631-A ZEROPÉIA

A Centopéia pensava no tempo que perdia todas as manhãs, ao levantar-se, para colocar as pequenas meias e os sapatinhos em todos os seus cem pezinhos.

= Qua trabalhaeira! Isto, sem falar que todas as semanas tenho de passar esmalte em todos os dedinhos...Que canseira!

Mas, enfim, lá ia, movimentando os cem pezinhos com grande agilidade, virando pra cá e pra lá, quando encontrou-se com a Dona Baratinha.

Dona baratinha olhou para a Centopéia e exclamou horrorizada:

= Mas que é isso? Pra que tantos pés, dona Centopéia? Olhe para mim. Tenho apenas 6 patinhas, e com elas me viro muito bem. Corro tanto com que, pra me pegar, Nhá Zéfa precisa de uma vassoura.

Assim falando, a barata deu uma amostra da sua agilidade com as seis patas, correndo pra lá e pra cá.

A Centopéia ficou admirada.

= Como é que pode! Você, Dopna Baratinha, com apenas seis patinhas, é mais rápida do que eu.

= Pois então! Porque você não amarra algumas patinhas para ficar mais ágil?

A Centopéia resolveu então amarrar seis patinhas.

= Você me ajuda, Dona Baratinha?

= Claro!

E as duas amarraram as seis patinhas.

A Centopéia continuou na sua andança. Agora, aliviada de seis patinhas, que estava amarradas, sentia-se leve, e andava, sim, mais depressa.

Encontrou-se com o boi, que, assustado, exclamou:

= Mas o que é isso Pra que tantos pés? Olha pra mim. Tenho só quatro pés e desconheço quem seja mais rápido do que eu. Com apenas quatro patas, caminho pelos pastos, varo cercas e corro atrás do Homem quando ele vem me pegar.

A Centopéia ficou impressionada com o tamanho do boi, que se sustentatva em apenas quatro pés. Resolveu então amarrar mais algumas patas.

= O senhor Boi me ajuda a amarrar mais uma patinhas?

E com a ajuda do boi, marrou mais algumas patinhas.

Aliviada agora de mais patinhas que havia amarrado, continuou sua caminhada, à procura de alimentos.

Encontrou-se com o macaco, que, pulando de galho em galho, guinchando e fazendo macacadas, estranhou a centopéia:

= Mas que coisa mais inútil, tanto pés. Tenho apenas dois pés e olha como sou ágil, pulo de galho em galho e faço todas as macacadas possíveis...e só com dois pés.

A Centopéia ficou até com inveja do maçado, e resolveu amarrar mais algumas patinhas.

= Você me ajuda a amarrar umas patinhas, Macaco?

= Claro. É pra já.

Descendo do galho onde estava, o macaco ajudou a centopéia a amarrar mais algumas pernas.

E a Centopéia prosseguiu no seu passeio. Foi quando encontrou a cobra.

A cobra, subindo por um tronco, levou um susto quando viu a centopéia. E Disse:

= Cruzes! Que quantidade inútil de pés. Veja eu: não tenho nenhum pé e sou muito ágil. Arrasto com velocidade, dou botes e até subo em arvores, como você está vendo agora.

A Centoupéia olhou admiorada para a cobra, que não tinha um pé sequer.

= Sim, disse a centopéia. Acho que não preciso de pés, posso ser assim como você, Dona Cobra. Você me ajuda a amarrar as outras patinhas.

Ajudada por Dona Cobra, amarrou os pezinhos restantes, que ainda estavam livres.

Mas então, com os pés todos amarradinhos, a centopéia rolou pelo chão e não conseguia nem sair do lugar.

A Centopéia tinha virado a Zeropéia!

= Socorro! Me acudam! Não consigo nem sair do lugar. = Gritou a Zeropéia, digo, a Centopéia.

Com os gritos, chegaram Dona Baratinha, O Boi Barroso, o Zé Macaco e Dona Cobra. Viram a Centopéia impotente, revirando, mas sem poder caminhar.

= Vamos fazer um skate par a centopéia poder se mover.

Mas a idéia do Macaco não deu certo.

Foi então que chegou Dona Coruja, o bicho mais sábio da floresta, e mandou que as pernas da Zeropéia, isto é, da Centopéia, fossem desamarradas.

Logo que ficou com todas as cem patinha livres, a Centopéia saiui correndo de um lado para o outro.

= Obrigado, Dona Coruja, muito obrigado.

E Dona Coruja, empoleirada no galho da árvore, disse:

= Cada um deve viver satisfeito com seu jeito de ser, com suas possibilidades. Quem imitia os outros, cedo ou tarde acaba ficando como esta centopéia – apesar de ter cem pés, ficou sem poder caminhar, como se não tivesse nenhum pezinho.

ANTONIO GOBBO

BELO Horizonte – 21.10.10

Adaptação de conto infantil contado por Beatriz Leão

em reunião do Grupo de Orações, em 20.10.2010.

Conto # 631 da SÉRIE 1.OOO HISTÓRIAS (adaptação)

Antonio Roque Gobbo
Enviado por Antonio Roque Gobbo em 19/01/2015
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