Levada Da Breca

Aquela menina não era nada fácil. Não esse 'fácil' pejorativo, nada disso. Ela era sempre muito meiguinha e muito 'dutosinha' . Mas me refiro as artimanhas e as manhas principalmente pelas manhãs que eram colhidas com muita afeição. Não fosse um belo dia - e que dia! - em que o seu pai a descobriu com a boquinha na botija ou nas balinhas para a garganta. E naquele dia o sol sorria, e como já citei em algum momento: o sol tinha a cara de laranja pera, bem gordão e amarelo feito os girassóis da terra.

A menina tinha umas manias mui engraçadas: Tantas as manias quanto os hábitos, qual a diferença? Sinceramente?... só procurando o 'Pai dos Burros'. A garotinha mui serelepe ia acarinhar todos os bichanos do quintal, colher as frutas caídas pelo sopro forte dos ventos descabelados que se embaralhavam pelas árvores na madrugada. Lambuzava-se com as mangas e os cajus que deixavam nódoas e que a mãe ralhava constantemente, - Tá vendo só? Essa mancha só sairá no ano que vem nessa mesma época, e agora? Um ponto de interrogação circulava no cocoruto da menina. -

Logo depois ia para a nascente mexer com os girinos e dar-lhes o miolinho do pão dormido, mexia com as mamães-sapas e com todos os barrigudinhos. Entrava em casa com o pé todo molhado do barro e ouvia outra bronca: - Vá tomar um banho, mal começou o dia e você já está a toda! - Dizia a sua mãe neurótica. Após o banho ia tomar o café com leite, nada de pão, só o dedo na geleia raspado na língua e pronto, já saia para o quintal, que na verdade era uma floresta bem densa, propensa as aventuras daquela Tom Raider em miniatura. Descobriu a casa de marimbondos e pronto. Isso foi só o comecinho do estrondo. Subiu astuciosa no pé da goiabeira e... zás! Atiçou o bicho bundudo, o satanás da ferroada profunda. Gritou como nunca: Paaaaiiiiêêêê! E lá veio o pai ver o acontecido, três satãezinhos grudados nas coxas da menina com um inchaço de dar dó. E o pai com toda a calma mas bem bravo tentando tirar os ferrões. - Dizia o pobre: - Por que você foi mexer com esses bichos? E ela respondia na bucha: Não mexi com eles, pai. Eles é que cismaram comigo. _ Cismaram é? Tô de olho em você!

Mais tarde, quando dormiam - essa era a melhor hora - ia pé-ante-pé até o pequeno laboratório, pegava o molho de chaves e abria aquele paraíso encantado e cheio de gostosuras (?). Pegava tudo que podia e colocava dentro do bolso da bermuda: Pastilhas para garganta, todas coloridas e lindas, dentifrícios, comprimidinhos para resfriados de sabores sem iguais e pronto... ia agora para o seu esconderijo mais que secreto. Um quarto desativado do outro lado do terreno.

E lá ela se escondia. E comia, engolia, deglutia e lambia todas aquelas delícias (não sei como essa mocinha não teve problemas mais sérios). E nesse lance bem gostoso e aprazível numa distração bem sofrível quem aparece batento na porta? : Toc! Toc! Toc!... Ela responde: - Quem é? E o seu lindo pai a interpela: _ Sou eu. O guarda florestal! Abra já essa porta, vamos!

A menina mais séria do que nunca e com a boquinha toda melada das pastilhas - e não ousarei dizer o nome da marca ainda bem conhecida - o repele: - O que o senhor deseja, seu guarda? Aqui está tudo sob controle. O pai olha para a cara dela e pergunta: - O que você está fazendo ai, filha? E ela mais que depressa - Estou brincando de elevador.

Naquele dia o chinelo cantou bonito, além do perigo de a menina todos os dias consumir os medicamentos que o seu pai produzia. As chaves eram guardadas no sigilo, mas a menina muito danada, era o bichinho solto em pessoa, mas super do bem e mui 'dutosinha'.

Kathmandu
Enviado por Kathmandu em 11/12/2014
Reeditado em 01/03/2015
Código do texto: T5066265
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