A FAMÍLIA BUSCAPÉ.

ESSE TEXTO TAMBEM É REEDIÇÃO DE UM ROTEIRO QUE FIZ PARA ALUNOS DO ENSINO MÉDIO SE APRESENTAREM NA ESCOLA VOLTADO PARA AS CRIANÇAS. ESPERO QUE GOSTEM.

Família busca pé

(narrador)

Paulo era um rapaz tranquilo e pacato, filho do senhor Morais, um aposentado da marinha e de dona Quitéria, uma senhora dedicada à vida toda ao lar e aos filhos. Paulo também tinha uma Irmã que era mais velha que ele, Fernanda tinha 28 anos, e Paulo três anos mais novo.

Na casa morava Paulo, senhor Morais e dona Quitéria.

Paulo não tinha tempo para quase nada, nem mesmo para namorar, estagiava num escritório de advocacia e ia para a faculdade de direito durante a noite. Nos finais de semana se trancava no quarto para estudar.

Fernanda era casada com Marcão. Marcão era um ótimo mecânico de automóveis, ela era professora de educação física e tinham três filhos, Maria Eduarda, Pedrinho e Gabriel.

Marcão era muito trabalhador, mas nos finais de semana, colocava um agasalho da gaviões da fiel e ia para o estádio ver o jogo do timão, e quando Fernanda não ia passear com os filhos, passava o dia na casa dos pais.

Certo dia de domingo na casa do senhor Morais, ele sentado numa cadeira de balanço na varanda, de bermudão, camiseta regata e chinelão, tomava seu café enquanto lia um livro sobre a segunda guerra mundial. Dona Quitéria já tinha preparado o almoço, mas como ainda era cedo, resolveu ir para o seu lugar preferido, “a poltrona” ali ela se esquecia do mundo fazendo seu tricô, geralmente fazia roupas para os netos, Paulo aproveitava a tranquilidade para assistir o esporte espetacular.

De repente uma correria e uma bagunça de crianças correndo e indo em direção ao avô, derramam o café dele, rasgou o jornal, aquela confusão, senhor Morais, já estava acostumado com aquilo e nem ligava mais, em seguida eles correram para a sala e abraçaram a avó e depois pularam sobre Paulo, que deu uma risada e pensou: “acabou o sossego”.

Fernanda gritou para as crianças ficarem quietas, mas não resolveu muito, Pedrinho encontrou uma bola e saiu chutando pela casa, Maria Eduarda observava o que a avó estava fazendo enquanto Gabriel conversava com Paulo.

Senhor Morais entrou na sala e sentou em outra poltrona ao lado de Paulo, Fernanda não se sentou e meio sem jeito disse que precisava de um favor deles, (dos pais e do irmão)

Fernanda - gente eu to meio sem jeito de falar, mas preciso de um favor de vocês.

Paulo já coçou a cabeça adivinhando o que poderia ser.

Fernanda - é que o Marcão vai ver o Corinthians jogar e os amigos dele vão levar as esposas. queria saber se eu poderia deixar os meninos aqui até a gente voltar.

Paulo – falar nisso, cadê o Marcão? Aquele pilantra, aposto que ficou no carro esperando que você viesse falar com a gente, o pai e mãe você sabe que não tem mais idade pra cuidar de crianças, ainda mais se tratando dessas pestinhas, que nem vocês aguentam.

Dona Quitéria – tudo bem filha, vá se divertir um pouco, só tome cuidado pra não entrar em confusão.

Senhor Morais- bem, já que ela aceitou, ela toma conta.

Fernanda – credo pai, vocês falando assim parece que meus filhos são os capetas.

Senhor Morais deu risada e disse que estava só brincando, mas nem nos tempos de marinha tinha uma missão tão difícil quanto essa, esses marujos dão muito trabalho.

Fernanda – crianças prestem atenção! Se comportem hein, se quando eu chegar souber que vocês fizeram bagunça, não vou trazer chocolates.

Gabriel – pode ir tranquila mamãe, a gente promete que não vamos fazer bagunça.

Fernanda se despediu dos pais e das crianças e foi embora.

Aí começou o inferno, Pedrinho saiu jogando bola na sala, Gabriel tentou pegar o livro do avo que ficava se esquivando, Maria Eduarda era mais comportada, conversava com Paulo e fazia varias perguntas. Eenquanto isso dona Quitéria guardava as agulhas de tricô e as linhas.

