A casinha do Mangabinha
Eu não concebia gente fora de casa. Embora capaz de passar horas no quintal, bater bola na rua nua frontal e até frequentar a escola, que distava uns duzentos ou trezentos metros, sentia aquele aconchego mesmo era entre as quatro paredes e teto único nossos: fossem da sala, dos dois quartos, da copa ou da cozinha.
E quer saber mais: do banheiro, pra ficar um lar inteiro, ainda que debaixo do chuveiro.
Assim, quando um menino vizinho, o Chico do Duca, acho, me falou que o Mangaba tinha brigado com a família e estava fazendo uma casinha só pra ele, rente à mureta do campinho de volei do povoado, eu fiquei encabulado: afinal o Mangaba era aquele menino atracado e encardido, que vez por outra aparecia no nosso
vilarejo acompanhando a mãe, esmoler - e nunca ex-mulher - e uma penca de irmãozinhos menores, de quem se dizia que sempre o pai diferia.
E agora, sem mãe nem a irmandade, lá estava o Mangaba amontoando folhas de pita - o agave, pra quem pita não apita - pra fazer sua própria casinha.
Comecei a pensar em cousas estranhas, como a falta de um quintal, de uma luz pra alumiá-lo e até de uma privadinha que na certa não disporia aquela casinha.
Mas foi só idéia minha. Nem saiu pela boca, nem da cacholinha, só de dó do Mangabinha.