O Ratinho da Casa Amarela

Logo cedo o ratinho acordou. Ele morava com os pais no porão de uma grande casa toda pintada de amarelo. O térreo, acima de sua cabeça, era sua paisagem secreta. É por lá que ficava algumas horas quieto, pensativo. Gostava de estar com os pais, mas tinha a mania de ficar observando os cômodos da casa, que tinha sido recém-pintada.

E ontem, depois de meses sem morador, a casa passara a ser habitada. O novo morador era um homem magro, cheio de um caminhar inquieto. Não fora coincidência tê-lo visto quando chegou pelo noite, já bem tarde. Estava, como de costume, passeando pelo teto da casa e logo que o viu ficou curioso. Precisou de muita obediência aos pais para ir dormir na hora certa. E o fez, embora com muita curiosidade pelo estranho. Bem, até conseguiu dormir um sono de boas horas.

Olhou para cima.

_Mãe, posso ir ver o novo morador da casa?

_ Vá com cuidado, sabemos que os humanos não gostam de ratos.

Dona Rata colocou as mãos na cabeça do filho e o beijou.

Em seguida, abriu com cuidado a tábua do piso, que dava acesso ao térreo, e o deixou passar.

A casa a princípio mais parecia ser outra. Podia-se notar a presença de cavaletes, mesas, e, percorrendo mais um pouco o lugar com os olhos, um homem, em meio a um semblante de enigmático ar feliz. Então, pouco a pouco se observava as cores amarelas das paredes numa agregação aos movimentos das mãos, que pincelavam uma tela – havia um mundo de tons maravilhosos sobre a pintura que ia surgindo... e a casa passou a ser cenário dela. O homem de pé, ora olhava para um ângulo de seu trabalho, ora para outro, como se colocasse algo secreto em algum ponto que o ratinho não conseguia ver...

As horas, quase numa união de tempo e sensação de felicidade de quem oferece um sonho, não deixaram o roedor perceber que o café da manhã do homem ainda estava sobre uma mesinha simples de madeira. Ele, como o pintor, estava em completa interação da alma. Por isso, por dentro da casa reinava a aparência de outro lugar. E nos pensamentos do ratinho não havia espaço para o queijo bem colocado na bandeja ao lado do pão.

Alguns dias, quando ninguém pensa que vai haver uma revelação, o sentido das cores do sol cumpre um inexplicável destino de lembrar que a felicidade existe:

Que beleza se via – um homem entregue ao trabalho e um rato observador como criaturas de tantas da criação – envoltos num sonho de cores amarelas.

E em tudo se percebia que o dia vinha numa simplicidade de construção de imagens para os que sonham e se permitem ser felizes.

Teresa Cristina flordecaju
Enviado por Teresa Cristina flordecaju em 12/07/2013
Reeditado em 15/07/2013
Código do texto: T4384178
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