Maria Eduarda – tio porque o senhor não sai pra passear, fica sempre em casa?

Paulo- porque o tio trabalha e estuda muito, aproveito o fim de semana pra descansar um pouco, mas hoje pelo jeito, me dei mal né?

Maria Eduarda - tio o que o senhor está estudando?

Paulo – o tio estuda direito.

Maria Eduarda – direito, o que é isso, estuda pra não fazer coisa errada?

Paulo - ha-ha-ha, quase isso, direito é um passo para quem quer se formar em um bom advogado, delegado de policia, quem sabe até ser juiz.

Nesse mesmo momento, Gabriel e Pedrinho ficaram brincando de driblar no meio da sala, senhor Morais gritava para eles pararem, por um instante ficaram quietos e sentam no sofá. Gabriel e Pedrinho prestavam atenção no que Maria Eduarda e Paulo conversavam e se aproximaram deles.

Pedrinho= tio o que é que vocês estão conversando aí de tão importante?

Maria Eduarda fala primeiro que o tio

Maria Eduarda – a gente “tamo” falando de direito.

Paulo – nós estamos não é Maria Eduarda?

Maria Eduarda – o senhor entendeu então tá bom.

Gabriel – tio o que faz um advogado?

Paulo – um advogado serve para defender causas e pessoas acusadas injustamente se ele entender assim, e outras coisas.

Também, como por exemplo, se a Maria Eduarda disser para a sua mãe que você falou mal dela, em quem ela vai acreditar?

Gabriel – ah vai acreditar nela, porque ela é mulher.

Paulo – e se ela estiver mentindo, como vai se defender?

Gabriel – o Pedrinho me defende, não é Pedrinho?

Pedrinho – eu te defendo, mas e se você tiver xingado ela mesma?

Gabriel – nos somos homens, você tem que me defender mesmo assim.

Paulo – está vendo? Pedrinho seria o seu advogado, porque estaria defendo o seu caso, mas se ele for um bom advogado e perceber que seu cliente, no caso você, estiver faltando com a verdade, ele pode não querer mais te defender.

Pedrinho – é isso mesmo! Mesmo ela sendo menina, ela é minha irmã também, se ela estiver certa, no mínimo que posso fazer é ficar quieto. Mamãe só vai te daria uma bronca mesmo.

Gabriel – você é mó traíra, vai ver só quando precisar de mim.

Paulo – Gabriel, você acha justo alguém pagar por um erro que outra pessoa tenha cometido?

Maria Eduarda – tio explique pra gente o que é ser justo.

Paulo – justa é uma pessoa íntegra, reta, imparcial, que não escolhe um lado por afinidades ou por interesses, por exemplo: um juiz tem que dar a sentença ou o seu parecer, conforme o processo dos advogados, tanto o de defesa como o de acusação, ele tanto pode tanto condenar como absolver o acusado.

Pedrinho – então é por isso que aquela mulher com venda nos olhos é chamada de justiça?

Paulo – Pedrinho, você me surpreendeu agora, como sabe disso?

Pedrinho – é que minha mãe quando assiste o Brasil urgente, ela sempre fala que a justiça é cega, aí eu perguntei quem era essa tal de justiça cega, ai ela me explicou.

Paulo – muito bem, a justiça é assim chamada porque nem sempre a justiça prevalece o lado certo, ainda mais se tratando das leis do nosso país, é por isso que eu quero ser um bom juiz, mas antes disso preciso me formar em direito e prestar muito concurso.

Enquanto as crianças estavam entretidas conversando com Paulo, dona Quitéria arrumava a mesa para o almoço, o senhor Morais, aproveitou para assistir o jogo de vôlei entre Brasil e Polônia.

Dona Quitéria – que lindos! Se eu falar pra mãe de vocês que se comportaram com anjos, ela vai achar que estarei sendo irônica, mas ouvindo a conversa de vocês, o que tenho que acrescentar é que acima de tudo e de qualquer profissão ou cargo publico, você tem que ser um grande homem, ou uma grande mulher.

Pedrinho – xi marquim! Então me ferrei né tio, meu pai é maior baixinho.

Paulo – o que sua avó quis dizer é que para ser um grande homem ou uma grande mulher, temos que ter nosso valor como pessoa.

Maria Eduarda- quais valores seriam tio?

