Pisando na jaca?

Dizem que sapato marrom não dá sorte. O par deles que ganhei ao fazer cinco anos era avermelhado de tom, mas no fundo, no fundo, puro marrom.

Tizabel, e madrinha de lambuja, toda coruja chegou festeira em nossa casa, abriu a caixa sobre a mesa pra me mostrar aquela beleza: sola limpinha, que pus aos pés na horinha. Acho que nem meia me preocupei em calçar, logo eu que em algum lugar, e daquelas soquetes, de algodão, tinha um par.

E saí, vitorioso a cabritar, batendo os pés, escada abaixo para a cozinha, firmão no vermelhão, ganhei a porta, a varandinha e...a horta, toda verdinha. E soltando aquela sonora ladainha: ganhara uns sapatos tão novinhos, lustrosos os danadinhos, do calcanhar aos biquinhos.

E foi entre as viçosas hortaliças que me estrepei: numa josta enorme e macia eu pisei. E da euforia, à dor passei. Gritei, chorei, esperneei, mas o malfeito, já não tinha jeito, o sapato, logo o direito, azarado, 'batizado' já estava, e excomungado... o 'Navio', aquele cachorro vadio. Se eu o pegasse, ia ver comigo o que era bom fazer-me cair na armadilha, tão marrom...e puro fedor, seria maldita essa cor? Será que tá certo o Roberto?

Quando por fim baixei o tom, safado, o sapato, continuou marrom - de fato.

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 27/01/2015
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