Meu Pé de Cabaça - Conto - Infantil - Edmilson Roque de Oliveira
Certa feita.
No final do mês de agosto.
Numa pequena localidade chamada Santa Terezinha.
O progresso, ainda andava na mesma velocidade de um ser humano comum.
Aos mais populares com sua bênção e graça, ainda andam à pé.
O lugarejo, de fato, bem tranquilo e pacato.
Curioso mesmo, era que além disso tudo, ainda era bem destacada de toda região.
Para muitos.
Era apenas...
Muito parecida como uma destas pequenas cidades que conhecemos.
Uma tranquila cidade, como uma destas paragens que as vezes fazemos na vida.
Uma cidadezinha, mas muito encantadora.
Mesmo sendo uma simples cidade.
Ainda que quase sempre fosse sempre assim.
Fosse para que a visitasse, ou para quem lá vivia.
Mesmo para que ainda fosse tão jovem.
O que ainda assim, não tivesse nenhuma pretensão de ser tão grande.
Quem dirá daquels ainda não aprenderam a sonhar.
Nem mesmo os que sonham muitos planos, de um momento em diante.
Em um dia, ser muito maior que isso ainda.
Apesar de tranquila sua gente até gosta do tamanho.
Dizem que é mais fácil conhecer todo mundo assim.
Uma daquelas pequenas propriedades que ficam nas regiões fora do centro da cidade, nos arrebaldes das cidades que conhecemos.
Onde sempre tem uma área de terra tombada.
Que com muito zelo e trabalho coletivo, sempre vemos muitas pessoas cultivando diversos canteiros de plantas.
Deste modo, mantendo um bom contato com a terra,
E, contanto com a terra e suas produções.
Um pouco mais que tudo isso, alimentando a terra e se alimentando dos frutos da terra.
Para em dias, semanas ou meses, termos umas plantas fresquinhas e muito saudaveis.
O que dizer dos alimentos que produzimos para nossa própria alimentação.
Mas, não só por isso, também por todas as pessoas que ali trabalham.
As que ficam envaidecidas com toda rica produção de suas plantas.
Sendo assim, é muito gratificante para todas as pessoas da comunidade.
Na horta da Vila Progresso.
Um pequeno pé de cabaça começou a crescer bem próximo dos canteiros de cebolinhas.
Ao seu lado, também nasceu, um pequeno pé de melância.
Bem juntos dos outros pequenos canteiros de cebola, salsa e alface.
Naquela horta, sempre era ao mesmo tempo calmo.
Mas na hora de todas as pessoas cultivarem seus canteiros.
Sempre tinha bastante gente pelos canteiros, preparando a terra, misturando terra orgânica, mexendo na terra de alguma forma.
Assim, fazendo a preparação dos canteiros.
Noutras horas, algum desbaste, nos que tinham mais mudas.
E nos que tinham a terra mais adubada.
Sempre tinham, que a cada quinze dias, acompanhar mais de perto.
Para saber se nenhuma erva daninha tinha aparecido.
Como no terreno sempre tinha alguns destes seres humanos bem ocupados com o cultivo.
Também tinham pessoas que passavam por ali em poucos momentos.
Em geral, se divertiam trocando ideias e comentando só as coisas boas que tinham vivido no dia a dia.
Dos que passavam lá em todos os dias.
Um destes, apressados, que só ficava alguns minutos, estava o menino Bentinho.
Já um dos que passavam muitas horas lá tinha o Senhor Antonio que era amigo do menino Bentinho.
Em alguns dias eles passavam um bom tempo, conversando sobre a natureza e suas plantas, como cultivar a terra e conher o melhores frutos destes cultivos.
Gastavam partes das horas, a cada dia por ali misturando a terra e outros substratos.
Em outros dias, removendo algumas ervas daninhas.
E com isso a terra aos poucos ia mudando, algumas mudas, iam sendo mudadas de canteiros.
Mudando de uma sementeira para outra ou replantando em um outro canteiro ainda maior.
Certo dia.
Entre as plantas da horta.
Aconteceu o início de uma série de diálogos.
Num dia desses, ensolarados, de céu azul inigualável.
Aconteceu um pequeno mas surpreendente diálogo, naquela horta:
- Hei, você é muito parecido comigo!
- Quem? Eu?
-É! Você mesmo!
