Dá ieite, Nazinha...
João era o caçula da numerosa família de Narcisa e Zé Batista. Viviam no povoado do Brumado, onde tudo girava em torno da fábrica de tecidos naqueles anos 50, de Getúlio, Café, e Juscelino.
As famílias iam crescendo, empregavam-se os filhos mais velhos - quando não ousavam dar aquele passo libertador de ir buscar mais decente emprego em São Paulo - e voltar com uma carteira carteira assinada e outra estufada, de tanta grana amealhada.
Nazinha, a filha mais velha, de Narcisa, ficara, contudo, em casa, botando ordem nas coisas, e pageando o infante João, que feito o pai, era também Batista, de nomeação.
Tia Vicentina, vizinha do lado debaixo - a rua era levemente inclinada - é que não se conformava com a lei da gravidade e a atitude ordinária de Nazinha, de varrer para junto da cerca de tela, que separava os dois quintais, as folhas secas e os dejetos de Joãozinho, ainda fresquinhos.
Para vingar, além das blásfemas jaculatórias, Vicentina chamava a vizinha - a boca pequena - de Nazêga. Aquela Nazêga, que sugeria rimas ricas, até para mulher grega.
E assim a vida corria, como varria, e corroía. E ainda para irritar mais a paciência já curta de Vicentina, chegavam-lhe aos ouvidos, os alaridos lancinantes de Joãozinho, ao longo do dia, pedindo leite a Nazinha:
- Dá ieite, Nazinha, dá ieite...