Os amarelinhos
Era uma vez uma mamã galinha, branquinha, que tinha três pintainhos. Amarelinhos e com uma pinta preta na cabeça, distinguiam-se dos outros pintos do galinheiro. Eram muito fofinhos e viviam todos muito felizes, na capoeira da D. Alzira.
Grande alvoroço instala-se todos os dias na capoeira à hora em que a D. Alzira vai alimentar os seus galináceos. Galinhas, pintos, frangas, garnizés e um galo para tomar conta do galinheiro.
D. Alzira virou camponesa, depois de ter trocado a cidade pelo campo, quando se reformou. Mexer na terra, plantar, colher, acordar com o raiar do dia, fazia dela uma mulher feliz e realizada.
Uma manhã, có…có…ró…có …có cantou o galo todo emproado, a despertar os galináceos para um novo dia. E, nesse dia, a mãe galinha apanhou um grande susto, o maior da sua vida.
A galinha branquinha tinha encontrado um saco de milho muito douradinho num canto da capoeira. Com muito esforço, levou o milho para o seu espaço, pensando fazer umas bolachinhas com a ajuda dos filhotes. Mal sabia ela que estava a ser espiada pelo pinto Silvestre, que esfregava as mãos de contente com a brilhante ideia que tinha tido.
Silvestre era um dos pintos, quase frango, do galinheiro. Muito amarelo, era muito vaidoso e refilão, ninguém na capoeira gostava dele pelo seu comportamento conflituoso.
A mamã galinha recomendou aos filhinhos que não saírem dali nem falassem com ninguém enquanto ia dar dois dedos de conversa com a comadre, a galinha castanha, e, quando voltasse, iriam fazer as bolachinhas.
- Vai descansada, mãe! Ficamos aqui a brincar. Somos bem comportados. Disseram os três em uníssono.
O pinto Silvestre, mal viu a galinha a falar com a comadre, correu para o lugar onde viviam os pintainhos com a pinta preta na cabeça.
- Olá, posso brincar com vocês?
- Volta cá mais tarde, disse um dos pintainhos lembrando-se da recomendação da mãe para não falarem com estranhos.
- Sabias que podemos sair daqui com facilidade? A rede tem um buraco. Até podemos conhecer o mundo do outro lado!
Silvestre tanto espicaçou a curiosidade do pinto que este acabou por aceitar ir com ele, embora dizendo que não se podiam demorar, não fosse a mãe voltar.
Quando a mãe chamou os filhotes para fazerem as bolachinhas, só dois pintainhos apareceram ao chamamento da mãe.
- Onde está o vosso irmão? Os dois pintos responderam que não sabiam. - Não saiam daqui que eu vou à procura dele. A galinha correu o galinheiro todo, cacarejando desesperadamente, mas nada, nem vestígios do filho.
Um coelhinho malhado, que vivia numa toca do quintal da D. Alzira, todos os dias corria e saltava, tic…tic…tic…, em direção à plantação de cenouras. Estava ele sentado a comer gulosamente uma grande cenoura, quando ouviu um som aflitivo. De mansinho aproximou-se e qual o seu espanto quando viu no meio das cenouras um pintainho a piar…piu …piu…piu... O coelho rapidamente roeu a corda que prendia as patinhas do pequeno galináceo, perguntando:
- Quem te prendeu aqui, pintainho fofo?
O pintainho amarelinho, quase sem forças, mal conseguia falar e muito baixinho respondeu:
- Foi o pinto Silvestre que me enganou, prometeu-me mostrar o mundo e deixou-me aqui preso. Ele é muito mau e mentiroso. Eu quero a minha mãe e os meus irmãos! Por favor, leva-me até eles, suplicava chorando.
O coelho ofereceu-lhe o seu lombo como transporte e lá foram eles para a capoeira.
Silvestre, depois de ter deixado o pintainho no meio das cenouras, correu para a capoeira, mas, de repente, vê uma lata com tinta preta e com muita habilidade faz uma pinta preta igual à dos outros pintos.
Radiante, entrou no espaço da galinha branquinha e, timidamente, aproximou-se. A galinha branquinha deu pela sua presença, mas nem se virou.
- Depois falamos! Disse a mãe com cara de poucos amigos. Agora vem ajudar a fazer as bolachinhas.
O pintainho desaparecido, mal viu a mãe e os irmãos, saltou do lombo do coelho e correu para a sua família.
- Adeus coelhinho, obrigada!
- Estou aqui mãezinha, desculpa, desculpa, disse o pintainho correndo para galinha branquinha.
Mas a galinha afastou o pintainho e docemente disse-lhe:
- Estás enganado, meu fofinho, eu tenho aqui os meus três filhos, apontando para os três pintainhos com a pinta preta na cabeça.
- Não, eu é que sou o teu filho, um deles é o pinto Silvestre, ele prometeu-me mostrar o mundo lá fora e enganou-me, chorava o pintainho sem parar.
De repente, a D. Alzira deitou um balde de água no terraço com tanta força que atingiu um dos pintainhos. O pintainho ficou todo ensopado e uma tinta preta escorreu-lhe pela cabeça abaixo. A galinha percebeu o que tinha acontecido e acolheu com alegria o seu próprio filho, enquanto Silvestre, ao ser descoberto, fugiu a gritar: - Eu só queria fazer bolachinhas!
Silvestre não era mau. Portava-se mal, porque era órfão, não tinha mãe nem irmãos, nenhuma família que o compreendesse, o abraçasse e falasse com ele. De maneira que sentou-se num canto escuro, encolhido, e começou a chorar de solidão. Uma galinha velhinha, que ia a passar, condoeu-se de Silvestre e ofereceu-se para ser sua avó.
O pequeno Silvestre aceitou com alegria. Pulando e rindo de felicidade, foi pedir perdão à galinha branquinha e aos seus filhos e prometeu nunca mais fazer maldades.
Na capoeira da D. Alzira reina agora a paz e a alegria e, de vez em quando, os três pintainhos amarelinhos com uma pinta preta na cabeça convidam o Silvestre para brincar e fazer bolachinhas de milho.