Sarmento Leite

Sarmento Leite.

Boa parte de minha infância adolescência foram vividos em num velho casarão de madeira nos fundos de um depósito na cidade de Porto Alegre. Minha rua chamava-se Edmundo Bastiam e tal localização geográfica concedia-me uma visão privilegiada a cada manhã que cruzava o portão para ir à escola. Era como um imenso rio de vários braços que desaguava rostos e corpos, ainda sonolentos, vindos de variadas direções. Da parte alta da rua, surgindo de trás dos imponentes muros do cecoflor, desciam meninos e meninas vindos pela Marechal Sampaio ou pela antiga Sport Clube. Quem vinha da rua da graça, monte flor, monte bonito ou alegre oferecia um espetáculo a parte, pois o trecho em forma de subida (antes de cruzar a Sport Clube) fazia com que as cabeças fossem surgindo lentamente dando um ar de algo que nascia no horizonte. Do lado direito vinham aqueles que desciam a Deoclécio pereira e subiam a comendador Duval cujas camisas brancas com símbolo vermelho estampado no peito contrastavam com a forte cor amarelada do prédio da esquina onde funcionava a agência lotérica. Antes de começar a subir a Eugênio do Pasquier (último trecho antes de acessar o portão principal) passávamos em frente a oficina do Vasco e podiam ser percebidos também os primeiros movimentos no bar do seu Antônio ou o Renato da Barbearia varrendo a calçada. Eram tribos vindas dos mais variados pontos e diferentes lugares que num determinado momento da vida tiveram um porto em comum. Ali, ancoram seus navios para mais tarde conquistar seus próprios mares.

Caio Schroer.