Mundo colorido
Lápis de cor era das mais cobiçadas possessões naqueles meus tempos escolares. Geralmente, em caixinhas de 12, cobriam o espectro dos sonhos cromáticos da garotada. E como não era todo mundo aquinhoado com a sua caixinha, parecia maior o sucesso de quem a tinha. E brandia, cioso, aquele colorido vistoso.
Eram lápis pequenos, da extensão de uma chave manual infantil, daí o cuidado redobrado de quem os manuseava, evitando feri-los ou lhes partir a frágil coluna medular com a lâmina ou o apontador. Chegaram a circular algumas caixinhas contendo apenas 6 lápis, mais acessíveis ao fraco poder de compra dos pais, e desprezadas pelos das dúzias, além do mais.
E havia técnicas de colorir que só os mais sabichões dominavam, ou seja, as meninas que, além de mais organizadas, tinham os toques mais sutis. E foi justamente com uma delas, mas fora da escola, a minha irmã mais velha La Totoya, com quem aprendi uma dessas técnicas: consistia no descascar suavementemente, o grelinho colorido, com a gilete e, depois, espalhar aquele pozinho com a ponta dos dedos.
Coisa de mestra - desde que o dedo estivesse livre de outras adesões e obedecesse ao comando de garotinhos e garotões. Mas tudo mudou quando justamente a mana, já ginasiana, ganhou um presentaço que mamãe com suas magras economias lhe comprara, acho que na loja do Inácio Campos: um estojo de caran d´ache.
Vinte quatro, ou trinta, cores diferentes, e bem compridinhos os lápis. Uma festa para os olhos e uma aflição pros espíritos, pois a gente queria porque queria daquela caixinha se assenhorear. Onde já se vira, por exemplo lápis da cor grená, turquesa, rosa, amarelo em três tonalidades, e até cor cinza...?
E ficou no sonho a almejada posse, ainda que temporária, ou a quimera de se fazer "suvertê", ainda que por ofegantes instantes, aquele tesouro, pois aquilo não era coisa pra criança. E bote vigilância nisso.
Ensinar a técnica de colorir era uma coisa, mas no tocante à caixa de caran d´ache, pra ser franco, melhor passar em branco.