As acerolas
Kiko era um menino muito querido na rua onde morava. Tinha os olhos dum castanho claro e que sorriam para todos com um brilho incontrolável de quem gosta de ouvir os mais velhos e de brincar nas águas do rio. Ele até desejaria morar numa casa com o cercado indo até o rio como era o caso de Seu Nino. Talvez por isso fosse todos os domingos passar o dia com esse senhor Ora, Seu Nino tinha uns sessenta anos e morava apenas com uma neta de quinze anos. E da casa de Nino até a residência de Seu Nino eram tão somente cinco minutos de bicicleta, coisa simples para um menino de oito anos e, numa manhã de março, logo que chegou da missa dominical, pedalou às pressas para a casa de Seu Nino.
_ Bom dia, Seu Nino! _ falou o menino quando chegou.
_Bom dia, Kiko! Hoje é um dia que o sol nasceu com vontade de brincar... Veja como ele vai de alto a baixo das árvores sem cansar _ Disse ele a Kiko gesticulando como se falasse de algumas memórias dessas de criança que têm um jeito particular de brincar.
_ Então, é preciso atender ao chamado do sol e, assim, vou logo para o rio tomar um banho e me divertir com meus amigos.
Feitas as despedidas, Kiko saiu. E banhou por uma hora, com mergulhos e pulos e nadava com facilidade pelas águas rasas; só não se lembrou de levar um lanche. Mergulho daqui, mergulho dali, e a fome chegou.
Dois dos meninos, vizinhos de Seu Nino, iniciaram esta conversa:
_ Acho que devíamos ir pegar umas acerolas na casa de Seu Pedro. _ Disse um deles com voz baixa, com medo da crítica do outro.
_ Isso mesmo afinal elas estão lá caindo pelo chão... e Seu Pedro nem gosta de acerolas . _ Falou o outro com esperanças de que os outros meninos também concordassem.
Na verdade, os meninos não eram de se meter em confusão, nem de andar roubando frutas ou outra coisa qualquer. Mas unidos e com uma boa proposta de traquinagem esqueciam-se do que é certo e do errado; julgando-se que eles lançariam mãos apenas de frutas para comer e de que os vizinhos saberiam certamente que foram eles os autores do furto das acerolas.
Ah! as aceroleiras estavam carregadas de frutos maduros. E pelos galhos, flores pequeninas de tons variando do branco a um rosa quase lilás eram requisitas por abelhas e borboletas. Com efeito, os meninos ficaram quietos sem se mexer, observando. Não disseram palavra, não pegaram os frutos coisa alguma. Apenas um deles disse com ar de quem se cansou:
_Vou é embora para casa almoçar.
Se algum quis protestar não se ouviu. Todos foram saindo do cercado de Seu Pedro e provavelmente, não sentiram vontade de furtar uma acerola que fosse.
Numa manhã assim, se confirma que criança é uma benção do céu. Sai para brincar, quer malinar e acaba se encontrando com o mistério da vida. Mas e Kiko? Ele tinha a expressão mais angelical quando contou a Seu Nino que não podiam pegar as acerolas quando as abelhas e borboletas estavam que nem o sol no quintal: voavam de cima a baixo numa festa pelas flores!
E foi nesse dia que Kiko decidiu ser engenheiro-agrônomo. E acabou se apaixonando por plantas e plantas...