O Aviãozinho

Eram lindos os aviõezinhos de isopor, cada qual com um motivo diferente e bem coloridos iam subindo... subindo... subindo... e quase desmanchavam as poucas nuvens lá no céu, quase tocavam no azul mais que azul, mais do que o blue dos olhos do vovô JôMonte.

E lá iam as minhas fantasias. Eu já pensava nos Ícaros desmedidos e nas asas dos anjos com as suas penas esvoaçantes. Eu via o aviãozinho fazer o seu rasante bem rente às ondas e de frente às gaivotas que mergulhavam para pegar desprevenidos peixinhos. E o aviãozinho subia com a ponta das asas molhadas pelas águas do mar...

E eu ria daquilo tudo. Sorria com o reflexo do sol nas cores despejadas pelo artista que tecia no esmero aquele brinquedinho tão fofinho e tão 'inho' . Aquele planador de mistérios onde supunha-se que alguma Iara deitada n'alguma pedra com o seu canto encantado roubaria o aviãozinho para plainar em outros mares.

E eu ouvia o chiado do vento quando tocava na ponta das asas, eu sentia o tremular da linha e a pancadinha da minha taquicardia - coraçãozinho tão vermelhinho - que ia e vinha, que ia e vinha... e a explosão de felicidade quando a nave deslizava silenciosa e bem ciosa cortando os ares numas fatias bem fininhas aonde o olor era distribuído junto com a maresia.

Os meus pezinhos a essa altura descascavam na quentura da areia, pois soleira de praia é bem quente e ardente. E o vovô ralhava sem parar me mandando calçar os chinelos e colocar o boné para me proteger. Mas, me proteger do quê? Eu era a destemida pilota não era? Eu comandava aquela nave tão bem e com tanto afinco, com tanta precisão, com força de leão, sim. Com força e garra de leão, pois na hora da aterrissagem, eu dava uns trancos na linha e ia puxando bem de-va-ga-ri-nho até o bichinho pousar bem manso.

E nessa hora, já era a consagrada hora do ir embora. O muxoxo era sempre certo, e a vontade de ficar mais um pouquinho decerto, não fosse o aspecto das minhas bochechinhas. Pareciam tomatinhos de feira. E lá ia eu e o meu aviãozinho, ambos cansados do dia, mas à revelia eu ia pensando em voltar n'outro dia e pilotar aquela máquina como só eu e mais ninguém, além do espaço daquele céu, sabiam tão bem.

Kathmandu
Enviado por Kathmandu em 08/12/2014
Reeditado em 08/12/2014
Código do texto: T5063095
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