Curioso!
O fato.
Mas um pé de cabaça (lagenária vulgaris) já com frutinhos, comentou com seu vizinho de canteiro, o pé de melância:
- Interessante amigo! Você e eu!
- Quem? Eu? Respondeu o pé de melância (citrullus lanatus).
- Você é brilhante, têm as folhas alegres todas são meias retalhadas que são o maior charme!
- Eu sou assim? Eu pensava que fosse igual a você!
- Não! Você tem ramas cumpridas e frutos rajadinhos que são uma graça, além disso, são vermelhos por dentro, que nobreza de cor!
- Ah! É mesmo? Como você sabe?
- Outro dia um beija-flor que voava por aqui me contou!
- Verdade?
- Eu acredito! Ele também falou que meus frutos são brancos por dentro, que serena paz por dentro!
- Nossa! Amigo você é diferente então?
- Sim! Ele disse que eu sou um pé de cabaça.
Por um tempo.
Os dois ficaram a se falar.
O que em outros tempos, ficaram um tanto, como calados mesmos, por estarem assim por dias.
Calados, sem saber o que iam dizer, muito ou pouco, um para o outro, quando de repente, ambos.
Estavam pensando nas palavras do beija-flor. E o que dizer um ao outro depois de tanto pensar?
Mais um dia passou.
Perto do pôr do sol, o menino Bentinho passou pela horta, foi até uma torneira próxima e com uma pequena cuia nas mãos cheia d`água, trouxe um pouco deste precioso líquido para cada um dos dois pés de plantas já começando a se desenvolverem bem viçosos.
O menino Bentinho, naquele dia estava com os pés bem sujos, comentava consigo mesmo: Ah! Que bom ter esses pés aqui, teremos bons frutos este ano.
Agora vou pra casa tomar banho e comer aquela janta quentinha feita por mamãe já deve ser hora do papai voltar do serviço. E hoje vamos montar um quebra cabeça com tema das árvores do Brasil, e que legal, foi minha mãe que construiu o quebra cabeças, ele deve ter 100 peças.
Um dia a mais.
Tudo transcorrendo normalmente na horta.
Outro dia.
Muitas outras plantas já crescidas eram vendidas para as pessoas da comunidade, e assim, foram passando os dias.
Um tempo depois, os pés já estavam maiores.
Foi num daqueles dias mais quentes.
Ou daqueles em que o sol, já estava quase trincando a mamona.
O pé de cabaça se achava um pouco triste, acabrunhado mesmo, se queixando da própria sorte de ter nascido, pé de cabaça, nascido para gerar frutos até bonitos, mas que não servem para comer, gerar frutos verdes por fora e brancos por dentro, que nem servem para dar de comer os animais, e pensava será que meus frutos são bons.
Ali muito próximo, o pé de melância, cada vez mais esticado e com as melanciazinhas todas rajadas e brilhantes.
Era só sorrisos e alegrias, ainda mais quando passava um leve vento, e balançava todas as suas folhas, e de uma gavinha a outra, principalmente as folhas era só balanço de alegria.
Ainda mais contente, quando nossos amigos seres humanos ali, trazendo um pouco de água, sempre vinham e molhavam seus pés, e nos dias onde tinha tido alguma chuva, aproveitavam tiravam aquelas outras plantinhas que chamamos de ervas daninhas de perto dos dois pés, o de cabaça e o de melância.
Quando isso acontecia, chegavam até ficarem mais viçosos, e de longe ouvimos os sons destas plantas respirando melhor quando o vento passava por elas, e os humanos ali, também podiam respirar bem melhor nestes dias.
Com o passar do tempo as cabacinhas já estavam ficando grandes.
Mesmo assim, o pé de cabaça ainda não via muita utilidade em seus frutos. Um tanto quanto um pessimista já imaginava secar depois de tudo isso, com sorte apodrecer e só servir apenas de adubo para uma outra parte daquela horta.
Certo dia, o pé de melância, logo pela manhã, acordou falando pelos brotos, de tão eufórico, começou a comentar, tinha tido uma noite de muito sereno e com um orvalho bem molhado, estava radiante brilhante de tanta humildade.
