Um conto de menino
Um som de passarinhos corria pela manhã... bem-te-vi... criiiii... e no alto da porteira o menino olhando o galo de esporões curvados caminhando no terreiro, barbicha empinada, cercando uma minhoca no terreno úmido da chuva do outro dia, e pôs a gritar:
_ Pai, o galo velho quer comer uma minhoca! Vem vê!...
A voz, grossa e firme, mas com um tom de carinho:
_ Não posso agora, filho...
Sentado num dos troncos de carnaúba de que era feita a porteira, o menino esperou o galo ciscar um pouco o chão e se pôs de pé, sorrateiramente, no tronco grosso da porteira...
_ Bruum! _ gritou.
O resultado foi um salto extraordinário do galo! O instinto da ave fez com que ela saltasse para trás numa rapidez enorme que quando os esporões tocaram o chão, embora úmido, espalhou-se uma areia suja que chegou até os olhos do menino.
_ Cocorocó! _ cantou bem alto o galo para lembrar quem mandava no território.
_ Assim você aprende a respeitar os animais! _ disse o pai chegando até a porta da frente da casa e soltando uma gargalhada. Depois foi até o filho e brincou-lhe com os cabelos para dar um até logo antes de ir ao trabalho.
Mas já estava outra vez o menino olhando o galo... que, para poder insistir no controle do lugar fez expressão de quem quer afastar um possível desafiante... E cantou bem alto agitando a crista vermelha no alto na cabeça.
Um dia, pensou o menino, esse galo ainda vai ser meu! E acrescentou entusiasmado antes de correr para dentro de casa:
_ Cocorocó para você também, galo.