Et maintenant...?
Foi no segundo ano primário que cheguei esse estágio, o dos pontos, com que tanto sonhara antes, embalado nos leres e contares da mana La Toya, quatro anos à minha frente. E não se me apagou de todo da memória a leitura espevitada que ela fazia do litoral brasileiro, com grande parte de seus acidentes geográficos, do Oiapoque ao Chuí, nomeando baías, cabos, reentrâncias, fozes e outras menções em detidas doses. Ilhas Mexiana e Caviana, baías da Traição e de Traipu,
foz do Rio Doce e tanto outro nome que nem tão doce fosse...
Mas a minha hora era agora, ora: eu estava no segundo ano primário, aluno de Dona Zinha e a hora, ora, portanto era minha. O ano da graça era 1959. E os ´pontos´ do segundo, na geografia, ficavam circunscritos ao município, mas já dava para lhes sentir o gostinho. Ver por exemplo o meu ´grupo véio´, o Grupo Escolar Professor José Valadares, receber a categorização de 'estabelecimento de ensino', ou educandário, assim como, em nota não muito auspiciosa para a vaidade do burgo, saber que os distritos da Abadia e de Leandro
Ferreira haviam alcançado sua autonomia e consequentemente se cindido de seu núcleo original, a minha soberba Velha Serrana. O pior para mim é que a poética Abadia, terra de mamãe, havia se transmutado até de nome, e passara a chamar tão impoeticamente Martinho Campos.
E pelos ´pontos´ vim a saber, e orgulho até ter de meu saber, que era o Digníssimo Juiz de nossa Comarca de Terceira Instância, um Doutor Augusto Vilhena Valadão. E mais coisas importantes vim a saber também: os inventos e quem os inventara. Que maravilha era saber que BCG era, sem vacilo, o bacilo de Calmet e Guérin, que Pasteur não
era nenhum pasterleiro, e que Robert Fulton inventara a locomotiva - ou foi a navegação a vapor? Va por mim, tim-tim por tim-tim, mas cheque com o google...
E num dia em que faltei - eram raros esses dias - veio o Edinho, todo cheio de si, revelar-me, em minha casa, que o nome do inventor do automóvel era um tal Nicolau. Nicolau José Guignot. Seria o pai do Peugeot? Ou da Bardot? E olhe que eu nem ainda ouvia Bécaud...