Dez contos!

Dez contos, foi o que bradei, entre papai e Fábio, quando eles iniciaram suas tratativas, justamente falando da cozinha, para a cessão da casa que íamos deixar no Brumado. Segundo a norma da Companhia, os cedentes tinham o direito de obter algum ressarcimento pelas benfeitorias que fizessem nas casas que ocupavam.

Nossa partida para a sede municipal era iminente e a mudança seria feita no dia seguinte. Aquela noite portanto, era decisiva para papai e Fábio acertarem os ponteiros.

Sem interferência de terceiros. Foi como recebi o recado curto, grosso e direto de papai: isso aqui é assunto sério e criança não dá palpite. Entendi, engoli, mas de beirá-los não desisti. Em obsequioso silêncio, com há alguns anos uma de suas Santifrades ordenou o silêncio de Leonardo Boff.

E as conversas se prolongavam, em pequenos detalhes entravam, mas não se entravavam. No meio tempo, mamãe e a mulher de Fábio, acho que Lilia se entretinham em assuntos mais amenos.

Deve ter havido algum café para serenar os ânimos, mas eu estava alheio a tudo que não fosse a negociação das benfeitorias. E silente, como soía - e já não me doía.

Ao arremate, tudo somado, papai e Fábio assentira que davam dez contos. Senti-me triunfar, eu com menos de 8 anos já ter noção acurada daquelas coisas graves.

Só não gostei foi quando para o acerto final, papai consentiu em ir dos dez contos aos descontos. Ficou por oito.

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 22/06/2015
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