanto existe nela, e com certeza ele não gosta que maltratem a sua criação.
_Kempes desesperado, procurava novos argumentos, quando de repente Cláudio se virou e disse:
_É, sabe que você tem razão? Eu nunca tinha pensado assim, e olha que eu caço passarinho já faz um tempão!
Já mais tranquilo, Kempes convidou o mais novo amigo para sentar-se no chão enquanto dizia:
_Então amigo, é preciso saber que, “Aquilo que não gostamos que nos façam, jamais devemos fazer aos outros”.
_Agora estou entendendo melhor, disse Cláudio.
_Se entendeu de verdade, deve começar por soltar este pobre animalzinho que trazes preso nessa gaiola! Os pássaros foram criados para viverem soltos e enfeitar a natureza e nos presentear com o seu canto maravilhoso!
_Eu entendi muito bem o que você me ensinou, só tem um porém, vou soltá-lo lá do outro lado do riacho, foi lá que eu o capturei.
Com receio de uma recaída, Kempes sugeriu que o soltasse logo. Com certeza, o pássaro acharia o caminho de volta.
Antes de ir embora, Cláudio abraçou o mais novo amigo e prometeu no dia seguinte, apresentá-lo aos garotos do bairro.
Kempes em silêncio, agradecia a Deus por ter conseguido mostrar ao amigo o
_caminho certo a seguir, quando percebeu uma linda criatura que o observava e encaminhava-se na sua direção. Assim que se aproximou lhe estendeu a mão dizendo:
_Parabéns!, você conseguiu fazer com que a bondade reinasse no coração daquele garoto!
_Quem é você? Perguntou Kempes com os olhos arregalados!
_Eu sou a Estrelinha Bondade!
_Estrela na terra?
_Sei que é estranho, mas estou aqui por concessão de Deus.
_Explique-se melhor. Não estou entendendo nada!
Estava Deus a nos falar sobre a terra, quando eu e outras amigas estrelinhas, imploramos para vir aqui, e ver de perto a sua criação neste planeta. E aqui estou!
_ É no mínimo estranho, mas me diga, o que está achando?
_Diante de tudo o que presenciei, acredito que o Planeta Terra, está melhor do que Deus imagina. O que você fez foi muito bonito! Continues assim, fazendo com que a luz da bondade ilumine sempre o caminho do homem na Terra!
De braços dados, saíram a confabular sobre essa virtude tão necessária a nossa vida.
Mas e as outras estrelinhas, como terão se saído?
Capítulo - III - A verdade em sala de aula
Num dia comum como outro qualquer, Dona Felícia corrigia os deveres de casa dos seus alunos, e pelo semblante as coisas não iam muito bem. O motivo é que até aquele momento, nenhum aluno havia acertado as atividades passadas. Meio desanimada continuou a sua tarefa corretiva, já sabendo da necessidade de reforçar aquele conteúdo. De repente se alegrou...Larissa, uma de suas alunas tinha acertado tudo. Deu-lhe os parabéns e mostrou o seu caderno como exemplo para toda a classe:
_Fiquei feliz Larissa, que você tenha aprendido a lição, mas como os seus coleguinhas não se saíram muito bem, vou revisar o conteúdo todo.
Assim dizendo, voltou-se para o quadro e deu início à revisão. Pouco tempo depois Larissa a interpelou dizendo:
_Professora, tenho um segredo para lhe contar...
_Fale Larissa, estou as ordens.
_Quero lhe falar um segredo, mas tem que ser ao ouvido, disse a menina.
Abaixando-se, a professora escutou com paciência, e após ter conversado com Larissa, pediu a atenção da turma:
_Com o consentimento da Larissa, vou lhes contar o que ela me revelou. Larissa mentiu ao afirmar ter feito o dever de casa sozinha, na verdade, quem o fez foi seu irmão!
A turma não se conteve e começou a ovação. Chamaram-na de mentirosa e pediram punição por tal ação.
A professora imediatamente contestou frisando que, a “verdade não merece castigo”!