No entanto, ambos estavam bem próximos, ambos estavam com muitas gotas de orvalho ainda em grandes concentrações e que eles mesmos, os dois tinham tido, uma noite de sereno muito úmida, e que com isso, agora mesmo seus ramos já estavam ficando mais fortes e fervilhando de tantos nutrientes que sentiam em seu interior, em cada um estes nutrientes chegavam mais rápidos e eficientemente mais apropriados para o desenvolvimento de cada fruto.
Já era fácil ver de longe as belas melanciazinhas de antes, uns três meses depois, agora já estavam grandes frutos rajados, em sua maioria, quase todos prontos para serem colhidos.
Então ele disse ao pé de cabaça:
- Amigo! Quando despertei hoje, me lembrei da conversa de muito tempo atrás com aquele beija-flor que vem por estas bandas, na época da floração!
- Ah! É?
- Verdade!
- Então me fale! O que você se lembrou?
- O beija-flor disse que outro dia passou numa casa da cidade e viu muitos de meus frutos pendurados numa casa.
- Pendurados? Num pé que sobe pelas paredes do quintal?
- Não, amigo! Ele disse! Que as cabaças, são iguais as suas, mas estavam um pouco diferentes, estavam muito coloridas e algumas até delas as mais bonitas que o próprio beija-flor já tinha visto antes!
- O que? Mais bonitas que as minhas melâncias?
- Na hora não prestei muita atenção, pra dizer a verdade, nem mesmo eu acreditei muito no que ele falou, mas mesmo, depois de um tempo, assim mesmo, ouvi uma outra vez o Beija-flor te contar isso!
- Não acredito! Que ele, queria me provocar, contando isso, pois, eu sempre soube que minhas melâncias são as mais bonitas, as mais brilhantes, e as mais doces da região! E eu pensei que tudo isso, era só para te agradar!
- E você achou pouco, não que tudo isso, sempre foi assim, mas ontem enquanto você ainda dormia logo de manhã, o beija-flor veio conversar comigo, e outra vez, contou toda a história de novo!
- E só por isso, você acha que eu acredito?
- Se você acredita, não sei, mas o fato de que o que o beija-flor falou é real sim, outro dia, ouvi o menino Bentinho, conversando com os Senhor Antonio, que ele e uns colegas da turma tinham ido na casa de um professor, fazer uma oficina de preparação de cabaças, e lá na casa desse professor, na varanda, tem uma porção de cabaças penduradas, uma mais linda do a outra!
- Puxa, então é verdade mesmo! Seus frutos podem ser até mais bonitos que os meus?
- Ele também viu que os meus frutos produzirem uns sons bem diferentes do som que fazem por aqui quando o vento passa por nós.
- Me diga! Que tipo de sons? Para que eles servem?
- Calma, amigo!
- Conte-me logo!
- Já vou contar!
O diálogo já estava quase que terminando quando, de repente, houve uma pequena alteração na tranqüilidade da horta.
Vinha de lá da entrada o menino Bentinho cantarolando:
Eu vim de lá pequeninho
Mas eu vim pra cá sorrindo!
Eu vim de lá pequeninho
Para na vida aprender e crescer
Eu vim de lá pequeninho
Aprendendo pelo caminho
Para ser um fruto forte e bonitinho
Eu vim de lá pequeninho.
Mas, eu vim pra cá sorrindo!
Pra neste mundo não ficar sozinho!
E cantarolando assim, se aproximou do pé de melância e disse:
- É meu pé de melância, daqui uma semana vou colher um de seus rajadinhos bonitos.
Pois eu acredito que já devem estar bem vermelhinhos e docinhos de dar água na boca!
Ai ele olhou para o lado e viu o pé de cabaça muito grande cheio de cabaças, mas ainda um pouco murcho, meio abatido.
Viu a cena ali e quando, o viu, logo falou:
Hei, meu pé de cabaça!
Vamos lá garoto, eu preciso de você viçoso, e também de todos os seus frutos, os mais graúdos e viçosos que você pode produzir e formar! Quero fazer um berimbau e preciso de uma de suas mais belas cabaças para montar o meu próprio instrumento.
Disse isso, e sai até a torneira mais próxima, pegou mais umas cuias cheias de água e voltou para regar os pés das duas plantas. Nisto chegou seu Antonio.
- Oi Bentinho!
- Oi seu Antonio!
- Como você esta na escola menino? Tá estudando direitinho, já teve aula de Ensino Religioso essa semana?
