A História de Julinha
 
Num dia desses ao sair, encontrei uma menina de aproximadamente seis anos, num dos sinais de trânsito, próximo aos restaurantes da praça onde costumava almoçar.
 
A menina, embora maltrapilha, chamava a atenção pela vivacidade no olhar e a rapidez com que corria entre os carros, pedindo dinheiro para ajudar a mãe doente.
 
Entrei num deles, um dos mais simples, mas que servem boa comida e quando ia começar a almoçar, ouvi uma voz de menina dizer:
 
- Tia tem um dinheiro pra eu lanchar? É que estou no sol desde cedo, e ainda não comi nada. Estou com fome e sede.
- Ajuda aí tia, por favor!

Olhei nos dela e disse:

- Sente-se aí, que vou pedir algo para você comer.

A menina sorriu. Tinha um sorriso tímido e pálido.

 
Pedi ao garçom para trazer um prato feito com um pouco de arroz, feijão, fritas e um filé de frango.

Enquanto o almoço dela não vinha, indaguei seu nome, e ela respondeu: 

- Julinha, tia. E ficou quietinha esperando a comida.

Não demorou muito e logo a comida chegou.
Vi a menina devorando a comida com tanto gosto, como se estivesse muitos dias sem comer.

Claro, fiquei feliz.
 
As pessoas no restaurante me olhavam como se eu fosse uma idiota qualquer. Talvez uma louca, com uma menina maltrapilha sentada comigo, almoçando.

Não demorou, quando ouvi alguém gritar:
 
- Sua cretina, todos estão trabalhando e você aqui, comendo e sozinha, sem dividir com ninguém. Saia já daí, vamos embora.
 
Virei na direção da voz e vi outra menina que devia ter uns treze anos talvez.

Disse a ela com voz firme:

- Ela só irá depois de acabar o almoço.

O garçom interveio, e colocou a mais velha para fora.

Em seguida, aproximou-se de mim e disse:
- A senhora fez muito bem em deixar a menina almoçar.

- Venha até a porta, por favor! 

 
- A senhora vê aquela mulher sentada lá do outro lado da rua? Ela aluga essas crianças para ficarem pedindo esmolas no sinal. E esta menina, por ser a menor, volta para casa ao final do dia com uma miséria qualquer e tudo o que a menina recebe aqui para comer ou beber, é tirado dela pelas crianças maiores ou até mesmo, por aquela mulher vigarista.

Imediatamente indaguei:

- Então sabendo disso, vocês não a denunciam?

E ele respondeu:

 
- Há quem faça denúncias, mas ainda que a levem presa, dois dias depois, ela retorna com outras crianças para cometer a mesma exploração. Talvez uma boa razão, para que maioria das pessoas não queira envolvimento.


Sábio o que aprende com o sofrimento dos outros a dar valor ao que tem.
Maria de Fatima Delfina de Moraes
Enviado por Maria de Fatima Delfina de Moraes em 18/09/2015
Reeditado em 18/09/2015
Código do texto: T5386066
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