Neste momento, surge a Estrelinha da Verdade, que até então observava tudo através da janela da sala de aula.
_Quem é você? A turma toda perguntou em coro.
_Sou a Estrela da Verdade.
_Estrela da verdade? Perguntaram. _E o que está fazendo aqui? Lugar de estrelas não é no céu?
_Eu sei, mas estou aqui em visita, quero ver de perto como é que vocês vivem! Aliás, quero aproveitar o momento para parabenizar a Larissa, pois ela teve a humildade de reconhecer o próprio erro e diante da professora, contou a verdade que agora todos vocês já conhecem! Ela agiu corretamente. Que isso sirva de lição para todos vocês!
“Procurem sempre lembrar que a mentira é como um castelo de areia na praia; quando a onda vem, o desmancha; no entanto, a verdade é como um castelo de rochas, sobrevive a tudo”.
Admirados com os ensinamentos e com a sua beleza, os alunos a rodearam e começaram uma bateria de perguntas:
_Você é mesmo uma estrela?
_Está gostando da Terra?
_O que você gostou mais daqui?
Respondendo a todas as perguntas feitas, a Estrelinha da Verdade satisfez a todos e disse o quanto estava feliz por constatar que havia na Terra pessoas boas, cuja luz da verdade servia de guia para as suas ações!
Nesse momento tocou a sineta avisando a hora do intervalo. E lá se foi a nossa Estrelinha brincar com as crianças e matar a curiosidade que ainda fervilhava, até entre os adultos.
Capítulo - I V- A alegria está presente também
AS
Num Planeta gigante como é a Terra e num país imenso como o Brasil, observa-se inúmeras contradições...Enquanto em algumas Regiões mais pobres alguém passa fome, no Rio – a “Capital do carnaval”, tudo é alegria. Ninguém se preocupa com esse problema. Os foliões esquecem tudo o que de ruim existe no seu dia a dia, e aproveitam para desopilar nos dias da festa. E foi exatamente lá que a Estrelinha da Alegria caiu! Em pleno carnaval, no Sambódromo!
Diante de tanta alegria a pobre estrelinha se sentiu extasiada e nem sabia para que lado olhar, pois a folia era grande!
Entrou no samba mesmo sem querer, pois a música era contagiante! Pulando no meio da multidão aqui acolá fazia perguntas aos foliões, que sem parar de sambar, iam matando a curiosidade dela. E não cansava de perguntar:
_O senhor, o que acha dessa alegria?
_É o máximo, acho que o carnaval tinha que acontecer todos os dias!
_O que é carnaval?
_Você está tirando onda comigo? Perguntou o folião antes de responder:
_Carnaval é isso que você está fazendo...pulando, dançando, cantando...
_Quer dizer que carnaval é alegria?
_Lógico garota! Carnaval sempre foi e será só alegria!
_É, já que não estou entendendo muito bem a situação, vou aproveitar e cair nessa alegria...Para falar a verdade, não pensei que os homens fossem tão alegres! E saiu cantando: Ô jardineira porque estais tão triste...
Capítulo - V - A fraternidade presencia uma campanha
Passado alguns dias, tivemos notícias de outra estrelinha...
Caindo em pleno sertão nordestino, a Estrelinha da Fraternidade se depara com algo curioso que chama sua atenção. No centro da cidade, grupos de pessoas se formavam, uns carregando megafones, outros com cartazes com os seguintes dizeres:
_”S.O.S. aos irmãos que passam fome devido a grande estiagem que enfrentamos”.
Admirada, foi se chegando para ver mais de perto do que se tratava. Em pouco tempo descobriu que o objetivo da Campanha da Fraternidade daquele ano, era “S.O.S. a quem tem fome”, e como a seca estava castigando demais a região, resolveram sair pelos bairros solicitando daqueles que podiam ajudar, algum alimento não perecível para os flagelados da seca!
