A borboleta da casa abandonada

Um habitante na casa. Fincando as patas no chão podia sentir a poeira. Involuntariamente as asas se recolheram. O pó entrava nelas como se quisesse pertencer ao útero. Poeira, a raiz que cobria toda a casa. Como um plural de partículas, com excesso de microfibras sem que representassem a imitação de pólen. No princípio, teve uma atração, fome de essências, mas ao final soube que a poeira dificultava a respiração. E vinham sempre mais e mais como espasmos do vento.

Nascera ali. Abandonada numa casa sem senhor. Sem nome... Uma borboleta que só conhecia a casa por onde voava... Era a única vida que habitava as salas vazias.

Se voava, voava sozinha.

E deslizava no ar

Baixo

Alto

Descia

Subia

Com euforia

Passava por todos os cômodos

Uns

Pequenos

Outros bem maiores!

Voava, voava

Voava?

Ah, movimentava-se.

Uma borboleta

Sozinha...

Por ventura nascera de uma lagarta perdida.

Era uma qualquer.

E agora, restava apenas voar casa adentro e voltar pelo mesmo caminho... num frenético voo à toa.

Voar com a leveza do vento e com a luz no espaço azul. Ah, sonho que fazia brilhar cada finura das asas... O que dava à alma um motivo de repousar em qualquer rumo. Para escolher o espaço como existe; com o fulgor de novos caminhos...

Decidiu parar de pensar. Preparou-se para pousar numa parede da sala, bem próxima à porta, então sentiu no corpo que pó de areia deixava marcas nas asas; abriu-as em par e deu movimentos leves, suspirou, entre o desejo de voar para longe e o olho na parede branca. A pureza de voar trazia paz e afugentava os sonhos, fazendo esquecer por momentos que estava presa. Mas assim que chegou bem próximo à parede começou a se torturar de faltas de opções para aonde ir... e teve delírios:

Vislumbrou a porta se abrindo com uma luz a dizer que o mundo é infinito...

_ Olha uma borboleta, pai!

_ Ai, meu Deus! Devia estar presa na casa fechada!

Então, tudo ao redor a extasiou.

Luzes.

Cores.

Cheiros.

Ah, o cheiro de flor!

Que a borboleta tão livre sentiu os acordes das flores do jardim que para lá voou.

Teresa Cristina flordecaju
Enviado por Teresa Cristina flordecaju em 29/01/2015
Reeditado em 29/01/2015
Código do texto: T5118786
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