Cesta de Natal
Já havíamos visto ou ouvido o anúncio das cestas de natal pelo rádio ou em revistas, mas quando o Edinho, colega de classe e vizinho, nos trouxe a notícia de que tinha acabado de chegar uma na sua casa, ai a curiosidade nos incandesceu. E ensandeceu.
E o Edinho ainda teve a picardia de nos descrever, em detalhes, algum conteúdo do pacote, que incluía castanhas, nozes, passas, chocolates, e outras guloseimas, que soíam como alcançadas graças.
O ano devia ser 60 ou 61. Edinho era filho de um ferroviário, que tinha pelo menos quatro filhos já empregados, e um deles que estava se formando como advogado, o doutorando Deusdete. Era uma situação mais confortável do que a nossa, de pais operários, vivendo de salafrários salários. E nenhum dos filhos ainda ganhando o seu pão, ou mesmo aprendiz dalgum ofício, ou profissão.
E estou que entendemos bem as circunstâncias. A cesta de natal Amaral, que se anunciava pelo rádio, que por hora só nos fazia cegar, ainda havia de nos chegar, mesmo que fosse pra natais mais adiante. E nem relatamos a novidade aos nossos pais. Só pra aumentar o coro de ais?
Edinho não chegou a nos exibir um tantinho que fosse daquelas guloseimas de sua cesta, e nem soube precisar se era também uma Amaral, pra mais estimular nossa gulodice ancestral.
Acho que naquele ano ficamos na habitual cesta básica, com uma goiabada da Cica, com queijo, num amendoim, umas balinhas, ou coisassim. E hóstia, goste-a, ou não goste-a.
Papai Noel, representado pelas tias, também nossa vizinhas e ainda não donas de uma cesta de Natal, privilegiou-nos com brinquedos utilitários na linha das sugestões de papai: guarda-chuvinha, par de meias soquetes e outros comezinhos breguetes.