O papel almaço

Se lembra das provas de antigamente? Eram feitas no papel almaço, aquela folhona branca, de que dobrávamos uma coluna à esquerda para delinear a margem e o restante do espaço jamais ficava a salvo de alguma bobagem. E tudo a lápis. Criança de primário não devia ter acesso a caneta, cujos borrões eram inapagáveis e cuja extensão ao

uniforme era a certeza mais conforme.

Eu comprava o meu papel almaço - e logo depois do almoço - a caminho da escola, na venda do Vinício, uma espécie de mercearia tem-tudo daquele anos. Podia fazê-lo também na papelaria da cidade, a Santa Terezinha, que acabou virando a Escolar, mais pelo que lá tinha, nada com o pelo da Santinha.

Mas a papelaria ficava meio fora da rota e quando eu saía de casa, almoçado, já não tinha tempo para perambular. Caminhava até a esquina de meu beco, descia a São José até o córrego, subia a ladeira do Vinício, onde fazia a breve paradinha, continuava subindo, ganhando a praça da matriz e mais uma subida íngreme chegara ao Fórum, e me embicava já na rua da escola, a Alarico Bahia.

E sob aquele sol que escaldava, em bicas suava, e não raro pra folha de almaço, aquela umidade passava. Sem descontar a excitação da ocasião pois na prova cabia provar ter aprendido a lição. E, no sentido mais estrito, o que valia era o escrito. Tenho dito.

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 15/07/2015
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