Dança de Estrelas

– Já estamos chegando, papai? – perguntava o menino enquanto arfava. Suas bochechas rosadas mostravam o esforço que fazia para conseguir acompanhar os largos passos de seu pai.

– Estamos quase lá! – o pai sorria enquanto o instigava a continuar. Na mão esquerda segurava o filho, e na direita um pequeno telescópio – Vamos subir só mais esse pedaço e pronto.

A trilha era repleta de pequenos arbustos, que nasciam de forma enxerida onde não eram chamados. Os dois subiam de forma rápida e constante. O menino pulava de pé em pé, mostrando ao pai que mesmo cansado, ainda tinha mais energia do que ele. Enquanto o pai, com passadas largas, compensava a energia com o alcance de suas longas pernas. Ambos carregavam suas mochilas, e cada uma tinha seus próprios suprimentos.

Andaram pelo o que pareceu cem metros, e chegaram ao seu destino.

O clarão da lua era a única iluminação naquele campo onde se encontravam. Depois da pequena inclinação que subia por alguns metros, o topo mostrou-se achatado e de grama baixa. Uma pequena casinha de madeira ficava bem no centro do lugar. O menino viu e sorriu. Olhou para seu pai, que assentiu com um sorriso despontando, e começou a correr. Corria como um papa-léguas!

Suas perninhas curtinhas e despidas roçavam o mato baixo enquanto ele aproveitava a beleza do lugar, respirando o ar puro impossível de se respirar na cidade grande. Entrou na casa de madeira, mexeu nas coisas que havia lá dentro, e voltou para encontrar seu pai, que já forrava uma toalha no chão, sentando-se com o telescópio em mãos.

– Senta aqui filho, hoje nós vamos ver as estrelas. – sorriu e deu um tapinha ao lado, mostrando onde ele deveria se sentar.

– Tudo bem, eu quero ver a do caçador primeiro! – sentou-se respirando fundo, com a euforia ainda preenchendo seus pequeninos pulmões.

– E como você conhece a constelação do caçador? – sentiu-se pego de surpresa pelo conhecimento que não sabia que seu filho tinha.

– Eu vi uma vez na televisão. É lá onde nascem as estrelas bebê! – ficou satisfeito com a surpresa no rosto do pai, que sorriu de aprovação.

– Isso mesmo! Vem aqui – o menino se aproximou e olhou através da lente. – Vê aquelas três estrelinhas juntas?

– Sim! Aquelas são a do caçador!

– Isso mesmo. Chamamos também de “As Três Marias”. Aquela do meio, onde tem a manchinha?

– Estou vendo! – respondeu exaltado.

– É ali onde nascem as estrelas.

O menino deixou o telescópio de lado e questionou o pai.

– Todos esses pontinhos no céu, nasceram lá?

– Não todos. Nós moramos em uma galáxia, e dentro dela, existem milhões de outras estrelas, como o nosso sol. E milhões de outros planetas, como a nossa terra. Todos esses pontinhos que você vê, – apontava para a imensidão granulada acima deles – são galáxias, e sóis e planetas e tudo que há nesse espaço a fora!

– Que legal! – demonstrava alegria e interesse. – Todos eles são como o nosso? Existem pessoas como nós lá no céu, papai?

– Isso nós não sabemos. O que eu sei meu filho, é que não somos nada aqui. Nossa vida e tão passageira e frágil. Dentro desse universo, somos tão imperceptíveis, que se for comparar, – olhou para ele e fez um gesto de aproximar os dedos, não deixando nenhum espaço entre um e outro. – seriamos desse tamanho.

– Mas nem dá pra ver! – mostrou indignação – Como podemos ser desse tamanho? Eu consigo te ver!

– Sim, mas olhando lá do espaço sideral, você e eu não somos nada. Nem nossa casa, nem nosso bairro, nem nossa cidade. Somo tão pequenos que não somos tão importantes para o universo, só para nós mesmos.

– Eu quero ser importante, papai. – abaixou a cabeça e sentiu-se triste.

– E você pode meu filho! – segurou o queixo dele e sorriu – Todos nós podemos ser. E você é importante na minha vida. E em tudo que convive a sua volta.

– Mas nós não somos nada...

– Talvez hoje não, mas você é a nova geração. Os frutos do amanhã dependem do que você planta hoje. Todos podem ser importantes, basta querer. Você só precisa entender que você sem o universo não é nada, mas o universo sem você continua sendo universo.

– Então o que eu tenho que fazer?

– A diferença. Sonhe e viva, corra atrás de suas coisas. Você é pequeno, mas um dia vai entender. Seja gentil, seja inteligente, use seu conhecimento para mudar o mundo. Você pode, e todos os outros também.

– Mas como eu vou fazer isso? Eu sou só uma criança!

– Por isso mesmo! Você é puro e doce, você vê o mundo com os olhos que nós, adultos, não conseguimos mais ver. Você e todas as outras crianças são o nosso futuro. São as estrelas cadentes que caem do céu, enquanto nós fazemos o pedido. E meu pedido é para que você faça a diferença, meu filho. Faça acontecer, descubra e distribua amor para o mundo, pois nós adultos deixamos para vocês, o trabalho que não conseguimos concluir.

Os olhos do menino brilharam e um largo sorriso brotou em seu rosto. Levou às mãos ao telescópio e começou a observar e questionar. Seu pai sentia-se feliz enquanto o ensinava, apontando os planetas, as galáxias e as constelações. Mostrou os animais que dominam as estrelas e observaram durante toda noite, a dança que elas faziam pelo panorama celeste. Uma dança de milhões de anos, que toma um ritmo diferente a cada passada. Um misto de memórias e sabedorias, talhadas em nosso DNA, que passa de pai para filho.

Uma dança de Estrelas.