Muito animada, juntou-se aos grupos. Assim pode presenciar de perto o desenvolvimento dos trabalhos. Observou que durante a coleta de alimentos, que alguns doavam porque viviam na fartura e tinham sobrando, mas outros tantos, repartiam o pouco que tinham no intuito de dar a sua contribuição. Assim foi durante todo o dia. No final da tarde, reunidos na praça central, mesmo cansados da maratona, avaliavam o resultado dos trabalhos. Estavam todos tão envolvidos nessa tarefa, quando alguém percebeu a Estrelinha da Fraternidade, e curioso foi dizendo:
_Não conheço você, em que bairro mora?
_Sou a Estrelinha da Fraternidade e moro lá no infinito.
_Como? Uma estrelinha? E o que faz por aqui? Isso não pode ser? É totalmente impossível...
Pode sim, tanto é que aqui estou, e diga-se de passagem, maravilhada com o trabalho que vocês estão fazendo!
_Mas o que faz por aqui no nordeste?
_Estar aqui no nordeste foi casual, mas o fato é que, eu e outras amigas, pedimos a Deus para vir até a Terra, para vermos de perto como vocês vivem. E aqui estou.
Mas voltando ao assunto... Se todos procurassem dividir o que têm com os que precisam, esse mundo seria bem melhor!
É Dona Fraternidade, um dia chegaremos lá, mas enquanto isso, acho bom irmos para casa descansar, pois amanhã outros bairros teremos que visitar. A senhora vai nos acompanhar?
Não posso, já estamos aqui há alguns dias e temos que voltar para o céu, mas vou feliz por saber que existe fraternidade entre os homens! Assim dizendo se despediu dos grupos.
Capítulo - VI -Triste realidade
Depois de andar muito numa estrada árida, onde o que os olhos enxergavam era apenas garranchos de matos secos, de longe a nossa última estrelinha avistou um vilarejo e na entrada, uma árvore verde. Pensou até que fosse miragem, pois o sol estava escaldante àquela hora do dia e não estava enxergando mais nada a sua frente. Apressou o passo. E assim que se viu na sombra, soltou pesadamente o corpo no chão. Entorpecida pelo cansaço, já estava quase a cochilar quando percebeu uma cena chocante!
Numa casinha bem humilde, próximo de onde ela estava, algumas crianças choramingavam olhando para o final da rua. Isso em pleno sol do meio dia!
Preocupada, resolveu ir até lá para saber o que estava acontecendo. Com a desculpa de pedir um copo de água, chegou mais perto da porta e disse:
_É possível me arrumar um copo de água?
Pois não Dona, a senhora está com sorte, pois isso é tudo o que tenho em casa!
Num instante ela voltou com a água. Enquanto bebia observou a pobreza daquela casa e a situação daquelas crianças que curiosas a olhavam. Assim que sorveu toda água perguntou:
_Por que essas crianças choram?
_Estão com fome, e como eu disse, hoje eu só tenho água para oferecer. Entre, saia do sol.
Aceitando o convite, a Estrelinha da Esperança sentou-se numa cadeira e puxou conversa com a dona da casa...
Enquanto a senhora contava a sua triste história de dificuldades, pois o marido estava desempregado e já não sabiam mais o que fazer para alimentar aos filhos, de repente o choro parou e as crianças saíram correndo para encontrar com um homem que vinha se arrastando no sol quente!
Entrou na casa tão tristonho e para dizer a verdade, pelo semblante, não se sabia qual deles sofria mais!
Entregando meio quilo de feijão à mulher disse:
_Foi tudo o que consegui hoje.
_Amanhã será melhor disse a estrelinha!
_ Assustado perguntou: Quem é você? Se for cobradora, pode voltar outro dia, pois hoje só arrumei esse bocado de feijão em troca da limpeza de uma calçada.
_Calma, não sou cobradora, sou a Estrelinha da Esperança!
_Esperança? Qual é Dona? Diga logo o que veio fazer aqui na minha casa?
Estou aqui em visita. Queria ver de perto como era a vida de vocês.
_Pois é, agora já sabe, aqui as coisas não estão nada bem!
