UM DIA NO TEMPO

Sempre a cantar trovas para se distraírem e encurtarem a caminhada, lá iam, em um sábado à noite, os treze meninos e meninas da Rua Albatroz para mais uma festa de aniversário em um ponto qualquer da vizinhança. Tinham que andar longínquos quarteirões.

"Lá em cima do piano tem um copo de veneno quem beber morreu de menos eu".

– Ah, essa não tem graça, vamos brincar de vaca amarela!

"Vaca amarela entrou pela janela e cagou na tigela. Quem falar primeiro comeu a bosta dela".

– Ah, essa é infantil demais!

"FALOU! HA, HA, HA! Comeu a bosta dela".

– Vocês são crianças ainda! Eu já sou homem!

– Cala boca, hominho!

"Ha, ha, ha"!

– Cala boca já morreu, quem manda na minha boca sou eu! Ha, ha, ha! Tomou, touca! Marca touca demais!

– Tomei? Depois fala que a gente é que é criança!

– Só falta ele falar "Belém, belém, nunca mais estou de bem"!

– E eu vou responder à altura: "Tá de mal come sal na panela de mingau"!

– Você não vai fazer isso não, vai?

"Ha, ha, ha"!

– Meninos, parem de discussão, juntem-se a nós meninas, cada um enlaça os cotovelos no outro e vamos tomar conta da rua e puxar uma corrente que mata gente!

"A CORRENTE QUE MATA GENTE QUEM TEM MEDO SAI DA FRENTE"

E venceram, facinho, facinho, alguns quarteirões em busca de balas delícia, doces, bolos, salgados, refrigerantes, balões de festa, chapéus de papelão, língua de sogra e infância feliz.

Publicado originalmente em https://www.facebook.com/OsMeninosDaRuaAlbatroz