O vaga-lume curioso
Vagalino seria um vaga-lume tão igual a todos os outros se não fosse tão curioso como era. Como os demais filhos da Dona Vagalina era elétrico e não tinha parada.
Vivia alegremente voando com seus irmãos e amiguinhos por entre os galhos e folhas, brincando de esconde-esconde dentro das flores ou de liga-desliga nas noites quentes de verão.
Seu Vagalão e Dona Vagalina eram muito carinhosos com seus filhos e viviam orientando-os para que tivessem cuidado com os perigos da mata, principalmente com os objetos que as pessoas jogavam quando passavam por ali.
Mas foi numa noite que Vagalino voava com seus amiguinhos ao longo da estrada que cortava a mata, que acabou esquecendo-se dos conselhos de seus pais.
O calor estava muito intenso e para refrescar suas asinhas davam voos rasantes junto às árvores e procuravam evitar o leito da estrada, pois aquele chão preto era muito quente. Nesse vai e vem e sobe e desce, percebeu ao longe uma luz vermelhinha que brilhava no meio do mato, próxima da estrada, e ficou atraído por aquilo. Convidou seus irmãos e amiguinhos para irem até lá. Estes porem foram taxativos em dizer “não”, seguindo os conselhos que sempre receberam.
Sabiam que os desobedientes muitas vezes eram encontrados sapecados ou esmagados ao longo da estrada na manhã do dia seguinte. Embora nunca tivessem visto estas cenas, no entanto sempre eram comentadas pelos mais velhos.
Não resistindo à curiosidade despertada por aquela luz tão diferente da dele, acabou separando-se dos demais e seguiu para lá.
Voou, voou e quando chegou bem próximo da luz percebeu um cheiro muito forte e desagradável que vinha junto com uma fumacinha que saia daquela pontinha vermelha. Somente já muito perto é que percebeu que era uma ponta de cigarro.
Conforme foi respirando aquela fumaça quente começou a sentir-se mal. No começo foi uma tontura e depois uma tosse tão forte que Vagalino acabou perdendo o equilíbrio, descontrolou o voo e caiu. Foi um tremendo tombo, mas por sorte, sobre uma folha de bananeira que lhe amorteceu a queda.
De onde estava caído dava para ver e sentir aquele cigarro horrível soltando fumaça bem perto de seu nariz, que além de esfolado estava começando também a ficar sapecado.
O que Vagalino também não contava é que num determinado momento aquela pontinha vermelha começou a esquentar as folhas que estavam por perto e estas começaram também a soltar fumaça. Vagalino apavorado tentou bater asas para zarpar logo dali, mas suas asas não foram obedientes aos seus comandos. Percebeu na pele, ou melhor, nas asas o que era a tal de desobediência que seus pais tanto falavam.
Somente agora percebia o perigo que havia se metido.
Lembrou-se que seus pais sempre diziam que onde há fumaça há fogo. Certa vez ouviu a respeito de pessoas que passavam pela estrada e jogavam lixo e aquelas pontas de cigarro também, que alem de fazer mal para as pessoas também colocavam em risco os animais, pois quando pegava fogo no mato era um terror. E aquela era exatamente a sua condição, pois a fumaça das folhas começava a aumentar e lhe arder os olhos e o corpo todo. Teve uma ideia de jogar aquela água que estava no fundo da folha de bananeira na ponta vermelha. Mas como fazer aquilo se não tinha nenhuma vasilha por perto. Pensou rápido e teve outra ideia, sugou a maior quantidade de água que pode e assoprou com força. Assoprava, pegava água, assoprava, pegava água, até que concluiu que embora alguns pinguinhos caíssem na ponta do cigarro não eram o suficiente para apagá-lo.
Ficou por uns instantes pensando numa outra maneira. Pensou, pensou e resolveu ir até a ponta da folha, pois quem sabe conseguiria curvá-la o suficiente para a água escorrer e ir direto ao cigarro.
Foi o que fez porem seu peso também não era suficiente para isso. Foi aí que se recordou de um ditado muito comum entre os vaga-lumes: “numa situação de perigo pisque e quanto mais em perigo mais pisque”.
Assim Vagalino não perdeu tempo, e agradeceu por sua luzinha não ter entrado em curto e estar-lhe obediente. Foi sua salvação que logo nas primeiras piscadas, seus pais e toda turma de amigos alados que tinham sido avisados do caminho que tinha tomado Vagalino, já estavam chegando ao seu socorro.
Vagalino observou com alegria aquela quantidade toda de luzes e asas vindo em sua direção e teve um grande alívio. Fizeram-lhe massagens nas asinhas que logo ficaram recuperadas. Mas Vagalino não queria ir embora e deixar que aquele cigarro pudesse colocar em risco a mata e prejudicar outros animais que não sabiam voar. Contou o seu plano a todos que resolveram pousar num só momento na folha de bananeira.
Aquela ajuda realmente foi de peso. A folha vergou e a água que estava em seu interior foi direta no cigarro que se apagou de imediato. Assim puderam todos retornar contentes por terem evitado uma tragédia maior. Vagalino chegou a sua casa exausto, no fim de suas forças, porem feliz de todo aquele tormento já ter passado e não ter morrido torrado.
Sentia-se bem consigo mesmo por ter pensado e feito algo também aos demais bichinhos que por lá moravam. Os dias se passaram e Vagalino mostrava com suas atitudes ter aprendido a lição que diz: “é melhor aprender no amor do que na dor”.