_Estou vendo, mas percebo que o senhor anda meio desesperançado com a vida!
_A senhora espera o que de mim? Felicidade? Só sabe quem passa, Dona! Sabe o que é sair todos os dias durante um mês, batendo de porta em porta, em busca de trabalho, e só receber, ”não”? Pois é!
_Sei que o senhor tem razão, mas tenho comigo uma ideia...Em primeiro lugar, acabe de vez com esses pensamentos negativos.
_Como? Olho ao meu redor e só vejo miséria...
_Vamos fazer um trato, daqui para a frente, mesmo quando a situação estiver feia, o senhor jamais esmorecerá, pensará sempre numa boa solução para o problema.
_Só não sei como fazer isso?
_É fácil, continuará a procurar emprego, mas todas as noites antes de adormecer fará o seguinte:
_De olhos fechados, criará em sua mente a situação desejada, ou seja, se quer um emprego, deve imaginar-se pedindo o mesmo, recebendo um sim, trabalhando satisfeito e ao chegar o final do mês, recebendo o seu salário.
_Mas isso é um sonho!
_É como se fosse mesmo um sonho, mas é assim que vivemos a nossa realidade. Tudo começa na nossa imaginação. É preciso idealizar e ser perseverante!
_Dona menina, já estou feliz só de te ouvir, a senhora é milagreira mesmo!
_Satisfeito da vida, virou-se para a esposa e pediu que colocasse o feijão no fogo, pois com certeza, dias melhores viriam!
_Até a mulher se sentia feliz e abraçando a estrelinha disse:
_A senhora é boa mesmo, fez voltar a esperança aqui em casa, mas seria tão bom que visitasse também outras famílias que estão na mesma situação nossa.
_ Quer dizer que essa história acontece com outras famílias também?
_Ora senão!
Preocupada com a nova situação, a Estrelinha da Esperança resolveu o seguinte:
_Não voltarei ao céu. Ficarei por aqui e ajudarei os que de mim precisarem. Vou precisar da ajuda de vocês!
_ Mas no que podemos ajudá-la?
_Vocês podem levar uma palavra de esperança aos seus irmãos.
_Claro, faremos tudo o que estiver no nosso alcance.
Após despedir-se deles, a Estrelinha da Esperança saiu pelo mundo afora incentivando a esperança, naqueles que não a tinham.
Capítulo - VII- Chamada ao céu
Nem é preciso dizer o quanto eufóricas estavam as estrelinhas ao chegarem no céu. Queriam todas a uma só vez, contar as novidades.
Deus, muito paciente disse:
_Chamarei uma de cada vez para me contar as novidades vividas na Terra.
_Bondade, conte a todos nós o que você viu lá na Terra.
_Ah Senhor! A Terra é de fato um paraíso como disseste. Tudo é maravilhoso! E o mais interessante é que lá existem pessoas boas. Pude ver de perto que a bondade é uma virtude praticada entre os homens!
Fico feliz em saber disso! Mas e você Verdade, o que tem a nos dizer?
_ Senhor, também presenciei a prática da minha virtude! Foi emocionante a visita à Terra. Descobri que a verdade prevalece à mentira.
_Fraternidade, diga o que sentiu em relação as pessoas do Planeta Terra?
_Assim como as minhas amigas, também observei a fraternidade presente no coração das pessoas. Acompanhei um trabalho que estava sendo realizado, e confesso, achei espetacular. Você acredita que tem inclusive um período do ano que eles trabalham em prol da Fraternidade? Acho até que esse sentimento de irmandade, está quase ao ponto em que almejas meu Senhor! _Isso é deveras animador disse Deus! Mas vamos ouvir a Alegria, pois ela quase não se contém na espera da sua vez!
_É isso aí Deus, realmente estou ansiosa por dizer que vivi momentos de total alegria. Acredita que caí numa alegria chamada “carnaval”? Lá ninguém fica triste, tudo é alegria. Eu aprendi até uma canção nova. Quer ouvir?
