Uma Criança E A Fome

Ela me doía e na maioria das vezes gostava de me doer muito. Dói na lembrança essa coitada, vive marcada, mas eu mesmo não quero lembrar.

Sinto pena daquela pobre criança. Seus olhos castanhos escuros viciados na luz do sol vespertino. Sempre aguardando o impossível chegar. Esperando atento pela noite a fim de não sucumbir. Eram olhos tristes de dor que chegavam a entristecer os outros olhos por causa da companhia inseparável da fome.

Ela tinha o hábito de cegar as luzes da minha alma e me jogar no chão. Junto ia o meu único norte ao chão, eu ficava sem direção e sem alegria. Ela costumava cegar os olhos da minha razão e me deixava num estado de medo e desespero. Oh companhia desagradável ,pústula purulenta de um câncer no âmago de minha alma. Sinto pena daquela criança no meu infanto ser.

Assim foi ela, a fome. Machucou-me muito mais que a morte de um amigo que se foi.

Ela tirava dos meus olhos com o uso da força as minhas lágrimas. Sim, já chorei por causa dela, da fome, por ela me cobrir e ferir o coração e a minha existência. O meu deus naqueles dias era Morfeu, mas na maioria das vezes ele só vivia dormindo. Por vezes o dormir era o antídoto para o veneno venenoso. Ela, quando me machucava por dentro feria tudo aquilo que encontrava dentro do meu coração.

A fome era para mim como um construtor calmo que fazia sua obra sem pressa alguma. Construía tristezas, construía vergonhas, mas o que ela amava era o cimento molhado com lágrimas.

Mas foram os sonhos e a esperança que sem dizer palavras me ajudaram. Pois que a minha alma vivia calada, era então que eu gritava por dentro clamando por minha mãe que me abandonou ao relento. Mas então pegando-me na mão direita o sonho me levantou e na outra mão a esperança me ajudou a seguir. Não me pediram nada em troca, somente acalmaram a dor interior. Eles, o sonho e a esperança, sempre me diziam que o melhor estava por vir. E que ela a desgraçada fome, um dia iria embora. Por causa de minha mãe ter me deixado de herança a fome, eu resolvi continuar de mãos dadas com o sonho e com a esperança. Pra pode encontrar um grande amor.

Eu te conheço e posso dizer que ninguém merece viver e estar você, fome.

Hugo Deff
Enviado por Hugo Deff em 08/03/2016
Reeditado em 23/06/2016
Código do texto: T5567268
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