Ver a Virgem
Quando se espalhou a notícia de que o Darcy do Zé Ieié, colega de classe de minha mana Bebel, tinha visto Nossa Senhora, concluí que o Brumado estava salvo das penas que ameaçavam o mundo, cujo fim Tibebé já antevia com clareza. Ela não chegava a usar a palavra dissolução, mas severgonhice se encaixava bem.
O que não gostei nada foi não ter sido eu o escolhido interlocutor da Virgem Mãe de Deus. Ciúmes que fossem, não, mais inveja mesmo. Pobrema é que eu não andava pelos pastos afoito e feito o Darcy e o lugar que Ela lhe tinha aparecido era justamente em cima de uma arvinha, bem copada, mas baixinha, de sorte que a distância não dificultasse muito a visão e a audição.
Sozinho no quarto de mamãe - papai tava pra fábrica - olhei pra cima do guarda-roupa e concentrei meus pensamentos. E dali a uns poucos momentos, gritei pra mamãe vir correndo. E o átimo foi aquilo que se passou, entre meu brado e ela à minha frente, sôfrega, acho até que com cheiro da cebola que andara picando na cozinha.
Falei-lhe de minha visão, quase sem voz. E era Ela, em cima do guarda-roupa. Ela creu, e as mãos me deu, junto com o já declinante ouvido seu - mas tudo tudo entendeu. E até me perguntou pela cor do manto. Quase não hesitei para lhe dizer que era azul, mais azul do que o céu.
Acho que rezou comigo uma Ave-Maria, com o rosto iluminado. E me disse que ia contar aquilo pra Dona Iria, que era a professora de Darcy e de Bebel. Assim que pudesse. Enquanto isso boca calada eu mantivesse, e que cuidasse da prece.