Antes mesmo que Deus aceitasse, ela começou a cantar: _ Ô jardineira por que estás tão triste...
_Não Alegria, agora não, talvez mais tarde quem sabe...Vamos ouvir o que a Esperança tem para nos contar.
Mas o silêncio se fez presente. Todas ao mesmo tempo olharam para trás em busca da amiga, mas ela não estava lá. Haviam esquecido a Esperança lá na Terra.
Desapontado com o esquecimento das estrelinhas, Deus sugeriu que elas voltassem à Terra, e a trouxessem o quanto antes.
Lamentando o esquecimento e justificando ao mesmo tempo, lá se foram as estrelinhas...
Epílogo – Encontro com a esperança
De volta à Terra, e sempre juntas para não se perderem uma das outras, elas procuraram pela Esperança, por toda a parte e nada de encontrá-la. Desanimadas e Já cansadas, pois a noite não tardava a chegar, resolveram parar um pouco e pensar de forma mais lógica uma outra solução de busca, quando viram uma multidão e decidiram chegar mais perto. Para a alegria das estrelinhas, lá estava ela discursando animadamente para as pessoas. Empolgada dizia:
_Amigos, a esperança é o verdadeiro impulso da nossa vida! Ai de nós se não a sentíssemos. É ela que nos sustenta nos momentos mais difíceis por que passamos. Ela nos inspira a almejar e trabalhar para um futuro de paz para toda a humanidade!
Nesse meio tempo, surgem as amigas que pedindo licença, foram abrindo atalhos até ela. Quando a alcançaram, emocionadas, se abraçam. Passados os primeiros instantes do reencontro, as amigas a alertam da necessidade de retornarem ao céu, pois Deus reclamava a sua presença.
_Está bem, irei, disse a Esperança, não devia ter ficado sem antes conversar com Deus. E despedindo-se das pessoas, voltou ao céu. Lá chegando Deus lhe perguntou:
_ Por que se atrasou?
_Não me atrasei Senhor! Simplesmente achei que podia ficar por lá. Desculpe a minha falha! Mas agora peço o vosso consentimento.
_Mas isso não é possível, e vocês já sabiam. Cada ser criado por mim, possui um lugar certo no Universo, e o de vocês é aqui!
_Sim, eu sei dos seus propósitos, mas ao chegar por lá, senti também que o meu lugar devia ser lá na Terra, auxiliando aqueles que necessitam de uma palavra de esperança, para seguirem vivendo com dignidade!
_ Como assim? Perguntou uma das estrelinhas! A vida na Terra é perfeita! As outras apenas assentiam com um balançar de cabeça.
_ Não, disse a Esperança, o que vocês viram foi apenas uma amostra!
_Pois não acho que me enganei disse a Alegria. A Terra é maravilhosamente alegre!
Deus que a tudo assistia disse:
_De fato, a Esperança tem razão, a Terra é tão grande que existem por lá milhões e milhões de pessoas, e coisas a serem consertadas. Volto atrás na minha decisão. Se queres de fato voltar, tens o meu consentimento, disse Deus.
Desesperadas as estrelinhas disseram em uníssono:
_Longe de nós ficarás sozinha e sofrerás com a nossa ausência! Deixe que tudo seja como já é!
_Não, não posso, quero voltar à Terra para ajudar as pessoas. Saibam que nunca estarei só. Em noites estreladas é só eu olhar para o céu e verei todas vocês cintilando como brilhantes no infinito.
_Mas nunca a veremos novamente.
_Mero engano, basta olharem para a Terra e me verão brilhando em cada coração!
Assim dizendo, despediu-se das amigas e saudosa, mas confiante, partiu em busca da Terra!
Contam as lendas, que as “estrelas cadentes”, são estrelinhas de virtudes, que de vez em quando vem nos visitar no intuito de ajudarem as pessoas a fortalecerem as suas virtudes..
Por isso, em noites estreladas, quando você vir uma “estrela cadente”, observe qual das suas virtudes deve ser melhorada para que o mundo encontre a paz!