- Vou bem! Esta semana falamos um pouco sobre as religiões afro-brasileiras, e mesmo assim ainda sobro um pouco tempo para ajudar a minha mãe nas rotinas da casa e depois de estudar em casa ainda.
Se ainda tiver um pouco de vento, vou até a praça perto de casa para soltar pipa com os meus amigos. Mas isso, só depois de estar com tudo em dia lá em casa.
- Bentinho? O que você vai fazer com estas cabaças todas?
- Sabe Senhor Antonio! Quero fazer um berimbau, eu aprendi lá na escola! Vou construir o meu próprio berimbau!
- É mesmo? Que interessante garoto, além de aprender a tocar, você já esta aprendo a fabricar o seu próprio berimbau!
- Isso mesmo, inclusive, eu já estou aprendendo a tirar alguns sons com este instrumento, e na escola eu vou tocar também, nas aulas de capoeira, nas aulas de capoeira na educação física, e também por isso, eu preciso muito destas cabaças.
- Mas que engraçado menino! Eu pensava que estes porungos só serviam como cuia para transportar um pouco de água, como pote, em outros casos, para guardar alguns tipos de sementes, para serem plantas em anos depois de serem colhidas.
- Sabe seu Antonio, lá eu também aprendi que a cabaça serve para muitas coisas, desde a fabricação de instrumentos musicais, alguns enfeites de decoração e em outros casos, são usadas como utensílios domésticos para armazenar principalmente sementes, e nós lá na escola temos feitos muitas pinturas com cabaças como estas.
Quando estas estiverem prontas, para serem colhidas, eu quero ver se arrumo uma para cada amigo da turma para na próxima oficina, nós podermos pintá-las ainda mais bonitas.
- Puxa menino! É bom saber disso tudo! No outro dia eu estava pensando no que é que você iria fazer com tantas cabaças?
- Fique tranquilo Sr. Antonio! Eu dou um jeito!
- Está bem menino!
- Então está certo Sr. Antonio! Até logo e tenha um bom descanso!
- Até logo Bentinho! É pra você também, e quando voltar pra casa, dê um abraço nos seus pais, por min! Diga pra eles que você a diferença pra mim hoje!
- Muito obrigado Sr. Antonio! Até mais!
E o dia foi mais uma vez incrivelmente radiante!
O azul celeste era espetacular! E agora o menino tenha mais motivos para comemorar com aos amigos, suas cabaças já estavam prontas para serem colhidas, e com certeza, nas próximas semanas eles teriam outra oficina de pintura de cabaças na aula.
E como numa boa aula!
Os raios do sol pintavam o horizonte de uma forma magnífica.
Depois de ouvir tudo isso, a curiosidade do pé de cabaça estava bem menor.
Naquele espaço uma noticia destas era tudo que ele precisava ouvir.
- Hei melância! Você ouviu isto?
- Ouvi, cabaça! Lembra do que te falei?
- É mesmo! Isso é um sonho!
- Não amigo! É real mesmo!
- Eu ainda ouvi outro dia o Bentinho dizer que estava aprendendo a fazer capoeira! Que ele precisava de muitas cabaças para construir seus berimbaus e juntar os amigos para praticar o que estavam aprendendo.
- Sério? Como você não me contou antes?
- Eu pensei que você já tinha acreditado em mim naquele dia que eu te contei?!
- Agora eu acredito! Sabe melância! Seria um desperdício ter nascido se não fosse para render bons frutos e servir só como utensílios tão importantes para algumas pessoas, e não a todas, como tantas gentes que tem por ai!
- É mesmo amigo! Quando você falava, eu chegava a pensar que não seria justo possuir frutos tão lindos, eles são vermelhos por dentro se não fosse também possível ver meu amigo possuir seus frutos tão graúdos e tão belos para enfeitar ainda mais esta horta!
- Verdade amigo, que graça teria se não fosse assim?!
- É mesmo! E que tal agora, mandar mais nutrientes para os nossos frutos? Assim poderemos ajudar ainda mais o Sr Antônio e o menino Bentinho!
- Isso mesmo amigo! É pra já! Amigo!
E viveram suas vidas felizes até o fim de seus dias.
Edmilson Roque de Oliveira
Maringá, 22 de Junho de 2005.