O gato da praça
Era uma noite de trovões e relâmpagos. O gato encolheu o corpo e se deitou por baixo de um dos bancos da praça. Estava inquieto e olhava a tudo com estranheza como se existissem pisadas de alguém desconhecido dentro da escuridão. Puxou as patinhas dianteiras para perto da cabeça e as usou como travesseiro – tinham um calorzinho tão bom de quem abraça um cobertor macio e cheiroso. Isso o aquietou por um instante rápido.
Ficou em silêncio. Apenas o cair de uma chuva tímida a principio, mas que ganhou força com um vento frio, em rajadas de folhas secas da árvore na frente da igreja. “Que frio! Miau, miau!... Como dói sentir este vento nos pelos... dentro dos ossinhos!” E se encolheu ainda mais, por sobre todas as patas.
O sino da igreja bateu num ritmo apressado. O som se movia por entre os galhos num profundo gemido: tsk-tss-tss!
Ouviu vozes de pessoas... Vinham abafadas pelo som da chuva. Teria se enganado? Não, não. Mas queria ter certeza... Viu-se arrastando as patas no meio da chuva. Queria correr. Respirou com coragem, com os pelos recebendo a água fria da chuva.
_ Vai ter gente! – dizia a se mesmo – Ai, quero um lugarzinho quente para dormir!...
Já tinha entrado na igreja antes, mas ela nunca lhe parecera mais aconchegante que naquela hora. Que bom! E como falavam as duas mulheres...! Por que não fechavam logo aquela porta e ficavam quietas?
Observou o ambiente. Caminhou silencioso. As patas não produziam ruído. Quis explodir numa alegria quando viu o confessionário entreaberto. Um lugar gostoso de dormir! Subiu na cadeira. Moveu a cabeça observando. Então, alisou as patas com a língua, ajeitou a cabeça e deitou o corpo mansamente no estofado.
Abafou um ronronar e fez uma cara de sossego. A porta da igreja se fechou e o som das pisadas das mulheres se misturou com o vento lá fora.