PRESENTE
Na hora de ir para casa, abaixei-me perto da porta, onde a profe guarda o lixo, e peguei – ela não viu – a caixinha de lenços, vazia.
Vi quando ela colocou ali e pensei em levar para a mamãe. Era perfumada. Um cheirinho tão bom de flor. Coloquei na mochila e entrei no veículo escolar. Antes, dei um beijo na tia Carol, é claro.
Ia com o coração em festa, com o presente apertado junto ao peito, quase rindo sozinha ao pensar na surpresa.
Mamãe iria abrir bem os olhos, claros e bonitos, rir com a boca cheia dos dentes tão brancos, abrir os longos braços, vir em minha direção e pegar o presente, quando eu conseguisse tirar, já meio amassado, de dentro da mochila.
Minha irmã abriu a porta e desci, apressada.
— Mamãe, mamãe! Gritei e saí correndo ao seu encontro.
Sentei na minha cama, ofegante. Mamãe me olhava, ansiosa.
— Trouxe pra você – disse – enquanto lutava para abrir o fecho apertado e retirar a caixa. Finalmente, estava na minha mão. Estendi, com alegria, palpitando com a espera.
Mamãe olhou e fez cara feia. Murchei. Meus olhos ficaram molhados, quando ela disse:
— Isto é lixo. Por que trouxe lixo para casa?