Elliot.
Elliot "não era um menino comum". Entendo sua opinião, caro leitor, que está cansado de começar as histórias com essa mesma introdução. Mas prometo que o resto compensará. Elliot não podia comer a maioria das guloseimas inventadas e disponíveis na confeitaria ao lado de sua casa, não podia se esgueirar pelas vielas da cidade e brincar com os meninos de sua idade, não podia sair a noite se estivesse frio. Entenda.. Elliot não era um menino comum. Nasceu prematuro, adquiriu uma doença rara que afetava seu sistema imunológico. Era grave, mas ele tinha que conviver com ela. Quase morrera uma vez, quando saiu para um passeio da escola e comeu, sem saber, um lanche que possuía glúten. Depois disso, passeios na escola foram proibidos. Sua mãe era média e cuidava dele como mais um de seus pacientes. Ele tinha até uma sala especial em casa, no caso de ele precisar ser internado. Elliot não tinha irmãos ou pai. Esse morrerá na guerra, quando ele tinha dois anos de idade.
Sei que parece tudo muito trágico. Mas apesar disso tudo, Elliot não era infeliz.
Ele encontrou nos seus livros, um escape. Possuía uma biblioteca enorme, com diversos livros sobre os mais diversos temas: magia, ficção, história inglesa, mitologia grega. Com sete de anos, ele já havia lido mais livros do que seu primo-grande, João. E ele se orgulhara disso. Era uma das poucas coisas que ele podia usar em seu favor, para se gabar. "Eu tenho uma biblioteca enorme, e você, gosta de ler?"
Um dia, enquanto ele percorria a biblioteca com os olhos sedentos a procura de mais um livro para devorar, deparou-se com um que ele podia jurar que não estava lá antes. Ele era de médio porte, de capa dura e estava com as folhas amareladas. Parecia ser antigo, embora ele nunca o tivesse visto. Curioso, ele o abriu. O que ele viu, é algo que eu não me sinto capaz de descrever. Como descrever uma mistura de emoções que são sentidas apenas por quem vivencia momentos mágicos na vida? Digo, sem medo de errar, que é algo parecido como se formar na faculdade, ser aplaudido de pé, e se sentir útil no mundo.
Elliot, a partir daquele dia, corria todo dia para a biblioteca após as aulas. Esse livro velho se tornou seu livro favorito, e ele o lia todos os dias. Sua mãe, curiosa, um dia perguntou por que ele ainda estava com aquele mesmo livro, se ele costumava ler tão depressa. "É mágico, mãe. Não dá para explicar. Veja!", disse ele eufórico. Sua mãe leu a primeira página, leu a segunda e deu um sorrisinho. "É, parece bom. Venha jantar, não pode passar do seu horário.", ela respondeu, beijando-o.
Ele nada entendeu. Será que seus óculos estavam embaçados, será que ela não leu direito? Como ela poderia achá-lo "bom" se ele merecia, no mínimo, ser classificado como "o melhor livro do mundo"?
O menino, contrariado, pegou o livro de novo e virou as páginas, uma por uma, até que chegou ao final. Ele ainda não tinha terminado de ler, ele fazia questão de ler bem devagarzinho para que se eternizasse dentro dele. Mas leu a última folha, e essa vinha com um pequeno texto escrito a mão, com uma caneta preta escura. "Elliot, queria poder estar ai com você, te abraçando, e dizendo que estou orgulhoso por ter crescido tanto. A vida as vezes não é justa, ela nos leva para caminhos difíceis, mas esses caminhos apenas nos fortalecem e fazem nos tornarmos pessoas grandes. Você era um bebezinho, e imagino que já tenha crescido bastante. Então, tome esse livro e guarde-o com você, quando se sentir pequeno e precisar de alguma ajuda. Tudo que você precisa saber sobre a vida está ai. Escolha seus caminhos com cuidado, e te garanto que será uma pessoa muito feliz. Eu te amo, continue se cuidando. Seu pai."