INDAGAÇÃO DE UM AMOR PUERIL
Flavia Costa

Aninha e Felipinho, vizinhos em um bairro de Belo Horizonte, eram namorados desde os primeiros dias de vida da menina. O namoro teve início assim que a garota saiu da maternidade. O menino e a mãe foram até a casa de Aninha conhecê-la e Felipinho, na época com sete anos, ficou encantando com aquela menininha de cabelos pretos, pele clara e olhos de tons azulados de uma íris ainda em pigmentação.

O garoto pediu para segurá-la no colo. Era a primeira vez que tinha contato tão próximo com um bebê. Maravilhado com aquele ser tão pequeno em seus braços virou-se para a mãe e disse:

- Ela é tão bonitinha!

A mãe, notando a felicidade do filho, disse que realmente Aninha era uma gracinha e que seria sua amiguinha. O menino fez cara de quem não gostou da sugestão, mas logo em seguida com um sorriso nos lábios decretou:

- A Aninha não é minha amiguinha, ela vai ser minha namorada.

As duas mães começaram a rir da afirmação do garoto, e a mãe de Aninha para não contrariar o pretendente infantil concordou:

- Tudo bem Felipinho, Aninha será sua namorada.

Entusiasmado pelo consentimento, Felipinho beijou pela primeira vez a bochecha de Aninha, a garotinha linda que agora era sua namorada.

Aninha, um bebê recém-nascido, não fazia ideia do que representava ser a namorada de alguém, mas à medida que os meses se passavam podia sentir o amor do menino por ela. Felipinho era perfeito. Afinal, que garotinha não gostaria de um namorado que carrega no colo, dá beijo na bochecha, faz cócegas na barriga, brinca de esconde-esconde e pega-pega e ainda empurra o velotrol. Aninha tinha mesmo muita sorte.

E claro, ela retribuía os carinhos de Felipinho. Sempre que se encontravam a menina sorria para ele, mandava beijo, beijava-o na bochecha e passava delicadamente as mãos em seus cabelos. Era um relacionamento com muitas gargalhadas, ternura e amor.

Tudo mudou em uma manhã de junho. Aninha tinha cerca de dois anos e meio e estava em casa brincando com um jogo de montar quando ouviu a voz da mãe de Felipinho. A menina saiu correndo pensando que o namoradinho tinha ido visitá-la, mas decepcionou-se ao perceber que a mulher vinha sozinha. Rapidamente esqueceu a tristeza e voltou a brincar enquanto a mãe conversava com a visita. Aninha estava envolvida na brincadeira, mas como toda criança captava também trechos do diálogo das duas mulheres. Foi quando ouviu a mãe do menino dizer que Felipinho iria dançar quadrilha na escola. Instantaneamente, Aninha parou de brincar para prestar atenção à conversa, mas a mulher já estava se despedindo e indo embora.

Mesmo naquela idade a frase perturbou a menina. Felipinho não tinha ido com a mãe até sua casa e ela ouvira aquela conversa que ele iria dançar quadrilha. Aninha ainda era muito criança para entender sobre esses assuntos, mas sabia que dançar quadrilha na escola significava deixá-la de lado. Aos olhos infantis de Aninha, Felipinho estava substituindo-a. Enciumada, indagava-se quem seria essa menina com a qual ele iria dançar.

À tarde, Aninha e a mãe encontraram Felipinho na rua quando o garoto voltava da escola. Aninha estava triste desde a visita da mãe do menino naquela manhã. Não brincava nem sorria. Quando Felipinho aproximou-se, a mãe de Aninha pensou que o garoto pudesse animar a menina, entretanto, pela primeira vez a garota virou a cara para ele. Não teve jeito, por mais que tentasse Felipinho não conseguiu nem um sorriso de Aninha. A atitude da filha fez com que a mãe ficasse um pouco preocupada.

À noite, Aninha ainda estava amuada. Não saia de sua cabecinha a frase da mãe do garoto que dizia que Felipinho iria dançar quadrilha. A mãe de Aninha, apreensiva, e sem saber sobre os pensamentos enciumados de sua menininha, olhou a garganta, mediu a temperatura e não encontrou nada que justificasse o temperamento da filha. Mas comentou com o marido que se no outro dia a garota ainda estivesse tristinha iria levá-la ao médico.

Antes de colocar a filha para dormir, a mãe ainda massageou o corpinho da criança buscando algo anormal ou alguma queixa de dor. Aninha nem prestava atenção no que a mãe fazia, com olhos distantes, só pensava em Felipinho dançando quadrilha. Terminada a massagem, a mãe cobriu a menina e deu-lhe um beijo de boa noite. Virou-se de costas e, no momento que iria apagar a luz do quarto, escutou a filha chamando. Então, retornou ao berço e debruçou-se para saber o que estava acontecendo. Aninha com os olhos marejados e não se contendo de curiosidade e ciúme perguntou:

- Mamãe quem é a Drilha?