Paulo – são valores que herdamos da educação de nossos pais, ou que já nascemos com eles, às vezes uma criança nasce num lar de pais alcoólatras e sem escrúpulos, as chances de ela ser como os pais são muitos, mas isso não significa que ela não possa ser diferente, tem muitos casos de crianças que nascem em um lar como este e são grandes pessoas de caráter.

Gabriel - tio o que preciso para ser um grande homem?

Paulo – ter caráter, mas é preciso ser sempre uma pessoa verdadeira, procurar sempre falar a verdade, ser justa e sempre procurar que se faça justiça e ser uma pessoa leal, a lealdade é uma coisa muito bonita que vocês vão aprender durante a vida.

Pedrinho- tio, eu não sei o que é lealdade, pode me explicar?

Paulo- claro Pedrinho, um exemplo de lealdade é sua avó, enquanto seu avô ficava seis meses, às vezes até ano longe de casa, ela sempre foi leal a ale, nunca saiu de casa para se divertir nem procurar outro homem, Se precisar contar uma "mentirinha" para a esposa, filhos, etc., a gente conta nada grave, apenas para remediar uma situação que criamos e que não era o momento. Pois bem! Ai começou uma sequência de mentiras que colocam em jogo a nossa honestidade, muitas vezes para com nós mesmos.

Dona Quitéria – crianças o almoço esta na mesa, sei que a conversa aí deve estar boa, mas aproveitem que estão comportados e comam sem fazer bagunça.

Paulo – é isso mesmo, se vocês se comportarem sempre assim, não vou mais achar ruim de vocês verem aqui.

Todos se sentaram à mesa, seu Morais que não era besta, já havia feito seu prato e fugido pra ver o final do jogo. Não demorou muito tempo as crianças estavam jogando macarrão no outro, dona Quitéria não sabia se comia ou se gritava com as crianças, até que Paulo teve uma ideia.

Paulo – meninos, se vocês ficarem quietos, depois de comer, vamos ao meu quarto jogar Playstation.

Todos gritaram – obaaaaaaaaaaaa!

Ficou aquele silencio na mesa, até que seu Morais soltou um pum la na sala.

Dona Quitéria – que é isso Morais, que falta de educação, a gente aqui querendo dar educação pros meninos e você dá uma dessas?

As crianças deram risada.

Senhor Morais – eu não fiz nada, é que deve ter saído gol do Corinthians, soltaram fogos lá na rua.

As crianças almoçaram rapidinho, ansiosas para irem jogar vídeo game.

Paulo – agora vão todos ajudar a vovó a lavar a louça.

Dona Quitéria – Deus me livre, pode deixar que lavo sozinha, pode levar eles pra jogar vídeo game.

Como Paulo prometeu, levou as crianças para jogarem Playstation.

Pedrinho – eu quero jogar winning eleven.

Gabriel – eu também, eu também.

Maria Eduarda – sai fora, eu quero de corrida.

Paulo – ai meu Deus, começou tudo de novo, vocês dois jogam futebol, depois eu e Maria Eduarda vamos jogar de corrida está bem?

Todos concordaram, passaram a tarde jogando, já era quase noite quando Fernanda e Marcão chegaram para pegar as crianças.

Marcão de uniforme e toca da gaviões entrou e cumprimentou os sogros.

Marcão – e aí sogrão beleza? As crianças deram muito trabalho?

Senhor Morais deu uma olhada de cara feia pro genro e disse:

Senhor Morais – pergunta lá pro seu cunhado, ele é que foi a babá hoje.

Marcão e Fernanda entraram no quarto de Paulo e se surpreenderam, estavam todos dormindo embolados na cama, um por cima do outro, Fernanda se emocionou com o que viu e tirou algumas fotos.

Fernanda- eu não disse que meus filhos são uns anjos, ninguém acredita.

Marcão – é, acho que vou ficar um pouco mais com meus filhos, eles estão crescendo rápido, esse negocio de ir todo final de semana pra estádio vai ter que dar um tempo.

Dona Quitéria- É verdade, justiça seja dita, Deus é justo e verdadeiro, ele tarda, mas não falha, só assim pra fazer você ver isso.

Marcão e Fernanda ficaram calados, pegaram as crianças no colo e levou para o carro, Paulo acordou e também ajudou a levar Maria Eduarda ainda dormindo nos braços.

O domingo passou, mas muitos ainda viriam.