O sol incandescente
Este fato ocorreu nos tempos de meus avós. Era uma época em que apenas as pessoas de classe social alta tinham acesso a esta companheira de duas rodas. Lembro-me de meu avô Zeba dizendo-me que o custo de uma bicicleta era excessivamente alto.
Bom, meu pai casou-se com minha mãe e ela lhe comprou uma bicicleta de varão alto branca da marca Monark – e deu-a de presente para que ele desfilasse pelas ruas da cidade de Piracuruca nas manhãs e tardes de pouco de sol.
Meu velho, que sempre foi conhecido por ser namorador (embora casado), passou à boca da noite, à hora da Ave-Maria no sino da igreja de Nossa Senhora do Carmo, pela frente do velho cemitério.
No momento exato em que ele passava pela porta, sentiu de imediato que alguém pulara na garupa da bicicleta. Ora, ele olhou, olhou e não viu nada. E porque ele se achava um homem de coragem disse:
— Se for mulher, pode ficar aí!
Então, uma estranha coisa aconteceu: um pássaro preto passou na frente dele e ele caiu num buraco da estrada de terra. E se ele não tinha força, ganhou, pois chegou em casa com a bicicleta no ombro.
E quando foi contar para mamãe...
— Benzinha, você não sabe que uma alma me perseguiu e eu tive de pedalar tanto a bicicleta que ela me derrubou e caí num buraco! Veja como estou sujo! — e mostrou a calça de linho branco toda suja.
E no dia seguinte, á primeira luz da manhã, lá estava ele consertando a bicicleta... Afinal, ele tinha o meio de transporte mais elegante da época... E mamãe adorava andar na garupa! Ah, que ainda hoje andar de bicicleta é um barato.