O VAGA-LUME INCONFORMADO

Noite escura, a floresta silenciara já não se ouvia o canto dos pássaros. Aqui e ali se ouvia apenas o ruído dos animais noturnos que começavam sua movimentação em busca de comida, seus rastejar, bater de asas e o pio de algumas corujas produziam atemorizantes sons.

Nada além do normal acontecia naquele pequeno espaço da imensa floresta onde Vaguinho, o vaga-lume, vivia e passava seus dias adormecido em sua pequena toca em um buraco feito pela natureza numa frondosa e centenária árvore. À noite saía em busca de alimento e quem sabe de uma namorada. Sim, porque os insetos como todos os seres vivos também namoram e Vaguinho não era uma exceção e para isso contava com uma arma de orientação e sedução que lhe era infalível, a luzinha que a mãe natureza lhe dera localizada em sua bundinha e que ele piscava acendendo e apagando quando lhe parecesse bom.

Claro que Vaguinho não era o único. Havia centenas de outros como ele, o pisca- pisca era intenso e substituía a luz das estrelas que as árvores cobriam com suas copas fechadas.

Aquela era uma noite especial. Era a primeira noite da primavera, a estação do amor entre todos os que vivem sobre a terra, portanto, uma noite de conquistas amorosas e as fêmeas de vaga-lume que eram atraídas pelo pisca-pisca dos machos ficavam perdidas na indecisão de qual deles teria o maior brilho para serem seus namorados.

Vaguinho passara toda aquela noite piscando de uma lado para o outro sobrevoando os arbustos na esperança de encontrar sua amada , ou melhor, que ela o encontra-se, já que na espécie dos vaga-lumes são as fêmeas que escolhem seus futuros maridos se orientando pelos seus brilhos, ao que respondem piscando também em uma cor especial.

Foram em vão os esforços de Vaguinho àquela noite, o dia já vinha raiando e com seus olhinhos fechando e muito triste voltou para sua toca na árvore. Primeira noite da primavera e ele não havia encontrado sua namorada.

Antes que o sol nascesse ele recolhido em sua toca pensava e dizia a si mesmo:

- Puxa como seria bom se em vez de piscar eu pudesse manter minha luz acesa, eu seria invejado e admirado e certamente encontraria minha namorada e muito mais comida que os outros.

E quando ia adormecendo surge sua fada madrinha, sim porque todos nós temos uma fada madrinha, não só os insetos, com a diferença que para nós ela só aparece em nosso pensamento em forma de bons conselhos, porém para os animais elas não só aparecem como conversam e ajudam, sempre fazendo a vontade do Criador.

- Olá Vaguinho, vejo que você está muito triste, será que posso ajudá-lo? Afinal estou aqui para isso. O que posso fazer para acabar com essa tristeza? - disse ela.

- Oh! Minha fada eu não gosto desse pisca- pisca, gostaria que minha luz não se apagasse. Seria muito mais fácil encontrar uma namorada e comida antes dos outros voei e pisquei toda a noite passada e não consegui nada, estou cansado e sozinho.

- Tudo bem Vaguinho eu vou fazer a sua vontade, logo mais quando a noite vier você será o mais brilhante dos vaga-lumes e sem o pisca-pisca que você não gosta, está bem assim?

- Òtimo, puxa ! A senhora faria mesmo isso por mim?

- Claro, por isso sou sua madrinha, agora descansa, vai.

E Vaguinho adormeceu.

O dia se apagara novamente, quando o sol se recolhera, e Vaguinho viu que a luz de sua bundinha não só era forte como não piscava. Não contendo a alegria começou a pular e gritar:

- Oba!!, hoje vou fazer sucesso, vou abafar vou comer tudo o que aparecer em minha frente e certamente serei muito mais notado que os outros.

Feliz da vida alçou vôo de sua toca rodopiando no ar e iluminando tudo por onde passava.

Não demorou muito e ,claro, foi notado e muito notado não só pelas fêmeas como pelos pássaros noturnos que se alimentam de vaga-lumes então se viu perseguido por uma multidão de fêmeas seduzidas por seu brilho e de pássaros famintos dispostos a engoli-lo.

Desesperado voava em círculos tentava se esconder, mas era inútil sua luz não permitia, já estava perdendo as forças quando avistou sua toca e voou para dentro dela exausto e trêmulo de medo.

Quando se acalmou, mais triste ainda e agora amedrontado pelo que lhe acontecera dizia a si mesmo:

- Oh! Meu Deus. Escapei por pouco, eu nunca mais quero brilhar, prefiro nem ter luz, nem namorar, nem comer do que passar novamente por um perigo desses!

Então sua fada surgiu de novo:

- E então Vaguinho como está sendo a sua noite?

- Péssima, nunca mais eu quero brilhar, prefiro viver na escuridão a ter que passar por tudo o que passei.

- Quer voltar a piscar? – perguntou a fada -

- Não, nem isso não quero mais saber de luz prefiro ficar no escuro daqui para frente.

- Tudo bem, se você quer assim. Será feita a sua vontade.

Imediatamente a luz se apagou e Vaguinho sentindo-se seguro saiu novamente da toca, porém nada enxergava nem era visto por ninguém, emitia zumbidos, batia as asinhas, mas nada, ninguém o notava.

E assim outra vez cansado e triste voltou para sua toca, pois o sol já despertava e ele precisava dormir, mas em sua tristeza dizia a si mesmo.

- Puxa como fui bobo eu podia acender minha luz a hora que quisesse e não percebia que isso era bom para mim, quis mais luz e quase morri na perseguição, quis ficar no escuro e estou na solidão e com fome.- E chorando baixinho dizia - O que será de mim agora?

Então sua fada madrinha apareceu de novo:

- Olá Vaguinho você continua triste mesmo depois que fiz suas vontades?

- É minha fada eu era feliz e não sabia, ah! Como eu gostaria de voltar a piscar e ser um vaga-lume igual a todos os outros.

- Você tem certeza que é isso que você quer?

- Sim eu voltaria a ser eu mesmo e feliz como era antes.

- Bom, - disse a fada - eu vou falar com o Criador e à noite você terá uma resposta, esta bem? Agora não chore e descanse.

Vaguinho passou aquele dia quase sem dormir, pois não sabia se Deus, o Criador, o perdoaria e o faria ser como antes.

Veio a noite a luz de Vaguinho não voltava, ele já nem tinha vontade de sair, quando de repente sua bundinha acendeu, ele tentou piscá-la e conseguiu.

- Puxa, Deus é realmente bom, ele entendeu ao pedido de minha fada madrinha, que pena que ela não está aqui para eu lhe agradecer.

Então ela surgiu novamente a sua frente e com um doce sorriso disse-lhe:

- O Senhor atendeu a todos os seus pedidos porque ele queria te mostrar que todos devem aceitar a si e aos outros, como foram criados, grandes, pequenos, gordos, magros, feios ou bonitos, negros ou brancos, porque a verdadeira felicidade mora dentro de cada um quando está em paz consigo mesmo, porque isso representa aceitar a vontade Dele, ainda que não impeça de que se opte por seguir os próprios caminhos.

(Registro número 299.511 - livro 544 - folha 171 do Escritório de Direitos Autorais da Biblioteca Nacional)

Jogon Santos
Enviado por Jogon Santos em 18/12/2014
Reeditado em 19/11/2020
Código do texto: T5074182
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