Milagre, não me largue...
Vendo as cenas - já editadas - da romaria (por quê não mecaria) em Meca, vem-me à lembrança uma ida a Santo Antônio das Roças Grandes. Coisa do tempo, em tanto se acreditava no Santo, e nas roças, em não menor tanto.
Ia-se pelo trem, embarcado em Belorzonte, no rumo de Sabará. A chegada já surpreendia, pois estação ou plataforma, tudo confundia, se é que existia. O que sei é que por um barranco íngreme se subia. O que fiz, valentemente atracado na mão segura de papai.
E lá ficava a igrejinha, apinhada de peregrinos e penitentes, mas além das gentes, abrigava coisas tão diferentes: retratos em branco e preto, próteses, muletas, bengalas e até arreios. Tudo para agradecer por graças alcançadas e milagres operados. Além das velas votivas.
De mim, não sei se papai levava as amígdalas, que me haviam sido removidas, poucos dias antes. Mas sei que orou compungido e agradecido e que o Santo com boa esmola inda foi servido.
Contudo, o que achei bom foi ganhar de novo o ar do adro, arejado, ensolarado - depois de já ter chovido um bocado. E me sentir curado.
De repente papai pega conversa com um tio, que embarcara conosco, ou com algum conhecido da hora, que apontou, lá do alto do barranco, na direção oposta à entradinha da capela: É Sabará, tá vendo?
Perguntou-me papai se eu também via. Me assungou, apontou na direção certa, mas que é de que eu via senão mato e serras que se descerravam à nossa frente. Mas ainda assim, falei que vi. E até hoje, o milagre de conhecer Sabará ainda não vivi. Ou não cri?