A GALINHA CARIJÓ E SUA AMIGA CINZENTA
O sítio do “Seu Pedro Manco” com ele era chamado, porque tinha uma perna mais curta que a outra, ficava perto da pequena cidade de Ponta Fina. Nesse sítio tinha um galinheiro, onde ficavam as galinhas poedeiras. Eram umas vinte galinhas e um galo, que por sinal era muito valente. O galo era forte e protegia as galinhas de qualquer perigo que aparecesse no galinheiro.
Algumas vezes aparecia rodeando o galinheiro a raposa “Matraca”, que era
muito safada, em vez de ir caçar na mata que havia ali perto, por preguiça ela ia atormentar as galinhas rodeando o galinheiro. As galinhas ficavam apavoradas e o galo preparava as suas grandes esporas bem afiadas, no caso da malvada raposa tentar entrar.
Seu Pedro Manco tinha uma espingarda dessas de chumbinho, sempre carregada para atirar caso a raposa invadisse o galinheiro. Mas o galo “Vermelhão”, como era conhecido cuidava bem das suas galinhas e por esse motivo o seu Pedro não se preocupava muito com a segurança delas. Mas não deixava as galinhas saírem para que não acontecesse nada com elas, e sempre tinha nos cochos do galinheiro, ração, milho e água a vontade.
As galinhas eram boas reprodutoras e todos os dias punham ovos, os quais eram colhidos e guardados pelo Seu Pedro ou sua esposa Dona Maricota. Também tinham as galinhas chocadeiras que ficavam em outra parte do galinheiro com seus pintinhos, para que crescessem bem sadios e bonitos.
As galinhas eram obedientes e sempre atentas no que o galo Vermelhão “cocoricava” para elas todos os dias:
- Meninas, mesmo que vocês tenham oportunidade de sair do galinheiro e dar umas voltas pelo terreiro não saiam, pois a raposa “Matraca” está sempre vigiando por perto e é melhor não se arriscar. Sei que é chato ficar somente aqui dentro do galinheiro, quando lá fora tem a terra para ciscar e comer os bichinhos que para nós é tão gostoso.
- Sabemos disso responderam as galinhas, nós achamos falta de sair dar um passeio e ciscar o terreiro, mas como é perigoso melhor ficar aqui no galinheiro mesmo.
Mas, como sempre tem quem não ouve os conselhos dos mais prudentes,
duas das galinhas, a Carijó, porque tinha as penas riscadas de branco e preto e a Cinzenta que tinha as penas meio azuladas, estavam sempre de cochicho no galinheiro, combinando o dia em que sairiam dar um passeio pelo sítio.
A Carijó sempre dizia para a amiga Cinzenta:
- Esse negócio de não deixar a gente sair por causa da raposa Matraca é conversa fiada. Eles não querem é deixar a gente conhecer novos lugares e outros galinheiros, que podem ser bem melhor que o nosso. Qualquer dia bem cedinho, quando dona Maricota vier colher os ovos, nós aproveitamos enquanto ela estiver distraída e saímos dar um passeio e voltamos logo, nem vão perceber, pois depois vão tirar a costumeira soneca.
E assim as duas galinhas fizeram o que tinham planejado e foram curtir a liberdade que sempre quiseram ter. Dona Maricota colheu os ovos e fechou a porta do galinheiro enquanto o galo e suas galinhas tiravam uma boa soneca. A ausência das duas fujonas nem foi notada.
Livres e soltas se enfiaram no pequeno mato e foram ciscando até achar os bichinhos que tanto gostavam e que fazia tempo que não comiam. Andaram pra cá e pra lá, sem se preocupar com nada. Estavam tão felizes que se esqueceram da hora de voltar para o galinheiro.
Nesse meio tempo o galo Vermelho percebeu a falta das duas safadinhas e cocoricou dando o alerta:
- Vocês não viram que a Carijó e Cinzenta não estão no galinheiro?
- Não percebemos não, mas esses dias elas estavam sempre juntas e de cochicho, com certeza estavam combinando alguma malandragem, aonde será que essas malucas foram, que perigo!
Com tanto barulho no galinheiro seu Pedro e dona Maricota vieram ver o que tinha acontecido e perceberam a ausência das duas fujonas.
Nesse tempo as duas de barriga cheia, dormiam numa sombra e nem notaram que a raposa Matraca estava de olho nelas.
- Hum! Ela resmungou, qual vou comer primeiro: acho que a Carijó, pois é mais esperta e pode fugir, depois pego a outra.
De repente acordaram com a raposa já pronta para dar o bote.
-Cinzenta acorde e vamos correr que a raposa vai nos matar!
- Socorro, gritou a Cinzenta, é isso que dá não obedecer às regras!
E as duas; pernas para que te quero! Mas a raposa era mais rápida e as coitadas foram rezando e prometendo nunca mais fazer coisas erradas se escapassem desta.
Quando não tinha mais jeito e a raposa ia mesmo pegar as duas fujonas, ouviu-se um estampido e a raposa saiu gritando. Era seu Pedro que meio mancando, conseguiu chegar depressa e disparou um tiro de espingarda no rabo da raposa Matraca. Atirou no rabo apenas para espantar a raposa, pois ele não queria matar o animal.
As duas galinhas muito assustadas entraram no galinheiro de cabeça baixa e envergonhadas. Depois de ouvir o sermão do galo Vermelho, choraram muito e prometeram nunca mais sair sem permissão, pois o perigo ronda em todos os lugares. A lição serviu não somente para elas, mas para todos os que abusam dos perigos que existe em lugares desconhecidos e que a prudência e a obediência, são muito importantes para a segurança de todos.
There Válio - 15-01-15