As flores azuis
Nos grandes espaços do sertão nordestino algumas regiões são castigadas pela falta de chuva. A temperatura fica acima da média normal, o que traz uma sensação de que o aquecimento se espalha pelos rios e plantas e que permanece por lá por todo o dia e, inclusive, uma boa parte da noite.
A casa da menina Jô era conhecida por ter um quintal repleto de cajueiros e carnaúbas. Mais para os arredores das plantas, milhares de pés de capim verde cuidavam de cobrir o solo e de enfeitar o sol com suas flores de carrapichos. Como essas flores são espinhosas, não havia quem passasse por perto que não as visse. Sabia-se que elas gostavam de grudar em roupas e de ferir as pessoas.
Por esse motivo, a menina era proibida de brincar dentro do quintal e, principalmente, debaixo dos cajueiros, local onde eram mais acirradas essas gramíneas. Mas numa manhã de fevereiro, Jô observou outro tipo de planta lançar umas flores pequeninas iluminando o azul do céu e, muito maravilhada, exclamou:
_ Que beleza!
Os pais correram para ver do que se tratava e, ao verem uma planta soltar pequeninas flores azuis em meio ao capim carregado de carrapichos, disseram:
_ Estas são as flores mais lindas da caatinga!
_ Essa planta nasceu aí pela água que escorre da pia da cozinha e deixa o solo molhado, argumentou a mãe da criança.
_ E como são belas as misturas dos tons das pétalas azuis em meio às anteras amarelas! _ ponderou o pai.
Naquele dia, a conversa sempre voltou para a beleza das flores azuis. E a menina, sentou-se à tardinha no batente da porta da cozinha, observando-as de tempos em tempos enquanto costurava à mão um vestido para sua boneca de pano.
De repente, um beija-flor pendurou-se no vento e num contentamento começou a polinizar as flores: tris-tris-tris!
Jô, na tarde azul que tombava para o laranja do pôr do sol, ficou olhando serena o beija-flor com suas asas velozes parado em pleno ar. As flores azuis, nascidas para serem apreciadas, quando o pássaro saiu, receberam como alento os olhos da menina, cheios de riso e alegria.
Então, depois de uns minutos, a menina teve medo, pois se lembrou de que o pai havia dito que iria cortar os pés de capim (seria também cortado o pé das flores azuis?), e foi perguntar-lhe. Ela o encontrou na sala de jantar.
O pai explicou que o homem que iria fazer o serviço teria cuidado para não cortar a planta das flores azuis. Ela o beijou no rosto e muito satisfeita foi lavar as mãos para o jantar.
Quando acordou no dia seguinte, por volta de umas oito horas, suas flores azuis se lançavam sobre um chão limpo feitas crianças que brincavam descalças numa terra bem conhecida. E a menina respirou um ar de quem deseja bom dia ao mundo.