QUEM NÃO OUVE CONSELHO DE PAI E MÃE, RARAS VEZES ACERTA.
Chagaspires
Foi uma verdadeira festa quando o nosso pai nos prometeu que iríamos tomar banho de rio.
Morávamos no bairro da Fábrica na antiga Cidade de Camaragibe que, naquela época era município de São Lourenço da Mata, próximo a Recife a Capital de Pernambuco.
O pequeno rio de água doce era represado formando um imenso canal, e a represa ficava na Mata da Companhia Industrial Pernambucana uma Fábrica de tecidos que era dona das terras e casas onde morávamos.
O dia tão esperado finalmente chegou.
Eu e meus dois irmãos vibrávamos de alegria; e com o nosso pai a frente da pequena expedição, saímos em direção da mata.
Nossa mãe Nina havia recomendado que tivéssemos cuidados, pois, segundo ela “Água não tinha cabelo”.
Ao penetrarmos na Mata nossos coraçõezinhos vibravam de tanta curiosidade.
A mata era densa e repleta de altas árvores.
Animais como o sagui, e pássaros de variadas cores, também povoavam o lugar, sem falar nas cobras e lagartos que de vez em quando ouvíamos o chiar sonoro.
O caminho era estreito e escorregadio por conta da umidade.
Nossa avó Maria nos contava muitas estórias, e nossas cabeças estavam povoadas de duendes e seres fantásticos, sem falar no Homem da capa preta que segundo ela pegava as crianças e colocava num saco para depois comê-las.
Porém com nosso pai à frente, nos sentíamos protegidos.
Passamos pelo primeiro Flamengo que era um dos poços onde se tomava banhos, e logo nos deparamos com o tão sonhado local de banhos de homens, onde iríamos ficar.
Já havia algumas pessoas tomando banho.
Os homens ficavam se banhando um pouco além na volta do rio e as crianças num pequeno poço perto do local em que nosso pai decidiu ficar.
Todos despidos começamos então a saborear da tão almejada brincadeira.
Das árvores da margem do rio desciam cipós que caiam sobre as barreiras do entorno de onde os moleques se aproveitavam para se balançarem, e se jogarem dentro do rio.
Foi então que eu resolvi participar da brincadeira.
Manoel Lopes era um garoto um pouco mais velho e que estudava na sala de aula da Escola da Companhia onde nossa mãe era professora; portanto já nos conhecia.
Pedi a ele para saltar e ele me conseguiu um cipó e lá estava eu a balançar.
Num dos saltos no vazio minhas mãos escorregaram por conta do peso e então cai dentro do poço na parte mais funda.
Foi então que me lembrei que não sabia nadar.
Aos poucos fui penetrando na parte mais profunda.
Ao olhar para cima percebi que a claridade ia diminuindo e cada vez mais eu penetrava na parte escura do poço. Logo comecei a beber a água do rio que aos borbotões começavam a me asfixiar.
Lá fora meu pai havia percebido a minha façanha e, mais que depressa veio rio a fora em meu socorro.
Foi quando Manoel Lopes deu um mergulho e me ergueu das águas profundas do rio; colocando-me na margem.
No caminho de volta eu ia cabisbaixo e taciturno.
Foi ai que consegui entender o que minha mãe queria dizer com: “Cuidado Água não tem cabelo”.