DOMINGO DE PÁSCOA
 
Toninho tinha jogado vídeo game até às duas horas da madrugada com o seu irmão Aldo. Antônio é um garoto de oito anos e  quando cai no sono... Dorme como se fosse uma pedra. Sua mãe Joana, já tinha tentando acordá-lo naquela manhã de Domingo e não tinha conseguido. Depois de muita luta ele despertou.
 
- Vamos meu filho acorda! Hoje você vai pra missa comigo.
 
- Mãe eu tô com muito sono...
 
- Não mandei você ficar até tarde, nesse jogo maluco.
 
- Mãe, e onde  tá o  Aldo?
 
- Ele já saiu com seu pai pra feira.
 
- Você quer se comparar com ele. Tu não aguenta sono não.
 
O patriarca  daquela família, o Sr. Basílio, tinha uma pequena banca de hortaliças na única feira da cidade. Era dali que tirava o sustento da casa juntamente com dona Joana que lavava e passava roupas para o marido.
 
Depois de prontos, mãe e filho tomaram o de sempre... Café sem leite e pão fresco.  E seguiram juntos rumo à igrejinha  - Paróquia de Nossa Senhora da Conceição. A missa transcorria normalmente, mas Toninho sempre ficava envergonhado na hora da oferta, pois eles não tinham nenhuma moeda para oferecer, e sua mãe sempre dizia:

- Meu Filho, o Senhor sabe das nossas necessidades.

E aquelas palavras o confortavam.

A mãe de Toninho tinha pedido que o filho levasse uma pequena folha de coqueiro. Na igreja ele pôde observar que muitas pessoas também tinham trazido diferentes folhas, ou pequenos galhos de árvore. Foi só durante o sermão do padre  que ele compreendeu que era domingo de ramos.

Naqueles tempos, a Semana Santa era muito respeitada. Durante a semana: de segunda à sexta-feira, todas as crianças já ficavam de sobre aviso para evitar fazer traquinagem ou aprontar alguma coisa, pois havia  tal de romper aleluia... Que acontecia no sábado.

Na Sexta-feira da Paixão, todos os comércios eram fechados.  Ninguém trabalhava, ninguém pescava, ninguém caçava, ninguém martelava, não podia nem varrer casa. Aquele era um dia em que o silêncio era sagrado. Deveria ficar só rezando e refletindo.

Toninho era muito traquino e sempre aprontava das dele. O moleque sentiu vontade de comer cacau e foi até a árvore que tinha no quintal. Tirou a sandália e subiu... Logo viu um bem amarelinho. Colheu, e ali mesmo quebrou a fruta ao meio e fico lá só na tranquilidade... saboreando aquela gostosura, que geralmente quando vimos alguém comendo, é de dar água na boca.  Quando Toninho já estava nos últimos caroços... ouviu aquele grito.

- Antonio! Desce já da aí... Ah! Menino danado.
 
Nessa hora, Toninho se espantou e se desequilibrou, não deu outra, o garoto veio a pique. A sorte dele que o galho era baixo, mas ainda levou aquele ralho da mãe que o advertiu.

– Esse tá anotado no meu borrador.   

A semana passou rápido e chegou o Sábado.
Dona Joana, cedo acordou Toninho para romper aleluia.
 
- Venha cá cabra, vamos conversar...

- Conversar sobre o quê mamãe?

- Venha aqui e fique de joelho.
 
Toninho obediente a mãe, ajoelhou-se e ouviu.
 
- Agora peça perdão por todas as coisas erradas que você fez.
 
O filho pediu perdão à mãe que lhe deu umas palmadas, o beijou e o mandou tomar banho.

No Domingo de Páscoa, como de costume, todos foram para a pracinha assistir a encenação da Paixão e Morte de Cristo. Depois houve a missa campal e novamente Toninho ficou embaraçado na hora da oferta, pois não tinha nenhum vintém, e a mãe somente olhou para o filho, pois ela já sabia o que ele estava sentindo... e o garoto disse.

- O Senhor sabe das nossas necessidades, né mamãe?

- É sim meu filho, ele sabe.

Ao retornarem para casa, eles passaram em frente à lojinha do senhor Manoel.  Os olhos de Toninho brilharam quando o garoto viu aqueles lindos ovos de chocolate. Toninho subiu a calçada e aproximou-se dos ovos. Nesse momento ele viu algo caído no chão.  Abaixou-se e viu que era uma carteira porta-cédulas. Quando ele abriu a carteira... Viu que tinha uma boa quantia em dinheiro. Dona Joana aproximou-se do filho e disse.
 
- O  que foi que você achou? Deixe-me ver.
 
A mãe viu aquele bolo de notas, e como era uma mulher muito honesta, foi falar com o Dono da loja.

- Bom dia.  Meu filho achou essa carteira... Será que não é de algum cliente seu?

E seu Manoel, surpreso respondeu.

- Que sorte! Agora há pouco o senhor Ramiro saiu daqui. Estava se lamentando a perda dessa carteira.

Dona Joana entregou o objeto ao comerciante, que a agradeceu.

Assim que Dona Joana e Toninho saíram da loja, o senhor Manoel chamou seu empregado Manduca...  Pediu a ele que fosse avisar o senhor Ramiro, sobre o ocorrido e que viesse falar com ele. Depois de uns vinte minutos, Ramiro chegou à loja de Manoel, que foi logo dizendo.
 
- Ramiro rapaz tu tens muita sorte, um garoto encontrou a tua carteira.
Tava o garoto e a mãe dele... Tá aqui com tudo dentro.

- Ô! Manoel muito obrigado. E o garoto? E a Senhora? Você sabe onde eles moram? Eu preciso agradecer.

O Senhor Manoel, deu o endereço de dona Joana a Ramiro, e lhe contou um segredinho sobre o garoto...

Na casa de Toninho, o almoço já estava servido, comida simples: um frango caipira guisado, arroz frito, suco e farinha. Depois que  terminaram a refeição... Toninho olhou para Mãe e disse.

- Poxa! Mamãe... Ah, um ovo daqueles agora... E a mãe como sempre repetiu.

- Meu filho, o Senhor sabe das nossas necessidades.

Dona Joana quase não teve tempo de finalizar  a última palavra...  Quando ouviu aquela voz vinda do portão...

- Ô de casa?! – seguido das palmas compassadas.

Dona Joana aproximou-se e viu aquele senhor, que apresentou-se.

- Boa tarde. Me chamo Ramiro, sou o dono da carteira que seu filho encontrou. Poxa senhora, muito obrigado. E o seu filho onde está? Quero entregar algo a ele.

Toninho apareceu na portão e foi até o Senhor Ramiro, que acarinhou a cabeça do garoto e lhe deu um abraço. O senhor pediu licença para ir até ao carro. Depois de alguns minutos retornou, não só com um ovo de chocolate, mas o bastante para toda a família. Todos ficaram muito grato aquele senhor, que não se demorou e foi embora.

Quando Toninho abriu o primeiro chocolate, olhou para a sua mãe que lhe retribuiu com um  olhar carinhoso,  e nesse momento os dois sorriram, e juntos pensaram.
 
“O Senhor sabe das nossas necessidades”
 
***
FIM