Teseu e Minotauro - engarrafamento, festas e brigadeiros

Era uma vez uma menina, que queria ir a festas, sempre que ouvia buzina.

E quando estava no trânsito, só pedia à sua mãe, que queria que queria, ir à festas sem parar.

E a mãe ficava maluca, nervosa, gritava e gritava. Irritada, essa mãe, os cabelos arrancava.

Mas de nada adiantava. Cá tocava uma buzina, já se ouvia da menina:

“Qual é a festa mamãe, que tem antes da junina?”

E quando o trânsito piorava, mais buzinas se escutava, e a menina insistia:

“É hoje a festa da titia?”

E quando nas festas chegava, comia igual minotauro.

Se entupia.

E sua barriga enchia, mas ela ainda assim não parava:

“Mãe, a próxima festa é a festa da tia?”

E a mãe, cada vez mais irritada, ia a todas as festas: dos amigos e amigas, de titios e titias, até às festas nas florestas...

Um dia, o trânsito parou. E a menina então chorou, enquanto tocavam buzinas.

Porque a mãe, muito triste, disse : “Filha, essa é nossa sina; não há mais festas p´ra irmos. Nem de princesas. E nem de bailarinas.”

E a menina chorava. Muito triste, ela gritava. Êta, menina boba. Tão boba que berrava, que não ia ser bondosa, não podia ser feliz, nunca mais seria amiga. Seu sorriso dependia, de entrar na festa seguinte, e se encher de pirulitos, de balas, pastéis, brigadeiros. Tudo o que dá lombriga.

E olhou para fora do carro, e viu um menino bem pobre, mas com um sorriso feliz. Um menino no sinal, com um carrinho de plástico. Ele só tinha um brinquedo. Nem sabia pular elástico.

No vidro, amassou o nariz. E a menina olhava. Olhava e não chorava. E o trânsito piorava. Mas a mãe ficou feliz. E logo falou para a filha: desce e vai brincar com ele.

Ela desceu e perguntou: “Qual é seu nome?”

“Teseu”

“Você já foi a um a festa?”

E o menino respondeu: “Festa? Não, nunca fui. È uma coisa que presta?”

E abriu um riso lindo, de dentes brancos e limpos.

“Nem festa sua?”

“Não... Eu vivo na rua.”

“O que você faz no sinal?”

“Vendo balas, mas faz mal. Eu não como, pois não presta. Engorda, faz ficar feio. Só vendo porque preciso. Um dia quero ir à festa...”

E a menina, envergonhada, lembrou do Minotauro e não falou mais de nada. Ouviu muita buzina, mas nem de festas lembrou. Gostou daquele menino. Cativante do sorriso. Que brincava com um carrinho e vendia no sinal. E enfrentava Minotauros.

Aí o sinal abriu. E o trânsito andou.

E o menino ali ficou, pensando em balas e festas.

E a menina no carro, só queria uma coisa: ir só a mais uma festa, para levar o menino.

A mãe entendeu que o destino, não era bala nem bolo. Suspirou aliviada.

O riso do novo amigo ficou marcado no vidro da memória da menina.

E, desde aquele dia, o trânsito melhorou.

Ruís Ferdinando Falsíssimo
Enviado por Ruís Ferdinando Falsíssimo em 13/04/2013
Código do texto: T4238679
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