GALO MALANDRO

Em uma cidadezinha do interior, havia uma pequena fazenda, onde eram criados vários animais. E por ser uma zona rural, e os donos possuírem um grande apego aos bichos, eles eram tratados como da família.

O apego era tão grande, que chagavam a dar nomes aos bichos. Como não podia deixar de ser havia uma vaca chamada Mimosa, um cavalo chamado Robusto, a pata cujo nome era Gertrudes, e outros bichos com seus respectivos nomes, porcos, cabritos, galinhas, pintinhos, etc.

Na última ninhada de Dª. Pintada, saíram-lhe uns pintinhos muito graciosos, mas, dentre eles, destacava-se também um pintinho muito esperto, que, logo foi crescendo e tomando conta do terreiro. Assim toda a fazenda começou a tomar conhecimento de que um dos filhos de Dª. Pintada destacava-se pela gentileza, coragem, educação, e, inteligência.

Quando aprendeu a cantar, tinha sempre a preocupação de não acordar os colegas que já tinham o costume de dormir até um pouco mais tarde.

Godofredo, como era chamado, tinha um porte esguio, diferente de seus irmãos, embora houvesse nele não somente porte e aparência de um galo de briga, Godofredo era mais um galo apaziguador. Quando seus irmãos começavam a brigar entre si, Godofredo vinha logo intervir e dizia, se vocês não pararem com isso eu vou contar para o Sr. Salviano, o dono da fazenda. E ele falava com tamanho convencimento que eles acreditavam que ele falava com ele mesmo (como se os humanos pudessem falar galinhês). O tempo foi passando e um certo dia, um dos sobrinhos de seu Salviano, viu aquele galo rodar por todos os cantos da fazenda como se fosse um administrador, e, ficou observando. Quase podia jurar que aquele galo estava falando com os demais bichos, pois onde ele chegava os animais lhes dava atenção, e parecia fazer o que se havia determinado. Na verdade era isso mesmo o que Godofredo fazia, passava as ordens e incumbências do dia e depois voltava para ver se tudo estava a contento. Guilherme, o sobrinho de seu Salviano, apos observar bem o galinho ligeiro, pensou consigo mesmo. Acho que posso ganhar um bom dinheirinho com esse bicho pondo-o em uma rinha.

Fez os preparativos, chamou os vizinhos, preparou a rinha, mas, quando foi procurar Godofredo, cadê? O bicho tinha sumido como se tivesse virado fumaça. Ele procurou por todos os cantos possíveis da fazenda, mas, sem sorte alguma de encontrar. O que Guilherme não sabia, é que ainda que seus donos não falavam galinhês, ele sabia entender muito bem o humanês, e quando ficou sabendo das intenções de Guilherme, e, para quando era o negócio, tratou logo de se esconder, principalmente quando vira o alvoroço do povo chegando para a rinha trazendo consigo seus mascotes premiados e bons de briga. Guilherme ficou intrigado com o sumiço do galo, procurou até na cozinha, pois pensou. Talvez meu tio tenha tido vontade de comer o galo, ainda que isso lhe parecesse muito estranho, mas, não deixou de perguntar e obtendo um tá maluco como resposta. Dizia ele, nem sei o que seria de mim se acontecesse algo de mal ao meu Godofredo. Pronto, taí a resposta, mas, aonde fora parar aquele galo.

Após o alvoroço, alguns galos haviam brigado, outros morrido, e o prêmio de quem vencia, além do dinheiro da aposta, comia a vítima derrotada. Era feito um belo churrasquinho de cócó, onde todos se deliciavam com sabor delicioso proporcionado pelo perdedor. Seus companheiros (bichos) da fazenda, não entendiam porque Godofredo não brigava, já que era tão bom em tudo o que fazia.

Quando tudo acabou e finalmente todos foram embora, já era tarde e Godofredo nem se atreveria a sair do esconderijo.

Na manhã seguinte, Godofredo como de costume sabendo que naquele dia não haveria rinha, pôs-se a cantar com o nascer do dia. Isso deixou Guilherme mais intrigado, pois, onde havia se metido aquele galo danado? E que agora como num passe de mágica surgia anunciando um novo nascer do dia. Na semana seguinte, Guilherme tornou a vigiar o galo que parecia sua rotina recomeçar. Com agora já sabia onde o galo dormia, tornou a preparar uma nova rinha para o próximo fim de semana. Pensava ele, agora esse galo não me escapa. Mas, como ele havia anunciado, Godofredo já sabia de tudo, e como era muito mais esperto e muito desconfiado, percebeu que Guilherme o vigiava todos os dias, até o momento em que ele para dormir ficava empoleirado. Mas na sexta-feira que antecedia o grande dia, Godofredo foi para o poleiro como de costume para que Guilherme de nada desconfiasse. Bom, pensou Guilherme, amanhã, antes que ele acorde para cantar, enfio ele no saco e só solto na hora de vê-lo brigar. Godofredo que de bobo não tinha nada, saiu do poleiro assim que Guilherme saíra do celeiro, e foi dormir no mesmo lugar onde havia se escondido da última vez. Ele fazia assim:

Subia no telhado, e como Guilherme dormia de janelas abertas, assim que ele saia do quanto, Godofredo entrava e se escondia debaixo da cama. Uma coisa era certa, seria o último lugar que o sobrinho de seu Salviano iria procurar. O sábado chegou e por volta das três horas da manhã, lá se foi Guilherme com um saco de linho nas mãos em busca do galo fujão. Ao ver que o jovem saíra de casa e entrara no celeiro, o galo esperto passou pela janela e correndo foi para debaixo da cama novamente. Guilherme procurou o galo por todos os cantos do celeiro e intrigado mais uma vez com o sumiço do bicho, não sabia como podia acontecer isso, não ouviu barulho de nada, os outros bichos estavam cada qual em seu lugar, só não estava o danado do galo em que ele estava a procurar. Passou-se mais um dia, o sábado veio e se foi o domingo seguiu sua rotina, sem o galo sumido o galo que ele perseguira.

Quando o sol se pôs no domingo, Godofredo saiu de debaixo da cama e voltou para o poleiro, mas, desta vez, Guilherme viu o bicho sair do seu próprio quarto e ir para o celeiro, no que pensou se impossível como pode pensar este galo matreiro? Resolveu seguir o galo até vê-lo chegar-se ao poleiro. Ficara mais intrigado do que nunca, mas, decidiu fazer um teste pensou. Vou falar em voz alta que vou fazer a rinha na terça-feira e ver o que vai dar. Dito e feito, na segunda o galo cantou, mas na terça, já não estava lá. Guilherme então foi para o seu quarto e tendo fechado as janelas e a porta, buscou a procurar o galo e o achou embaixo de sua cama. Godofredo olhava para ele com olhar de desespero, agora que fui descoberto este será o meu enterro. Mas Guilherme que agora quase pressentira o que pensava o galo, disse em voz mansa, não precisa se preocupar, não vai haver rinha nenhuma amanhã e nem eu outro dia qualquer, mas, se você quiser, pode dormir por aqui hoje, pois eu não vou te importunar. Godofredo então aliviado, saiu debaixo da cama e empoleirou-se nas costas da cama e por ali ficou toda aquela noite sem incomodar. No outro dia assim que raiou o dia, e , agora com as janelas abertas foi-se o galo fazer a sua cantoria. E iniciou-se ali uma grande amizade, entre um galo malandro e um jovem da cidade.

JLLIMA
Enviado por JLLIMA em 03/09/2014
Reeditado em 05/09/2014
Código do texto: T4948719
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