O grilo gritador
Eram sete da noite. O grilo encontrou um buraco na parede da varanda. Olhou, tirou um pouco mais do reboco e entrou. Sentou lá dentro e começou a cantar:
_ Cri-cri, cri-cri!
Ah, que beleza de luar! Hoje está bom para namorar. Pensou e voltou a cricriar: “Cri-cri, cri-cri!”, em alto e bom tom.
Uma visita da casa falou:
_ Que grilo chato! Este barulho me deu dor de cabeça. Levantou-se e logo se despedindo pegou o caminho de casa para esquecer-se do som do grilo e poder dormir.
O dono da casa chamou o filho e pediu uma lanterna. Iria já acabar com a festa do grilo, sim, senhor!
O grilo, bem satisfeito no buraco, cavou um pouco mais e por um tempo quieto ficou. Depois roçou uma asa contra a outra e o barulho por toda a varanda se intensificou.
Cri-cri, cri-cri que o galo se acordou que cantou: "Cocorocó!" Mas ninguém entendeu, pois era longe ainda do raiar do dia.
Menino mexe no buraco; pai ilumina daqui, ilumina de lá, mas nada de o grilo se encontrar.
O menino que estava com sono pediu a bênção ao pai e na rede foi se deitar.
O homem sentou na preguiçosa, o olhar no buraco da parede e, como era persistente, focou-o com a lanterna querendo o grilo pegar.
_ Ah, que vontade doida de cantar, falou o grilo botando a cara na boca do buraco e cantando:
_ Cri-cri, cri-cri!
A lanterna caiu no chão de tamanho foi o susto que o dono da casa levou.
_ Agora já chega, disse a esposa e o homem teve de a porta da casa fechar.
Mas xingou o grilo de irritante bicho feio, assim como quem se sabe perdedor.
O grilo não se importou. Tinha coisa mais importante a fazer - precisava de uma namorada para aproveitar o luar.
E por toda noite se ouviu aqueles gritantes cri-cris, até que o som se tornou suave indicando que o grilo gritador tinha conseguido uma fêmea arrumar.
_ Querida, quando acordarmos te dou uma folha de rosa no café da manhã, disse o grilo e para dentro do buraco a levou.
Cri-cri, cri-cri para quem a história ouviu e não dormiu.