o bolso estufado
Todos os dias na ida para a escola, Marcelo juntava coisas pelo caminho, uma tampinha mais colorida, uma pedrinha diferente, um galhinho mágico, uma figurinha, enfim, chegava sempre com o bolso cheio e por isso foi apelidado pelos colegas de “gari”. Acontece que apesar do apelido os amigos sempre queriam ver o que ele havia juntado e muitas vezes até faziam trocas. O que chamava a atenção é que o outro bolso de Marcelo também estava sempre estufado, mas não eram de coisas achadas. Todos queriam saber, mas Marcelo nada dizia.
Chegou o dia da prova final de matemática e Marcelo tinha graves problemas com a tabuada, por mais que estudasse, acabava esquecendo na hora da prova. Seu medo era tanto que chegava a suar frio. Entrou na sala e sentou-se, fez uma oração em silêncio e pediu a Deus lhe ajudasse. Nesse momento, entra a professora dá um “bom dia” e anuncia que já vai distribuir as provas. Pede que guardem todo o material e fiquem apenas com lápis, borracha e caneta.
Distribuídas as provas, todos estavam debruçados tentando resolver o teste, quando a professora notou o bolso estufado de Marcelo.
- Marcelo, quero que tires tudo desse bolso e coloque aqui em cima da minha mesa.
- Mas professora não tem nada.
_Não quero saber de conversa fiada, eu estou vendo daqui que estás com o bolso cheio. Deve ser alguma cola. Talvez de tabuada?
- Nada disso. Não vou esvaziar o bolso pq não tem nada para tirar, está vazio.
- Mas que conversa é essa? Então está estufado por quê?
- Ele é assim mesmo, mas não tem nada dentro.
- Chega disso, vai já para a sala da diretora. Ela vai resolver o assunto. Se não queres mostrar é pq algo tem
- Mas professora...
- Pode ir.
Ao entrar na sala da diretora, Marcelo sentiu-se envergonhado, nunca se sentira tão humilhado. A diretora olhou por cima dos óculos e disse:
- O que aconteceu? Não me lembro de ti. Isso é um bom sinal. Geralmente só os alunos problemáticos aparecem por aqui.
_ Olha, foi assim. Eu estava fazendo a prova e a professora desconfiou de que eu estivesse colando. Tudo por causa desse meu bolso estufado.
- O que tem nesse teu bolso afinal?
- Nada. Foi o que disse, mas ela não acreditou.
- Parece estar cheio. Como assim não tem nada?
- Não tem nada.
- Como é possível se está estufado?
- Podes colocar a mão dentro, se achares alguma coisa, podes pegar.
- Chega aqui que eu vou verificar.
A diretora coloca a mão no bolso estufado, sente na mão uma suave brisa morna que não consegue explicar, mas nota que não há nada dentro do bolso.
- Estranho! Por que esse bolso fica com esse formato?
- Não sei, acho que são os lembretes que minha mãe me deixou: bom dia, boa tarde, muito obrigado, com licença, desculpa. Eram tantos que o bolso ficou assim.