O VAGALUME

Quando a sombra da noite cai sobre a floresta, algumas criaturinhas costumam ficar eufóricas e excitadas com a escuridão. Dentre estas, destacam-se os vaga-lumes, que abandonam suas colônias e partem para o meio da floresta onde os machos da espécie, piscam suas luzes fascinantes com o fim de seduzir as fêmeas para o acasalamento. Porém nem todos estão participando desta aventura romântica: num canto escuro da fresta duma árvore, um triste e solitário vaga-lumezinho, se mantém recolhido enquanto contempla ao longe a festa alucinante que fazem seus irmãos. Deseja estar lá; cortejar uma linda e brilhante donzela. Mas não pode. Nosso tristonho amigo nasceu sem a capacidade indispensável aos vaga-lumes, de incandescer-se. O defeito congênito provocou nele uma timidez depressiva. Por isso nunca saía à noite com os demais companheiros. Na verdade ao contrário dos outros, para ele a noite lhe trazia à tona as amargas recordações da sua deficiência.

O que mais o atormentava era a possibilidade de não poder cooperar na perpetuação da espécie. Porque ninguém se interessaria por um pirilampo sem luz.

A luz do dia trazia alento para aquela infeliz criaturinha. Mas quando vinha o ocaso, a tristeza lhe abatia.

Certa noite, ao observar de fora de sua fenda da árvore, viu luzes frenéticas piscando ao longe. Mas nenhum de seus irmãos havia saído ainda da colônia. Donde vinham aquelas luzes? Imaginou que algo estava errado, mas a colônia inteira voou naquela direção atraída pelo piscar das luzinhas. Somente nosso desconfiado amiguinho ficou como sempre acontecia.

Os vaga-lumes quedaram-se surpresos quando chegaram ao local e perceberam que tinham sido vítimas de uma sórdida armadilha: alguns impiedosos caçadores usaram alguma espécie de fogo de artifício para atrair a colônia. E não deixaram escapar nenhum, sequer. Em vão foram seus gritos de socorro. Não havia ninguém que pudesse salvá-los agora. Ninguém exceto nosso minúsculo herói, claro, que voou corajosamente até o local, sem ser visto pelos cruéis caçadores – pois já que não possuía luz própria não pode ser notado – e resgatou a todos seus companheiros.

Vejam quanta ironia do destino! Há momentos em que um defeito pode tornar-se em virtude!

Após ter salvado a colônia do extermínio, nosso herói conquistou honra e boa fama. Inclusive conheceu uma bela vaga-lumezinha por quem se apaixonou e foi correspondido. Nosso corajoso amigo enfim, conheceu o primeiro amor e esse sentimento universal, fez uma surpreendente transformação em sua vida: finalmente a luz brilhou àquele que outrora fora um apagado vaga-lume. Hoje é o mais intensamente luzidio de toda a colônia.

al morris
Enviado por al morris em 27/01/2016
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