"Taca não é santo, mas obra milagre."

Eu sou de um tempo que menino apanhava. Apanhei muito. De palmatória, cinturão, escova de engraxar sapato, cipó e do que estivesse mais próximo da mão. Mas teve uma pisa que não esqueço nunca e acho que foi a ultima que levei. De um lado tinha a minha avó materna que nunca deu um cascudo em um neto. Do outro lado a minha avó paterna que gosta de aplicar um corretivo dos mais caprichados. Ela era autoritária mandava em meu avô, nos filhos, netos e em quem aparecesse por perto. Certo dia... Estava eu a brincar com uns primos na casa dela. Que era vizinha a casa do meu pai. Quando de repente surgiu uma discussão entre nós. Ela brigou e ameaçou encangar todos nós e da uma pisa. Os meus primos que já tinha passado pelas mãos dela e eu não conhecia a sua violência. Disseram a mim... Dá o dedo pra ela! E eu dei... Ela levantou feito uma fera. Vou dá uma surra em todos e principalmente em você seu moleque para aprender a respeitar os mais velhos. Eu caí na besteira de correr. Os meus primos levam a surra deles e ficaram esperando a minha. Corri para a casa da minha outra avó, só que quando ia dobrando a esquina. Encontrei com o meu pai que vinha para casa jantar. Lá em casa se jantava as 18 hs. E então ele me disse. Vamos jantar que depois iremos todos a casa de sua avó, o que era costume todos os dias. Quando chegamos à casa que minha avó ouviu a voz do meu pai. Mandou um recado para ele. Que ele me mandasse a casa dela para levar uma pisa. Se não ela ia a casa dele e apanhava eu e apanhava ele. E como ele sabia que ela cumpria com a sua palavra me levou até lá. Ela já estava me esperando. Pegou uma chibata que ela tinha de surrar cavalo. De sola com o cabo de prata. Ela tinha cavalo de sela e montava muito bem. E cada lapada que ela dava, ficava o calo de sangue nas minhas costas. Lembro depois, minha mãe chorando e colocando água de sal nas minhas costas para aliviar a dor. Que eu tinha a impressão que fazia era aumentar a dor. Só sei uma coisa... Nunca mais eu dei o dedo para ninguém. E eles tinham muitas justificativas para surrar. Diziam: Que não faz o filho chorar chora por ele. Couro de macho não dá primeira. Acho que essa é bíblica. Taca não é santo, mas obra milagre. Tenho certeza que hoje sou o homem que sou foi com ajuda dos corretivos que levei. Muitas vezes só o bom exemplo da família não resolve. Hoje a justiça esta tendo trabalho com os jovens por que tiram a autonomia dos pais. Eu apanhei e não foi pouco não. E estou vivinho da Silva, sabendo respeitar as leis e os cidadãos e cidadãs. Tenho certeza absoluta que meus pais têm muito orgulho de mim.

José Paraguassú
Enviado por José Paraguassú em 28/08/2016
Reeditado em 02/09/2016
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